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Pastora sabia que filhos eram abusados, diz juiz que determinou prisão

Pastora sabia que filhos eram abusados, diz juiz que determinou prisão

Decisão do juiz André Dadalto, da 1ª Vara Criminal de Linhares, aponta que Juliana Salles tinha conhecimento que os filhos, Kauã e Joaquim, eram vítimas de estupros

Publicado em 21 de junho de 2018 às 02:32

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As descobertas surgiram após perícia no celular do pastor George Alves e de Juliana. (Marcelo Prest | AG)

A decisão judicial que determinou a prisão preventiva da pastora Juliana Salles traz novas revelações sobre um dos casos policiais mais chocantes do Espírito Santo. De acordo com as investigações, a pastora tinha conhecimento de outros abusos sexuais sofridos pelos filhos e nada fez para pôr fim às agressões.

As descobertas surgiram após perícia no celular do pastor George Alves e de Juliana, onde peritos chegaram a encontrar troca de fotos das crianças machucadas.

Num dos episódios narrados na decisão, o magistrado afirma que “Juliana tinha conhecimento dos supostos abusos sexuais sofridos pelos seus filhos e vítimas, tanto que em uma conversa entre os acusados (ela e o marido), a vítima Kauã, 6, reagiu emocionalmente após ter sofrido ‘maldades’ por parte de dois ‘caras’ na piscina, entretanto, eles não tomaram qualquer medida ou providência em relação ao ocorrido”.

Numa decisão de quatro páginas, o juiz André Dadalto cita que Juliana sabia dos desvios de caráter do marido “a iniciar pela diferença de tratamento entre os filhos do casal e o enteado, inclusive que deixava faltar alimento, medicamento e atendimento médicos a elas”.

De acordo a decisão judicial, a pastora “tinha ciência do comportamento sexual incompatível com a pregação” do marido, “já que em troca de mensagens a mesma dizia ter ‘nojo’ e ele dizia se sentir ‘imundo’ e um ‘lixo’ por seus comportamentos”.

ABUSOS ANTERIORES

A decisão judicial diz ainda que os irmãos Kauã e Joaquim, 3, já haviam relatado na escola os abusos sexuais sofridos. “A vítima Kauã em certas ocasiões chorava desesperadamente, mas alegava aos seus professores que não podia relatar a motivação.”

A narrativa prossegue afirmando que “Joaquim, também na escola, relatava que sofria abusos sexuais, quando então os acusados lá compareceram no estabelecimento de ensino afirmando que os abusos não eram praticados no âmbito doméstico e familiar”. Segundo as investigações, o casal tentava direcionar a culpa das agressões ao menino para outra criança de 5 anos de idade.

Outra revelação contida na decisão torna o caso ainda mais estarrecedor. Após a morte dos irmãos, o casal esteve junto na casa para alterar a cena do crime e “jogaram objetos no quarto das crianças e retiraram quase todos os objetos da mesma, inclusive lençóis e demais roupas de cama, entregando-os a terceiros para serem lavados”.

A investigação aponta que mesmo conhecendo todo o histórico de George, a esposa o apoiava em seus propósitos “em ascender na igreja, angariando fiéis e assim qualidade de vida financeira até então não experimentada por eles”.

Em outro trecho da decisão consta que “o pastor George em parceria com a pastora Juliana buscava uma ascensão religiosa e aumento expressivo de arrecadação de valores por fiéis e, para esta finalidade, ceifou a vida dos menores Kauã e Joaquim para se utilizar da tragédia em seu favor”.

CONTRADIÇÃO

O juiz André Dadalto fez questão de ressaltar que os depoimentos prestados por Juliana são contraditórios com os laudos e relatórios feitos nos telefones dela e do marido. Nos depoimentos à polícia, ele (George) dizia ser um bom pai e ter relação harmoniosa com a família, “o que não se coaduna com as mensagens trocadas por eles, que demonstram que tinha uma relacionamento conturbado e um desprezo de George pelas crianças”, nas palavras do magistrado.

Ainda de acordo com o juiz, que baseou sua decisão nos relatos do Ministério Público do Estado, Juliana demonstrou tranquilidade diante de conversas que teve com sua mãe, onde “relata que dormiu bem após o ocorrido”.

Numa outra mensagem enviada ao marido quando ele foi intimado a prestar depoimento Juliana diz: “Eu não estou preparada para dar errado”, assim como afirmou, em conversa com pastores, demonstrando nervosismo, que “não sei se vou conseguir ser forte até o final”.

DEFESA AFIRMA QUE PASTORA NÃO ESTAVA FORAGIDA

Os advogados de defesa que representam o pastor Georgeval Alves e também a esposa dele, a pastora Juliana Salles, que foi presa na cidade de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, na noite de terça-feira (19), disseram que ela não estava foragida ou escondida. “A defesa informa que, ao contrário das informações que estão sendo veiculadas, Juliana não se encontrava foragida ou escondida, uma vez que a mesma sequer era investigada ou tida como suspeita da morte dos filhos, conforme concluiu a própria investigação da Polícia Civil de Linhares”, afirmaram os advogados, em comunicado enviado à imprensa.

Segundo a defesa, a pastora estava em Teófilo Otoni para acompanhamento médico e psiquiátrico em virtude dos fatos ocorridos, uma vez que vinha sendo ameaçada de morte na cidade de Linhares, o que a impedia de se locomover até mesmo para ir ao médico. “Na cidade de Teófilo Otoni, a mesma também estava sendo acompanhada por seus pastores e sendo cuidada por eles, inclusive frequentando cultos, o que afasta qualquer versão de que a mesma tivesse o animus (vontade) de se esconder ou fugir”, diz a nota da defesa.

A pastora é mãe dos irmãos Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos, e Joaquim Alves, de 3 anos que morreram carbonizados no dia 21 de abril, na casa onde eles moravam, no Centro de Linhares.

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Juliana foi presa na casa de um dos pastores da Igreja Vida e Paz, onde estava com o filho de 2 anos. Questionado sobre as acusações que pesam sobre a pastora, o advogado Helbert Gonçalves, informou que a defesa ainda não teve acesso às informações. “Não tivemos acesso ainda... Tão logo tenhamos, iremos nos manifestar. Não esperávamos nada contra a Juliana. Ela não era investigada, acusada ou outra coisa parecida. Ela nem estava na cidade no dia dos fatos", disse

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