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Tecnologia de ponta a serviço da bandidagem no Espírito Santo

Tecnologia de ponta a serviço da bandidagem no Espírito Santo

Criminosos usam câmeras remotas para vigiar locais de roubo, bloqueador de sinal de celular para evitar que vítimas possam pedir socorro e até drones para monitorar a polícia e gangues rivais

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 21:42

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O mundo mudou e a forma dos criminosos agirem também. Hoje, bandidos usam e abusam da tecnologia para praticar crimes e monitorar rivais. Na última semana, por exemplo, um drone foi apreendido em Planalto Serrano, na Serra, pela Polícia Militar. Mas, segundo especialistas, o crime também usa de outras ferramentas como câmeras de videomonitoramento, bloqueadores de celulares e até mesmo de alarmes de carros.

De acordo com Alexandre Domingos, especialista em Segurança Pública e Privada, a criminalidade usa de todo tipo de tecnologia disponível no mercado porque o crime não precisa de licitação, não tem critérios e nem limites para gastar. Além disso, eles contam com “patrocinadores”, que são empresários que aplicam dinheiro na criminalidade com compra de eletrônicos.

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Quando criminosos roubam cargas, os produtos já estão encomendados. Existem empresários que investem no roubo e já possuem seus clientes, donos de estabelecimentos comerciais. Nesses assaltos, os bandidos usam o bloqueador de sinal de celular para evitar que vítimas possam pedir socorro

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VIDEOMONITORAMENTO

O especialista completou que hoje em dia há até mesmo câmeras remotas de videomonitoramento nas comunidades da Grande Vitória que foram implantadas por traficantes. Os aparelhos funcionam sem fio, seja a bateria ou por energia solar.

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Eles podem instalar a câmera no poste que fica na frente da casa da vítima que querem monitorar, na frente da empresa que querem planejar um roubo, e até mesmo na frente de um quartel, uma delegacia. Sem dificuldades, esses criminosos conseguem comprar na internet até mesmo rastreadores e escutas que podem ser monitoradas via GPRS, que é um chip de celular

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Domingos disse ainda que os criminosos capixabas possuem todos os tipos de tecnologia, que vão de drones, câmeras de médio a curto alcance e escutas, até a rastreadores, bloqueadores de celulares, equipamentos que roubam a senha pessoas no caixa eletrônico e bloqueadores de rastreador de veículos. “Eles têm fácil acesso e usam da tecnologia para vigiar, proteger o território, atacar inimigos e planejar crimes”, disse.

DRONES CONTRA GANGUES E POLÍCIA

No último dia 6 de outubro, um drone foi apreendido em Planalto Serrano, na Serra, pela Polícia Militar. Segundo a corporação, foi a primeira apreensão desse tipo de aeronave na Serra. “Tínhamos a denúncia de que o drone estava sendo usado por criminosos do bairro e que estaria nas mãos do chefe do local”, informou o comandando do 6º Batalhão da Polícia Militar, Tenente-Coronel Mauro, na ocasião.

Drone apreendido no bairro Planalto Serrano, na Serra, pela Polícia Militar. (TV Gazeta)

De acordo com a Polícia, o equipamento pertencia a Evandro dos Santos de Jesus, de 21 anos, chefe do tráfico no Bloco B de Planalto Serrano e da baixada do Bloco A.

O uso do drone tinha dois objetivos principais: avisar a entrada da polícia no bairro e também coletar informações sobre o grupo rival de traficantes.

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Já eram usados radiocomunicadores para avisarem da nossa chegada, mas acredito que como fizemos apreensões recentes no local, resolveram mudar a tecnologia. Além de vigiarem a presença exata da polícia no bairro, também monitoravam a outra gangue e conseguiam informações suficientes para armar estratégias de ataques contra os rivais

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Apesar de afirmar que a Polícia Federal ainda não localizou criminosos com drones, a apreensão na Serra não surpreendeu, de acordo com uma fonte da PF, que aceitou dar entrevista sem se identificar.

“Já apreendemos vários tipos de câmeras e eletrônicos usados para o crime. Mas drones ainda não aconteceu. Apesar disso, não me surpreende que a PM tenha encontrado. A policia já imaginava que isso iria acontecer porque existem drones de vários preços e porque já houve casos no Rio de Janeiro. Sabemos que bandidos capixabas buscam muita inspiração nos criminosos do Rio e São Paulo”, disse.

QUADRILHAS CRIAM "FORTALEZAS"

Casos de apreensões de aparelhos eletrônicos sendo usados pela criminalidade não foram flagrados apenas pelas polícias Militar e Civil. A Polícia Federal capixaba também já flagrou bandidos amparados por uma “fortaleza” de câmeras de videomonitoramento e bloqueadores de celular.

De acordo com uma fonte da Polícia Federal, que não quis se identificar, é comum que quadrilhas de roubo de carga usem bloqueadores de celular e de rastreadores de segurança. Veja relato:

Já prendemos quadrilhas que usam esses esses bloqueadores. É um aparelho que bloqueia todos rastreadores de carga. Até aos rastreadores mais modernos que empresas lançam, os bandidos conseguem um novo aparelho para bloqueio. É como uma briga de gato e rato. As cargas mais valiosas, como remédios e eletrônicos, são monitoradas com videomonitoramento pelas empresas. Mas quando caminhão é abordado pelo bandido que tem o bloqueador, o videomonitoramento perde o sinal. Normalmente eles também bloqueiam o celular para que a empresa não consiga falar com a vítima. Nesse tempo, eles roubam toda a carga”, explicou. Com relação às câmeras de videomonitoramento, a Polícia Federal já encontrou criminosos vivendo em uma verdadeira fortaleza, com grande sistema de videomonitoramento para vigiar a polícia e bandidos rivais. “Encontramos um sistema moderno, melhor que muito órgão público. Tudo financiado com dinheiro do crime.. Além disso, já percebemos que muitos criminosos usam a internet para acessar o aplicativo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde há o banco nacional de mandado de prisão. Eles monitoram para saber se saiu algum mandado de prisão, ou busca e apreensão, de algum integrante da gangue ou quadrilha.

CENTRAL ATÉ PARA VIGIAR MORADORES

Morro de São Benedito. (Vitor Jubini | GZ)

Uma central de videomonitoramento de traficantes foi descoberta pela polícia, dentro de uma casa, no bairro São Benedito, em Vitória, em julho deste ano. O bairro fica no topo do Complexo da Penha, onde também há uma base fixa da Polícia Militar.

Na casa onde fica a central de videomonitoramento, a polícia apreendeu um colete, uma quantidade de loló, balança de precisão, rádios comunicadores, computadores, celulares, aparelhos de TV, carregadores e caixas de fogos de artifício que eram usados para alertar sobre a ação dos policiais.

A ação que desmobilizou a central de monitoramento do tráfico aconteceu durante uma operação da Polícia Civil na região. Na época, a Polícia Civil informou que os bandidos captavam o sinal das câmeras de estabelecimentos comerciais e observavam todo o movimento no morro, inclusive as ações da polícia.

“CRIMINOSOS VÃO ATRÁS DAS TÁTICAS DA POLÍCIA”

Se os bandidos estão atentos às tecnologias, eles também estão de olho em como a polícia usa esses eletrônicos. Para Pablo Lira, professor de mestrado em Segurança Pública, criminosos capixabas buscam inspiração nas polícias Militar e Civil.

Professor do mestrado de Segurança Pública da UVV, Pablo Lira. (Fernando Madeira | GZ)

O especialista contou que em territórios dominados pelo tráfico de drogas, há a ameaça constante da polícia e de grupos rivais. Durante muito tempo os bandidos tinham criminosos com a função de olheiros para vigiar as comunidades. Hoje, os drones e as câmeras também são utilizados.

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Por que a utilização dessa tecnologia soa como algo novo? Porque passou estar mais acessível no Brasil nos últimos anos. A própria PM está investindo na aquisição de drones, por exemplo. Antes, era usado apenas pela Policia Federal e Exército, principalmente para monitorar as fronteiras. Os criminosos, em especial traficantes, espelham-se muito nas táticas usadas pela polícia. Até mesmo na questão da comunicação. Alguns bairros usam rádios comunicadores. A maioria usa coletes e armamento semelhante ao da polícia e fazem a mesma referência de hierarquia

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Lira completou que a diferença é que a polícia atua dentro da lei, enquanto os grupos criminosos vivem criando transtornos à sociedade, intimidando e impondo medo para fazer valer o código de conduta deles.

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“As tecnologias estão disponíveis para fins econômicos, policiamento ou entretenimento. Mas elas também podem e são utilizadas por bandidos que cometem crimes como tráfico, roubo e até extorsão na internet. Há muitos casos, inclusive, da tecnologia usada em crimes contra o patrimônio, para desarmar sensores em condomínios e bloquear circuitos de videomonitoramento. Já houve casos, como no Complexo da Penha, em Vitória, por exemplo, onde a polícia localizou um verdadeira central de videomonitoramento”, lembrou.

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