O mundo mudou e a forma dos criminosos agirem também. Hoje, bandidos usam e abusam da tecnologia para praticar crimes e monitorar rivais. Na última semana, por exemplo, um drone foi apreendido em Planalto Serrano, na Serra, pela Polícia Militar. Mas, segundo especialistas, o crime também usa de outras ferramentas como câmeras de videomonitoramento, bloqueadores de celulares e até mesmo de alarmes de carros.
De acordo com Alexandre Domingos, especialista em Segurança Pública e Privada, a criminalidade usa de todo tipo de tecnologia disponível no mercado porque o crime não precisa de licitação, não tem critérios e nem limites para gastar. Além disso, eles contam com patrocinadores, que são empresários que aplicam dinheiro na criminalidade com compra de eletrônicos.
VIDEOMONITORAMENTO
O especialista completou que hoje em dia há até mesmo câmeras remotas de videomonitoramento nas comunidades da Grande Vitória que foram implantadas por traficantes. Os aparelhos funcionam sem fio, seja a bateria ou por energia solar.
Domingos disse ainda que os criminosos capixabas possuem todos os tipos de tecnologia, que vão de drones, câmeras de médio a curto alcance e escutas, até a rastreadores, bloqueadores de celulares, equipamentos que roubam a senha pessoas no caixa eletrônico e bloqueadores de rastreador de veículos. Eles têm fácil acesso e usam da tecnologia para vigiar, proteger o território, atacar inimigos e planejar crimes, disse.
DRONES CONTRA GANGUES E POLÍCIA
No último dia 6 de outubro, um drone foi apreendido em Planalto Serrano, na Serra, pela Polícia Militar. Segundo a corporação, foi a primeira apreensão desse tipo de aeronave na Serra. Tínhamos a denúncia de que o drone estava sendo usado por criminosos do bairro e que estaria nas mãos do chefe do local, informou o comandando do 6º Batalhão da Polícia Militar, Tenente-Coronel Mauro, na ocasião.
De acordo com a Polícia, o equipamento pertencia a Evandro dos Santos de Jesus, de 21 anos, chefe do tráfico no Bloco B de Planalto Serrano e da baixada do Bloco A.
O uso do drone tinha dois objetivos principais: avisar a entrada da polícia no bairro e também coletar informações sobre o grupo rival de traficantes.
Apesar de afirmar que a Polícia Federal ainda não localizou criminosos com drones, a apreensão na Serra não surpreendeu, de acordo com uma fonte da PF, que aceitou dar entrevista sem se identificar.
Já apreendemos vários tipos de câmeras e eletrônicos usados para o crime. Mas drones ainda não aconteceu. Apesar disso, não me surpreende que a PM tenha encontrado. A policia já imaginava que isso iria acontecer porque existem drones de vários preços e porque já houve casos no Rio de Janeiro. Sabemos que bandidos capixabas buscam muita inspiração nos criminosos do Rio e São Paulo, disse.
QUADRILHAS CRIAM "FORTALEZAS"
Casos de apreensões de aparelhos eletrônicos sendo usados pela criminalidade não foram flagrados apenas pelas polícias Militar e Civil. A Polícia Federal capixaba também já flagrou bandidos amparados por uma fortaleza de câmeras de videomonitoramento e bloqueadores de celular.
De acordo com uma fonte da Polícia Federal, que não quis se identificar, é comum que quadrilhas de roubo de carga usem bloqueadores de celular e de rastreadores de segurança. Veja relato:
Já prendemos quadrilhas que usam esses esses bloqueadores. É um aparelho que bloqueia todos rastreadores de carga. Até aos rastreadores mais modernos que empresas lançam, os bandidos conseguem um novo aparelho para bloqueio. É como uma briga de gato e rato. As cargas mais valiosas, como remédios e eletrônicos, são monitoradas com videomonitoramento pelas empresas. Mas quando caminhão é abordado pelo bandido que tem o bloqueador, o videomonitoramento perde o sinal. Normalmente eles também bloqueiam o celular para que a empresa não consiga falar com a vítima. Nesse tempo, eles roubam toda a carga, explicou. Com relação às câmeras de videomonitoramento, a Polícia Federal já encontrou criminosos vivendo em uma verdadeira fortaleza, com grande sistema de videomonitoramento para vigiar a polícia e bandidos rivais. Encontramos um sistema moderno, melhor que muito órgão público. Tudo financiado com dinheiro do crime.. Além disso, já percebemos que muitos criminosos usam a internet para acessar o aplicativo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde há o banco nacional de mandado de prisão. Eles monitoram para saber se saiu algum mandado de prisão, ou busca e apreensão, de algum integrante da gangue ou quadrilha.
CENTRAL ATÉ PARA VIGIAR MORADORES
Uma central de videomonitoramento de traficantes foi descoberta pela polícia, dentro de uma casa, no bairro São Benedito, em Vitória, em julho deste ano. O bairro fica no topo do Complexo da Penha, onde também há uma base fixa da Polícia Militar.
Na casa onde fica a central de videomonitoramento, a polícia apreendeu um colete, uma quantidade de loló, balança de precisão, rádios comunicadores, computadores, celulares, aparelhos de TV, carregadores e caixas de fogos de artifício que eram usados para alertar sobre a ação dos policiais.
A ação que desmobilizou a central de monitoramento do tráfico aconteceu durante uma operação da Polícia Civil na região. Na época, a Polícia Civil informou que os bandidos captavam o sinal das câmeras de estabelecimentos comerciais e observavam todo o movimento no morro, inclusive as ações da polícia.
CRIMINOSOS VÃO ATRÁS DAS TÁTICAS DA POLÍCIA
Se os bandidos estão atentos às tecnologias, eles também estão de olho em como a polícia usa esses eletrônicos. Para Pablo Lira, professor de mestrado em Segurança Pública, criminosos capixabas buscam inspiração nas polícias Militar e Civil.
O especialista contou que em territórios dominados pelo tráfico de drogas, há a ameaça constante da polícia e de grupos rivais. Durante muito tempo os bandidos tinham criminosos com a função de olheiros para vigiar as comunidades. Hoje, os drones e as câmeras também são utilizados.
Lira completou que a diferença é que a polícia atua dentro da lei, enquanto os grupos criminosos vivem criando transtornos à sociedade, intimidando e impondo medo para fazer valer o código de conduta deles.
As tecnologias estão disponíveis para fins econômicos, policiamento ou entretenimento. Mas elas também podem e são utilizadas por bandidos que cometem crimes como tráfico, roubo e até extorsão na internet. Há muitos casos, inclusive, da tecnologia usada em crimes contra o patrimônio, para desarmar sensores em condomínios e bloquear circuitos de videomonitoramento. Já houve casos, como no Complexo da Penha, em Vitória, por exemplo, onde a polícia localizou um verdadeira central de videomonitoramento, lembrou.
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