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O assassinato de Gerson Camata, ex-governador do Espírito Santo

O assassinato de Gerson Camata, ex-governador do Espírito Santo

O autor do disparo é um ex-assessor de Camata, que foi preso cerca de uma hora após o crime

Publicado em 27 de dezembro de 2018 às 00:39

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(Vitor Jubini | GZ)

Próximo a uma das esquinas mais badaladas da Praia do Canto — Joaquim Lírio x Chapot Prevost  — ocorria o crime que abalou o Espírito Santo nesta quarta-feira (26): Gerson Camata, 77 anos, ex-governador do Estado, era assassinado com um tiro à queima-roupa, à luz do dia, em meio à movimentação de pedestres na região.

Testemunhas relatam que era por volta das 17 horas quando Gerson estava próximo a uma banca, em frente a um restaurante. O assassino chegou, discutiram, e logo Camata foi atingido pelo único disparo que tiraria a sua vida. Uma equipe de resgate chegou a ser acionada por populares, mas o ex-governador morreu ali mesmo, na calçada.  

 

A área foi isolada pela polícia até a chegada da perícia, que retirou o corpo do local e encaminhou ao Departamento Médico Legal de Vitória. Consternados, alguns familiares estiveram no local do crime e desabafaram sobre a violência. Entre eles Edmar Camata, sobrinho de Gerson. 

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A reflexão que fica é sobre a banalização da vida. Mesma banalização que a gente vê em uma área pobre, é a mesma que em uma área rica. A vida vale pouco, as pessoas matam por nada... Mudar isso requer um envolvimento coletivo, uma visão ampla, que não é só liberar arma e produzir mais violência

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PRISÃO

Cerca de uma hora após o crime, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) anunciava a prisão do assassino do ex-governador Gerson Camata. Marcos Venicio Andrade, 66 anos, ex-assessor da vítima, foi levado à Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde confessou o crime.

Marcos Venicio Moreira Andrade. ( Divulgação | Polícia Civil)

De acordo com o secretário de Estado da Segurança Pública, Nylton Rodrigues, Marcos Venicio caminhou tranquilamente pelas ruas da Praia do Canto após ter assassinado o ex-governador. Ele foi preso dentro de uma loja.

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Não acreditamos que tenha sido por acaso. O atirador estava com uma pistola calibre 380 no bolso, registrada no nome dele; este registro tinha a data vencida, estava irregular. Acreditamos que tenha sido premeditado, até mesmo pela tranquilidade e calma do ex-assessor

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Marcos deve passar a noite na DHPP e ser levado para o Centro de Triagem de Viana nesta quinta-feira (27). Ele foi autuado em flagrante por homicídio qualificado por motivo torpe e dificultar a defesa da vítima. 

A MOTIVAÇÃO

Segundo o secretário de Estado da Segurança Pública, coronel Nylton Rodrigues, uma ação judicial promovida por Gerson Camata em desfavor de Marcos motivou o crime. Por conta do processo na Justiça por injúria e difamação, o ex-assessor teve a quantia de R$ 60 mil bloqueada

Gerson Camata. (Reprodução)

ENTENDA

Gerson Camata e Marcos Venício trabalharam juntos por cerca de 19 anos. A relação de confiança foi rompida de maneira conflituosa em 2009, quando Marcos denunciou suposto caixa 2 de Camata ao jornal 'O Globo'. Camata sempre negou as acusações e dizia que o ex-funcionário sofria de problemas psicológicos. No dia seguinte à publicação das denúncias de Marcos, Camata entrou na Justiça contra ele, alegando crimes de injúria ou difamação. 

As acusações de Marcos foram consideradas sem substância pela Justiça, que acabou o condenado a pagar indenização a Camata. Por isso, o ex-assessor teve R$ 60 mil bloqueados na conta, o que, segundo a polícia, seria a motivação do assassinato. 

