A quarta audiência de instrução realizada sobre as mortes dos irmãos Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos, e Joaquim Salles Alves, de 3 anos, realizada nesta terça-feira (05) no Fórum Desembargador Mendes Wanderley, em Linhares, foi marcada por choro dos acusados e pelo pedido de prisão de uma das testemunhas. A sessão durou cerca de sete horas. Réus no processo, a pastora Juliana Pereira Salles Alves e seu marido, Georgeval Salles Alves, conhecido como pastor George, foram intimados pelo juiz e acompanharam a audiência.
Juliana foi a primeira a chegar ao fórum, às 9h05. O carro de cor prata com placas de Teófilo Otoni (MG) em que ela chegou entrou pelo estacionamento dos juízes. A pastora estava acompanhada de seus advogados e não conversou com a imprensa. George chegou pouco depois, às 9h15, em uma viatura da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus). Algemado, de chinelo e usando o uniforme azul dos detentos, ele entrou pelo mesmo estacionamento e passou de cabeça baixa, acompanhado de inspetores penitenciários.
Policiais militares passaram o dia todo na área do fórum para garantir a segurança. No entanto, nenhuma manifestação foi registrada do lado de fora. Havia um protesto marcado para acontecer às 6 horas em frente ao Palácio Anchieta, no Centro de Vitória, mas foi cancelado. A ação foi organizada pela família de Rainy Butkovsky, pai de Kauã, mas ele passou mal e decidiu desmarcar a manifestação.
TESTEMUNHAS
Ao todo, cinco testemunhas foram ouvidas durante a audiência, sendo quatro da acusação e uma da defesa. A primeira pessoa a depor foi a irmã da pastora, Amanda Salles. Seu depoimento se arrastou por toda a manhã e demorou três horas e meia. Ela foi convocada pela acusação. Em seguida, foi feito um recesso de uma hora para almoço. Durante esse período, Juliana aguardou o retorno da sessão pelos corredores do fórum e, por volta de 13h20, a audiência recomeçou.
Durante a tarde, duas professoras de Kauã e Joaquim e um jornalista também foram ouvidos. Um frequentador da Igreja Batista Vida e Paz, que era liderada pelo casal de pastores em Linhares, foi convocado pela defesa e foi a última testemunha a falar.
Por pontos discordantes em um dos depoimentos, os advogados de acusação chegaram a pedir a prisão de uma testemunha. Nós imediatamente interrompemos a audiência e requeremos a prisão em flagrante, mas antes mesmo de o juiz apreciar o requerimento a testemunha se retratou, explicou Síderson Vitorino. O nome dessa testemunha não foi revelado.
Por volta de 16h50, a audiência acabou. O primeiro a sair do fórum foi George. Ele foi colocado na parte de trás da viatura e foi embora em direção ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II, onde está preso desde 28 de abril. Pouco depois, Juliana seguiu para o carro das advogadas e saiu sem fazer declarações.
CABEÇA BAIXA
Fontes ligadas à Justiça contaram que George se manteve de cabeça baixa durante toda a audiência. Em alguns momentos, levava as mãos à cabeça. Ele estava sentado, com os inspetores penitenciários ao seu lado.
Juliana estava a apenas um metro do marido, junto com três advogados. Ela apresentava um semblante triste e chorou em diversas ocasiões. Quando o nome de George era citado, ela olhava para o marido. No entanto, como o pastor ficou de cabeça baixa, não retribuiu os olhares.
OUTRAS AUDIÊNCIAS
O advogado Síderson Vitorino, que atua como assistente de acusação, contou que outras audiências do caso foram realizadas em Teófilo Otoni e Governador Valadares, em Minas Gerais, e também no Sul da Bahia. As testemunhas foram ouvidas através de carta precatória.
Novas audiências estão previstas para serem realizadas em Linhares neste mês. A próxima será no dia 12. No dia 19 uma nova sessão acontece no fórum, quando Juliana e George serão interrogados pela primeira vez.
O CASO
George é acusado pela Polícia Civil de ter estuprado, agredido e queimado vivos os irmãos Kauã e Joaquim, na madrugada do dia 21 de abril do ano passado. O crime aconteceu na casa onde a família morava, no Centro de Linhares. Na ocasião, Juliana estava em Minas Gerais, onde participava de um congresso de dança profética da igreja. Ela fez a viagem com o filho mais novo do casal e deixou os filhos mais velhos com o marido. O pastor é pai de Joaquim e padrasto de Kauã.
Apesar de não estar na casa quando as crianças foram mortas, Juliana foi indiciada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) por conduta omissiva. Para a promotoria, a pastora sabia dos riscos de deixar os meninos com George. Ela chegou a ser presa em duas ocasiões, mas conseguiu um novo mandato de soltura no último dia 30. Desta vez, a Justiça determinou diversas regras e ela não pode sair de Linhares, domicílio onde aconteceu o crime.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta