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'Vi ela deitada e entrei em desespero', conta namorada de Thalita

"Vi ela deitada e entrei em desespero", conta namorada de Thalita

Mari Abreu iria se encontrar com Thalita do Carmo Pereira do lado de fora da boate quando a jovem foi morta

Publicado em 19 de agosto de 2018 às 22:03

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Thalita Carmo, jovem morta por PM, em boate na Serra. (Reprodução/Facebook)

"Pra mim é um alívio. Me julguem. A jovem que morreu era minha namorada, inocente, vítima de uma bala perdida, atirada por um policial problemático que com certeza não tinha capacidade de carregar a farda que usava". A frase foi postada no Facebook por Mari Abreu, namorada de Thalita do Carmo Pereira, 19, que morreu na madrugada de sábado (18), vítima de um tiro realizado pelo policial Patrick Ramos Guariz, 26. 

"Ela tinha apenas 19 anos, uma vida pela frente. A família dele vai sofrer? Vai sim, mas por consequência dos atos dele. Nós não estamos sofrendo por consequência da Thalita. Enfim, a justiça foi feita, não da forma certa. Mas pelo menos foi feita", completou Mari, na postagem feita nos comentários da publicação do Gazeta Online sobre a notícia da morte do PM.

O desabafo foi feito logo no momento em que ela descobriu que o assassino de sua namorada foi encontrado morto, num sítio, em Guarapari. Em conversa com o Gazeta Online, Mari disse que teve acesso à informação assim que chegou do enterro de Thalita, no meio da tarde deste domingo (19).

O comentário gerou bastante repercussão. Quase quatro horas após a publicação, a postagem tinha mais de 361 reações entre curtidas, corações e emoji triste.

"Tinha muita gente julgando a Thalita. Outros comentários julgaram porque eu falei que era uma alívio. É um alívio não por ser uma morte, mas porque não é a primeira vez que ele fez isso. Imagina que poderia ter sido pior. Ele poderia ter atingido mais pessoas na boate", comenta a jovem, que trabalha na boate em que a namorada foi morta.

"Não vou ser hipócrita, mas ele tirou a vida de uma pessoa inocente, sem motivo nenhum. É difícil tudo isso porque ela (Thalita) não merecia isso, entende. Nem ela, nem o segurança, que estava fazendo o serviço dele", completou ela, chorando ao telefone.

Confira abaixo a entrevista com Mari Abreu

Mari Abreu, namorada de Thalita do Carmo Pereira. (Reprodução/Facebook)

Como era a Thalita?

Ela cuidava da irmã, de 10 meses, para a mãe trabalhar e me ajudava com divulgação da boate. Ela era uma pessoa muito doce, muito companheira, estava construindo o futuro dela.

Estavam há quanto tempo juntas?

Estávamos namorando há dois meses. Conheci a mãe dela primeiro, que é minha cabeleireira, e depois a conheci.

Como foi o enterro?

Tinha muita gente, desde o pessoal da igreja, os amigos, a família, os colegas que também divulgavam a boate com ela. A Thalita era muito querida.

Você estava com ela quando foi morta?

Eu estava na boate e escutei o disparo. Ela estava na minha casa. Lembro que, no mesmo dia, ela foi me levar uma surpresa, me levou um buque de rosas e três cartas, dormiu comigo, acordou e fez almoço pra mim.

E como aconteceu?

Eu sempre ia para a boate trabalhar e ela nunca ia à noite, ela me esperava em casa. Mas, desta vez, umas amigas insistiram para ela ir, pois seria a primeira vez delas lá. A Thalita pediu pra colocar o nome na lista. Na hora que aconteceu tudo, ela falou que ia lá pra fora me esperar. Eu falei: 'Tá bom, vai fechando sua comanda que vou ao banheiro'. Quando entrei no banheiro, eu escutei os disparos e meus amigos falaram que a Thalita testava lá fora. Eu entrei em desespero porque ela já tinha sido vitima de bala perdida há um ano. Ela levou seis tiros na perna. Eu saí pela porta dos funcionários, puxei a porta e vi ela deitada. Ai entrei em desespero. Queria ir lá, mas o segurança me agarrou e me tirou de lá. Me falaram que ela estava bem, não me disseram que ela morreu na hora.

Como recebeu a noticia que ela estava morta?

Me trouxeram para a casa da minha mãe e fiquei sabendo lá que a Thalita tinha morrido. Não me deixaram vê-la, nem fazer nada. Eu achei que ela tinha sido levada para o hospital. Mas, quando estava na casa da minha mãe, amigos e parentes, que não sabiam da nossa relação, enviaram a mensagem perguntando se eu era a menina da boate, preocupados pois a menina tinha morrido na hora. Em seguida, mandaram fotos dela toda ensanguentada. Eu não era assumida para minha família, só a família dela sabia. Mas quando soube que ela tinha morrido, eu comecei a gritar que ela era minha namorada.

Recebeu a noticia de que o policial teria se suicidado?

Recebi quando tinha acabado de chegar do enterro. Fiz até um comentário na página do Gazeta Online pois tinha muita gente julgando a Thalita e julgando porque eu falei que era um alívio. É um alívio não por ser uma morte, mas porque não é a primeira vez que ele fez isso. Não vou ser hipócrita, mas ele tirou a vida de uma pessoa inocente, sem motivo nenhum. É dificil tudo isso porque ela (Thalita) não merecia isso, entende. Nem ela, nem o segurança, que estava fazendo o serviço dele. Após às 4h, não entra mais ninguém na boate. Todo mundo começa a fechar as comandas e a sair. Ele queria entrar de novo e o segurança falou que não podia. Ele deu cinco tiros, quatro no segurança e um na Thalita. Ela estava entregando a comanda para o segurança. Uma hora ela estava lá em casa, em outra hora na boate e noutra ela ia me esperar para a gente ir embora. Não dá para acreditar

E como será daqui para frente?

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Não sei como será minha vida agora. Ela era meu suporte. Acho que vou procurar um psicólogo e me tratar porque eu vi tudo. Pior foi ver ela falando comigo, ir no banheiro e escutar o tiro para, em seguida, ver ela morta. Não tiro essa imagem da minha cabeça o que me faz sentir culpada. É difícil.

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