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Ruas desertas e casas vazias após ataque no Morro do Moscoso

Ruas desertas e casas vazias após ataque no Morro do Moscoso

Após mortes de segunda-feira, moradores evitam sair de casa e planejam sair da comunidade. "Aqui tá parecendo a Síria", afirmou pedreiro

Publicado em 17 de janeiro de 2019 às 02:29

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Na tarde desta quarta-feira (16), policiais subiram as escadarias da comunidade e permaneceram na região por cerca de duas horas. (Ricardo Medeiros)

“Isso aqui parece a Síria”. A comparação com o país devastado pela guerra e que já deixou mais de meio milhão de mortos e fez com que outras milhões de pessoas deixassem suas casas, vem de um morador do Morro do Moscoso, em Vitória, uma comunidade com pouco mais de 800 moradores, de acordo com a prefeitura.

Morador do bairro há 40 anos, o pedreiro, de 46, que por medo preferiu não ser identificado, expõe o cotidiano perverso de medo que já fez com que centenas de moradores deixassem a região, incluindo nessa conta famílias da comunidade vizinha, Piedade.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Raízes aponta que 70% dos moradores dos morros da Piedade e Moscoso podem deixar os bairros até 2020. Um outro levantamento feito no ano passado mostrou que 32 casas foram abandonadas e mais de 180 pessoas deixaram a região em 2018.

A maioria saiu entre março e julho, quando os conflitos entre criminosos se intensificaram. Destas, apenas oito famílias – cerca de 30 pessoas – retornaram.

No dia 8 de janeiro, uma reportagem publicada pelo portal Gazeta Online, mostrou que quase seis meses após os constantes tiroteios que aterrorizaram o Morro da Piedade, em 2018, o clima ainda é de medo de voltar para casa, mesmo após a instalação de uma base da PM na subida do Morro.

Depois disso, o local ficou em constante alerta e tem recebido mais atenção das forças de segurança do Estado. Na última quarta-feira (16) mesmo, uma operação foi feita no Morro do Moscoso.

Policiais civis e militares subiram as escadarias da comunidade e permaneceram na região por cerca de duas horas. Ao descerem, não passaram nenhum detalhe para a reportagem. Pouco antes da ação, a PM recebeu a denúncia de que uma criança havia sido abandonada em uma casa do bairro. Porém, a informação não foi confirmada.

Segundo a PM, com medo de novos ataques moradores acabam comunicando falsos crimes ou fazendo denúncias mentirosas, só para terem a presença da polícia na região.

"VOU TER QUE ABANDONAR A MINHA CASA"

Para o pedreiro de 46 anos, é difícil deixar a comunidade onde viveu nos últimos 40 anos para fugir da violência. De acordo com ele, em cada beco onde o terror virou rotina, é comum encontrar casas vazias ou destruídas por buracos de bala.

Como está o clima no bairro?

De terror. Isso aqui está parecendo a Síria, casas abandonadas e outras destruídas. Tá tudo vazio. Ninguém quer viver aqui mais.

Quando pensa em se mudar?

Quando conseguir um lugar para ficar. Estou procurando outras casas.

Vai vender sua casa?

E quem vai querer comprar? Vou ter que abandonar mesmo, como muitos fizeram. Ninguém é doido de comprar casa em lugar de conflito.

Seus vizinhos também pensam em se mudar?

Sim, muita gente. Conheço umas 15 pessoas que estão pensando em ir embora. Só não saíram ainda por não ter para onde ir.

Como é viver nesse clima?

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Ah, pura tensão. Cachorro latiu, a comunidade se assusta. É assim que vivemos, sempre em alerta. Não dá mais para viver assim. O jeito é ir embora mesmo.

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