VELÓRIO E ENTERRO

O velório está marcado para as 8 horas desta quinta-feira (27) no Palácio Anchieta, em Vitória. Será realizada uma cerimônia fechada para os familiares com Dom Décio Zandonade. A partir das 10h o velório será aberto ao público. Às 15 horas, o corpo será transportado por um carro do Corpo de Bombeiros até o Cemitério Jardim da paz, na Serra. O sepultamento está marcado para as 16 horas.

Gerson Camata foi assassinado nesta quarta-feira (26) na Praia do Canto, em Vitória. (Vitor Jubini | GZ)

LUTO DE 7 DIAS

O governador Paulo Hartung decretou luto de sete dias e colocou o Palácio Anchieta à disposição para a realização do velório de Camata.  

Governador Paulo Hartung. (Marcelo Prest)

“Recebi com muita tristeza a notícia da morte de um amigo, nosso querido ex-governador Gerson Camata. Gerson foi o primeiro governador eleito no nosso Estado no período de redemocratização do país. Fez um governo realizador e que entrou para a história dos capixabas", disse.

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O Espírito Santo perde uma de suas principais lideranças. Decretei luto oficial de sete dias. Suspendi imediatamente todas as minhas agendas de trabalho para acompanhar de perto a apuração desse crime tão bárbaro. Estou colocando o Palácio Anchieta à disposição da família Camata para que o funeral seja realizado na sede oficial do governo“

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O governador eleito do Espírito Santo, Renato Casagrande, emitiu nota de pesar sobre o assassinato de Camata. "Consternado com o brutal assassinato do ex-governador Gerson Camata. Lamentável que um homem como ele, que tanto contribuiu para o desenvolvimento do nosso Estado, tenha perdido a vida de forma tão trágica. Nos despedimos hoje, com muita tristeza, desse líder carismático e agregador, que fez história no Espírito Santo. À família, meus sentimentos e minha solidariedade nesse momento de dor."

PERFIL

Gerson Camata se formou em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e também atuou no jornalismo policial na década de 1960, no programa Ronda Policial, da Rádio Espírito Santo, que era líder de audiência.

Ele iniciou a carreira política em 1967, como vereador de Vitória, pelo partido Arena. Em 1970, elegeu-se deputado estadual, e em 1974, deputado federal pelo Espírito Santo, pelo mesmo partido. Foi reeleito em novembro de 1978 e, com a extinção do bipartidarismo em novembro de 1979 e a consequente reorganização partidária, filiou-se ao PMDB, de oposição ao governo. Em 1981, casou-se com a ex-deputada federal Rita Camata.

Gerson Camata quando esteve no estúdio da Rádio CBN. (Vitor Jubini | Arquivo | GZ)

Em 1982 lançou sua candidatura ao governo do Espírito Santo, e venceu o pleito com 67% dos votos. Gerson foi o primeiro governador eleito após a redemocratização, e comandou o Estado de 1983 a 1986. Em 1986, desincompatibilizou-se para concorrer ao Senado, sendo substituído pelo vice-governador José de Morais.

Gerson Camata atuou na Assembleia Nacional Constituinte. Na mesma ocasião, sua então esposa, Rita Camata, que concorreu a deputada federal constituinte e se elegera como a mais votada no estado, também assumiu seu mandato. Reelegeu-se em 1994 e em 2002, totalizando 24 anos de atividade no Senado.

No último mandato, em maio 2006, assumiu a Secretaria de Desenvolvimento, Infraestrutura e Transportes do Espírito Santo a convite do governador Paulo Hartung e ficou no cargo até novembro.

De seu casamento com Rita Camata, teve um casal de filhos, Bruno e Enza Rafaela.

TRENDING TOPICS

O nome de Gerson Camata, ex-governador do Espírito Santo que foi assassinado nesta quarta-feira (26) no bairro Praia do Canto, em Vitória, virou o assunto mais comentado nos Trending Topics nacional do Twitter. Às 19h, mais de 2 mil usuários da rede social comentaram a morte do ex-governador. O autor dos disparos foi o ex-assessor de Camata, Marcos Venicio Moreira Andrade, de 66 anos.

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Camata sempre tinha à sua volta quem quisesse ouvir suas saborosas histórias. (Divulgação)

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