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'Quero que falem por que fizeram isso', diz tio de menino morto no ES

"Quero que falem por que fizeram isso", diz tio de menino morto no ES

Tio do adolescente Victor Gabriel Abílio, assassinado enquanto jogava bola, cobra explicações da polícia; crime aconteceu há um mês, em Andorinhas

Publicado em 26 de setembro de 2018 às 01:57

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Vitor Gabriel Abilio Florentino, de 14 anos, foi morto a tiros enquanto jogava bola com amigos no bairro Andorinhas. (Arquivo Pessoal)

Os dias passam com um misto de saudade e indignação para a família do estudante Victor Gabriel Abílio Florentino, 14 anos, assassinado a tiros no dia 26 de agosto deste ano, em Andorinhas, Vitória. Já são 30 dias desde que o garoto foi morto com quatro tiros no bairro quando jogava bola com colegas, ao final da tarde de um domingo.

“O cemitério tem sido a minha segunda casa desde a morte covarde do meu menino”, lembrou o “tio-pai” — como Victor chamava carinhosamente o tio, um cobrador de 39 anos, que ‘criou’ o menino desde um ano de idade.

A morte do menino foi o marco de uma guerra entre traficantes do bairros Andorinhas, com apoio de Santa Martha — onde Victor morava — com a facção de Itararé, que recebe auxílio dos criminosos do Bairro da Penha. Depois disso, na mesma semana, outros ataques aconteceram, um adolescente foi ferido, um carro baleado e escolas fechadas devido à violência. No início de setembro, mais tiros em meio a praça de Itararé. Além do aniversário de morte, a semana também foi marcada pela data de nascimento de Victor, que no último dia 20 teria completado 15 anos.

“Ele teria presente, bolo e torta como a gente comemorava. Mas esse ano eu visitei o cemitério, li cartas de saudade que os colegas dele escreveram”, contou o cobrador, que criou Victor junto da mãe, de 56 anos.

A falta de justiça para quem tirou a vida do estudante Victor é outro sentimento que deixa a família ainda mais revoltada. “Preciso saber por que fizeram isso. Imaginam a dor que a gente sente? Não mataram apenas o meu menino, mataram a mim e a minha mãe”.

Ao ser questionada se algum suspeito foi preso ou mesmo algum mandando de prisão foi expedido contra autores do crime, a Polícia Civil informou, por meio de nota padrão, que “o caso segue sob investigação da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória”.

Outras informações ainda não serão passadas para não atrapalhar a apuração. Denúncias podem ser feitas por meio do Disque-Denúncia 181 . O sigilo e anonimato são garantidos.

VIDA

“Uma semana antes, ele estava tendo aceleração dos batimentos. Ele dizia pra minha mãe ‘não posso morrer não, vó’. E na semana seguinte, ele foi morto. Meu menino estava começando a se cuidar, passar perfume, as meninas atrás dele, era uma nova fase da vida dele.”

MORTE

“Victor andava de bicicleta, tinha jogado bola, quando tiraram a vida dele. Ele ia pra casa para ir pra escola no outro dia. Um tiro na cabeça, dois nas costas, um deles que atingiu o pulmão, e outro na perna. Fomos avisados por pessoas do bairro, todos conheciam a gente. Meu menino estava com vida ainda quando foi levado pelos policiais militares para o hospital e que o deixaram lá. Recordo do médico me dando a notícia da morte dele. Foi a pior sensação que já tive”.

UM MÊS

“Tem sido os piores dias da minha vida. Penso que é a hora que ele chegaria da escola, que ele iria pro futebol, que ele faria isso ou aquilo. A sensação é de vazio. É impossível esquecê-lo. Guardo o sorriso do meu menino.”

MOTIVO

“Para mim, como ‘tio-pai’ como ele me chamava, foram (os atiradores) lá para assustar. Meu Victor foi morto por engano. Era para assustar devido à guerra entre eles e acabaram de matando um inocente. E vai morrer mais gente se continuar como está. Foi ele, mas poderia ter sido qualquer um.”

AVÓ

“Victor era a maior companhia da minha mãe, de 56 anos. Era amiga dele, dormiam no mesmo quarto, até hoje ela dorme com o travesseiro dele. Ele ficava perguntando se o amava, brincavam e riam juntos, era a alegria da casa. Já sabia quando ele estava chegando em casa.”

LEMBRANÇAS

“As comidas que ele era apaixonado, a avó não consegue nem ver, nem comprar coisas que ele gostaria de comer. Ele sempre dizia ‘nossa vó, a senhora é a melhor cozinheira do mundo’. Ela chora todos os dias a falta dele.”

ANIVERSÁRIO

“No dia 20, ele completou 15 anos. Ele teria presente, bolo e torta como a gente comemorava. Coisa simples, entre nós mesmo. Mas esse ano eu visitei o cemitério, li cartas de saudade que os colegas dele escreveram.”

CARTAS

“Recebemos cartas dos colegas dele no dia do aniversário. E lemos pro Victor essas cartas, no cemitério. Uma delas dizia ‘não sei se no céu você vai conseguir ler essas cartas’. São crianças que viram uma outra criança perder a vida. Eu sei que meu menino leu, pois ele agora é um anjo.”

PRISÃO

“A polícia não deu nenhuma resposta ainda. Quero que falem por que fizeram isso. Não tem cabimento atirarem em uma criança pelas costas. Imagina a dor que a gente sente. Victor tinha medo até de relâmpago, que dirá fazer alguma coisa errada.”

CEMITÉRIO

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“Eu vou ao cemitério um dia sim e um dia não. Cuido, molho plantas. Todo domingo eu e minha mãe vamos lá no cemitério, virou a programação obrigatória”

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