Os dias passam com um misto de saudade e indignação para a família do estudante Victor Gabriel Abílio Florentino, 14 anos, assassinado a tiros no dia 26 de agosto deste ano, em Andorinhas, Vitória. Já são 30 dias desde que o garoto foi morto com quatro tiros no bairro quando jogava bola com colegas, ao final da tarde de um domingo.
O cemitério tem sido a minha segunda casa desde a morte covarde do meu menino, lembrou o tio-pai como Victor chamava carinhosamente o tio, um cobrador de 39 anos, que criou o menino desde um ano de idade.
A morte do menino foi o marco de uma guerra entre traficantes do bairros Andorinhas, com apoio de Santa Martha onde Victor morava com a facção de Itararé, que recebe auxílio dos criminosos do Bairro da Penha. Depois disso, na mesma semana, outros ataques aconteceram, um adolescente foi ferido, um carro baleado e escolas fechadas devido à violência. No início de setembro, mais tiros em meio a praça de Itararé. Além do aniversário de morte, a semana também foi marcada pela data de nascimento de Victor, que no último dia 20 teria completado 15 anos.
Ele teria presente, bolo e torta como a gente comemorava. Mas esse ano eu visitei o cemitério, li cartas de saudade que os colegas dele escreveram, contou o cobrador, que criou Victor junto da mãe, de 56 anos.
A falta de justiça para quem tirou a vida do estudante Victor é outro sentimento que deixa a família ainda mais revoltada. Preciso saber por que fizeram isso. Imaginam a dor que a gente sente? Não mataram apenas o meu menino, mataram a mim e a minha mãe.
Ao ser questionada se algum suspeito foi preso ou mesmo algum mandando de prisão foi expedido contra autores do crime, a Polícia Civil informou, por meio de nota padrão, que o caso segue sob investigação da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória.
Outras informações ainda não serão passadas para não atrapalhar a apuração. Denúncias podem ser feitas por meio do Disque-Denúncia 181 . O sigilo e anonimato são garantidos.
VIDA
Uma semana antes, ele estava tendo aceleração dos batimentos. Ele dizia pra minha mãe não posso morrer não, vó. E na semana seguinte, ele foi morto. Meu menino estava começando a se cuidar, passar perfume, as meninas atrás dele, era uma nova fase da vida dele.
MORTE
Victor andava de bicicleta, tinha jogado bola, quando tiraram a vida dele. Ele ia pra casa para ir pra escola no outro dia. Um tiro na cabeça, dois nas costas, um deles que atingiu o pulmão, e outro na perna. Fomos avisados por pessoas do bairro, todos conheciam a gente. Meu menino estava com vida ainda quando foi levado pelos policiais militares para o hospital e que o deixaram lá. Recordo do médico me dando a notícia da morte dele. Foi a pior sensação que já tive.
UM MÊS
Tem sido os piores dias da minha vida. Penso que é a hora que ele chegaria da escola, que ele iria pro futebol, que ele faria isso ou aquilo. A sensação é de vazio. É impossível esquecê-lo. Guardo o sorriso do meu menino.
MOTIVO
Para mim, como tio-pai como ele me chamava, foram (os atiradores) lá para assustar. Meu Victor foi morto por engano. Era para assustar devido à guerra entre eles e acabaram de matando um inocente. E vai morrer mais gente se continuar como está. Foi ele, mas poderia ter sido qualquer um.
AVÓ
Victor era a maior companhia da minha mãe, de 56 anos. Era amiga dele, dormiam no mesmo quarto, até hoje ela dorme com o travesseiro dele. Ele ficava perguntando se o amava, brincavam e riam juntos, era a alegria da casa. Já sabia quando ele estava chegando em casa.
LEMBRANÇAS
As comidas que ele era apaixonado, a avó não consegue nem ver, nem comprar coisas que ele gostaria de comer. Ele sempre dizia nossa vó, a senhora é a melhor cozinheira do mundo. Ela chora todos os dias a falta dele.
ANIVERSÁRIO
No dia 20, ele completou 15 anos. Ele teria presente, bolo e torta como a gente comemorava. Coisa simples, entre nós mesmo. Mas esse ano eu visitei o cemitério, li cartas de saudade que os colegas dele escreveram.
CARTAS
Recebemos cartas dos colegas dele no dia do aniversário. E lemos pro Victor essas cartas, no cemitério. Uma delas dizia não sei se no céu você vai conseguir ler essas cartas. São crianças que viram uma outra criança perder a vida. Eu sei que meu menino leu, pois ele agora é um anjo.
PRISÃO
A polícia não deu nenhuma resposta ainda. Quero que falem por que fizeram isso. Não tem cabimento atirarem em uma criança pelas costas. Imagina a dor que a gente sente. Victor tinha medo até de relâmpago, que dirá fazer alguma coisa errada.
CEMITÉRIO
Eu vou ao cemitério um dia sim e um dia não. Cuido, molho plantas. Todo domingo eu e minha mãe vamos lá no cemitério, virou a programação obrigatória
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