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Por dia, 28 mulheres pedem socorro à Justiça contra agressores no ES

Por dia, 28 mulheres pedem socorro à Justiça contra agressores no ES

Segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), somente este ano, até o dia 21 de maio, 3.960 pedidos foram registrados

Publicado em 7 de junho de 2018 às 01:14

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(Carlos Alberto Silva - NA)

Por dia, 28 mulheres que sofrem violência doméstica pedem o apoio da Medida Protetiva de Urgência da Lei Maria da Penha em todo o Estado. Segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), somente este ano, até o dia 21 de maio, 3.960 pedidos foram registrados.

Em todo ano de 2017 foram 9.412 pedidos de medida protetiva no Estado. E, atualmente, há 20.613 processos em tramitação.

Desde abril deste ano, uma alteração na Lei Maria da Penha tornou crime o descumprimento das medidas protetivas. O agressor que não respeitar a ordem de não manter contato com a vítima pode ficar preso de 3 meses a 2 anos.

Uma das mulheres que pediram ajuda foi a cantora Taiana França, 25 anos, que denunciou ser ameaçada e agredida pelo marido, o empresário do ramo portuário Adriano Scopel, de 39 anos. O acusado nega todas as acusações e afirma que nunca agrediu Taiana.

De acordo com a cantora, ela sofreu violência verbal, psicológica, física e patrimonial durante a maior parte do relacionamento. O casal estava casado há dez meses, mas namoravam há cerca de três anos e meio.

A vítima conta que não teve coragem de denunciar antes por medo das ameaças de morte que recebia do acusado. Ela contou também que a violência sofrida tinha um ciclo.

“Primeiro ele me humilhava e me batia. Depois ele dizia que não lembrava, que estava bêbado. Outras vezes, ele pedia desculpas, chorava e dizia que eu precisava ajudá-lo. Eu sou uma pessoa de muita fé e acredito na mudança das pessoas. Acredito no amor e acreditava no Adriano. Tentei ajudá-lo levando para a igreja. Ele prometia que ia mudar, mas depois me batia de novo”, conta.

Após a última agressão, na noite de 26 de maio, Taiana tomou coragem para denunciar. Segundo a denúncia da cantora, ela foi xingada, agredida e expulsa, sendo puxada pelos cabelos, durante uma festa que ela organizou na residência onde o casal vivia, na Mata da Praia, em Vitória.

Ela conta que a agressão começou após um dos convidados dizer que ela parecia uma menina brincando com os adolescentes, deixando Adriano nervoso. Cerca de 30 pessoas teriam presenciado a violência. No dia 28 ela registrou uma ocorrência e conseguiu uma Medida Protetiva de Urgência concedida pela Justiça do Estado.

Segundo o advogado de Taiana, Flávio Fabiano, a medida exigiu o afastamento de Adriano do lar conjugal, proibição de aproximação de Taiana no limite de 300 metros, além de proibição de contato com a vítima por qualquer meio comunicação, sob pena de prisão cautelar. Porém, a cantora não quis ficar na residência, que pertence à família Scopel.

A medida ainda determina a intimação de Adriano para comparecer ao Grupo de Acolhimento e Orientação aos Homens em Situação de Violência Doméstica.

“Tive informações de que na tarde de hoje (ontem) o Adriano Scopel convocou vários convidados que testemunharam as agressões na festa do dia 26 de maio. Ele quer fazer com que as pessoas confirmem a versão dele de que não houve agressão. Mas isso não me preocupa. Havia várias pessoas na festa e tenho certeza muitas delas vão ficar do lado da verdade”, contou o advogado.

O advogado completou que sua cliente, Taiana, está impressionada com o apoio que tem recebido de diversos conhecidos que já sabiam a realidade das agressões. “Ela também tem recebido mensagens de outras vítimas de violência doméstica”, disse.

OUTRO LADO

O advogado Marco Antonio Barreto, que defende o empresário Adriano Scopel, de 39 anos, negou que seu cliente tenha agredido a cantora Taiana França, de 25 anos, durante a relação do casal, que durou cerca de três anos e meio.

Procurado, ele afirmou por nota que em relação as notícias veiculadas recentemente por meio da mídia local e nacional, Adriano reitera sua inocência.

“Adriano reitera que não praticou, em qualquer tempo, qualquer tipo de agressão contra a sua ex-mulher, e tampouco a ameaçou. Nesse sentido, irá se reservar ao direito de comprovar a verdade dos fatos ocorridos no dia 26 de maio de 2018 no curso das investigações”, disse.

O advogado completou que Adriano irá colaborar com as investigações para que o caso seja solucionado o mais rápido possível.

Na última terça-feira (5), quando Taiana tornou pública a denúncia que fez contra o marido, o advogado levantou questionamentos acerca das marcas no corpo da cantora, chamando de “mentiroso espancamento”.

“No que diz respeito ao mentiroso ‘espancamento’ do qual ela teria sido vítima, no dia 26 de maio, verifica-se que essa acusação, além de tudo é contraditória, na medida em que a própria polícia afirmou que ela ‘não apresentava lesões no instante do atendimento deste BU’ (Boletim Unificado)”

Ainda sobre os fatos narrados por Taiana, a nota do advogado as classifica como mentirosas e injustas.

“Adriano informa que adotará as medidas judiciais cabíveis para demonstrar a injustiça feita contra sua pessoa e, finalmente, lamenta a intensa exposição do assunto pela imprensa, mas confia que a verdade prevalecerá sobre essas infundadas acusações”, completou o texto do advogado na ocasião.

TESTEMUNHAS SERÃO OUVIDAS PELA POLÍCIA

Testemunhas que teriam presenciado a agressão contra a cantora Taiana França já foram intimadas pela Polícia Civil. O caso chegou à Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) de Vitória na última segunda-feira (4), onde foi instaurado inquérito policial para apurar os fatos.

A delegada titular da Deam, Juliana Saadeh, foi procurada pela equipe de reportagem, porém, não foi autorizada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) a falar sobre o caso. Por nota, a Polícia Civil informou que não passará informações até a conclusão do inquérito policial que apura os fatos envolvendo o casal. A polícia não confirmou se o empresário Adriano Scopel, acusado das agressões, já foi intimado.

OPINIÃO DA GAZETA

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É assustador que diariamente 28 mulheres procurem a Justiça para garantir a própria proteção por estarem expostas a agressões físicas e psicológicas. É chocante e comprova que há uma verdadeira epidemia de violência contra a mulher. Mas também é uma reação: as mulheres estão se calando cada vez menos. É preciso coragem para denunciar um marido, um namorado, um pai, um irmão... A violência doméstica sempre foi estigmatizada, mas mulheres estão tendo mais acesso à informação e tomando posse de seus direitos, independentemente de quão próximo seja o agressor. A lição que fica é que não é vergonha pedir socorro antes que o pior aconteça. O silêncio não pode vencer.

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