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Babá de Kauã e Joaquim conta detalhes da relação com a família

Babá de Kauã e Joaquim conta detalhes da relação com a família

Um ano após a tragédia, estudante conta como era a convivência com a família em Linhares

Publicado em 18 de abril de 2019 às 00:52

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Uma jovem que trabalhou como babá dos irmãos Kauã Salles Butkovsky, 6 anos, e Joaquim Salles Alves, 3, mortos no dia 21 de abril de 2018, revelou que os meninos eram "comunicativos, carinhosos e apaixonados pelo pai", o pastor Georgeval Alves Gonçalves.

morte dos irmãos Kauã e Joaquim completa um ano neste domingo (21). Desde a última quarta-feira (17), o Gazeta Online vem publicando uma série de reportagens sobre o caso.

A babá, que atualmente é estudante, de 22 anos, contou que conheceu a família ao visitar a Igreja Batista Vida e Paz, liderada por Georgeval e a mulher dele, Juliana Salles Alves, em 2017. "Eles foram muito acolhedores em todos os momentos", relembrou.

Os irmãos Kauã e Joaquim, de 6 e 3 anos. (Arquivo Pessoal)

George é pai de Joaquim e padastro de Kauã. A estudante trabalhou na casa por cerca de três meses. Geralmente, o expediente era iniciado às 9h e terminava por volta das 15h. Segundo ela, Juliana sempre foi bastante atenciosa e George um pai e padrasto muito participativo.

"A ficha ainda não caiu"

Como você conheceu a família?

Eu morava perto da igreja e passei em frente à ela. Numa quinta-feira, eu fui num dos cultos e lá conheci o George e a Juliana. Fiquei na igreja pela realidade dos fatos pregados no Evangelho. De acordo com seus erros, os pastores não passavam a mão na sua cabeça, eles eram firmes. A Juliana conversou comigo várias vezes em relação à minha vida. Eles me abraçaram como pais e trataram as minhas feridas.

Os irmãos Kauã e Joaquim, de 6 e 3 anos, que foram vítimas de um incêndio na casa onde moravam com os pais . (Arquivo Pessoal)

Que tipo de feridas?

Eu tive diversos problemas pessoais. A Juliana me abraçou e falou que eu tinha encontrado uma família. Eu comia junto com eles, eles me tratavam como filha. Muitas vezes eu estava triste e o George chegava e perguntava qual era o meu problema. Muitas vezes eu precisei de alimentos e os dois se mobilizaram para me ajudar. O acolhimento deles como família foi o principal pilar para que eu ficasse na igreja. Meus pais não moram em Linhares, era sozinha naquela época. Depois de me tornar membro da Batista e próxima deles, trabalhei na casa deles como diarista por cerca de três meses.

Como era sua rotina na casa?

Eu entrava às 9h e saía às 15h. Era responsável pela limpeza. Nessa época, eles ainda moravam em uma casa no bairro Novo Horizonte.

Qual era o comportamento do George e a Juliana com os filhos?

A Juliana era uma mãe muito atenciosa e cuidadosa com os filhos. Durante a semana, ela se preocupava com uma alimentação rica em legumes e verduras e outros alimentos saudáveis. No fim de semana, todos gostavam muito de ir para lanchonete, pizzaria, sorveteria… Os dois iam juntos com os pais para a escola praticamente todos os dias. A Juliana dificilmente deixava os dois sozinhos em casa com o pai. Quando não tinha aula ou algo assim, iam brincar na casa de amiguinhos, da avó ou da tia. Em dias de culto, o pai ficava no escritório, em casa, estudando a Bíblia. Os meninos eram muito carinhosos, comunicativos e apaixonados pelo pai. Eles e o George brincavam juntos com o cachorro, iam para o parquinho na praça do bairro, pilotavam drone e viam desenhos.

Os meninos acompanhavam os pais na igreja também?

Sim, sempre. Os dois chegavam bem bonitinhos e logo que o pai ajoelhava, ajoelhavam também, espontaneamente, e começavam a orar ao lado. Os dois ficavam sentadinhos na frente do altar. Kauã gostava de assistir aos meninos tocando bateria. Em um dos aniversários do Kauã que foi comemorado na igreja, ele falou que queria ser como o George: pastor, guitarrista e skatista. Espertinho, aprendeu a tocar violão. Já o Joaquim ficava mais com o pessoal da interseção, uma sala destinada às crianças, mas também adorava correr e pintar. Quando dava sono, corria para o colo da mãe.

Juliana Salles e George Alves. (Marcelo Prest)

Como era o tratamento do George e da Juliana com os membros da igreja?

Eles sempre planejavam atividades que envolvessem todo mundo. Sempre que havia a possibilidade de um passeio ou algo do tipo, o George e a Juliana nos levavam. A forma como eles nos tratavam cativava todo mundo. Se você fosse lá, ia ver as pessoas à vontade, mas nada que escandalizasse o Evangelho, nada que fosse feito para escandalizar a igreja. Todos os cultos eram bem lotados. 

Como soube da notícia que os meninos estavam mortos?

Eu estava em casa tomando café pela manhã. Liguei para uma parente da Juliana e confirmaram. Comprei umas coisas para um café e levei tudo para a antiga casa deles, no bairro Novo Horizonte. Já estava lotado de gente. Vi a Juliana de longe, mas não nos falamos. Ouvi que teria culto e preferi ir somente à igreja. Aquele momento era muito mais da família do que nosso.

Você ainda era membro da igreja na época da tragédia?

Entrei na igreja no início de 2017, mas saí no início de 2018 por conta própria. Comecei a me relacionar com uma pessoa, de uma forma contrária ao Evangelho, e então eu preferi deixar a igreja. Mesmo assim, eles nunca deixaram de ir atrás de mim, sempre me chamavam: ‘filha, volta pra casa. A gente vai cuidar de você da maneira que tiver de ser’.

Sabe dizer como foi para os membros da igreja receber a notícia que os pastores pudessem ter envolvimento com a morte dos filhos?

O George e a Juliana eram muito atenciosos. Todo mundo da igreja sentiu muito a perda, foi muito ruim. As pessoas ficaram abaladas, em estado de choque. Quem conheceu eles da maneira que eu conheci, não imaginava que eles pudessem ter algum envolvimento com tudo isso.

E qual avaliação você faz de tudo que aconteceu?

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Fiquei sensibilizada além do normal e optei por não falar nada até hoje. Fico neutra, na minha, nem quero mencionar. Afirmo que enquanto família, como casal, eles eram referências. A Juliana tinha um carinho enorme pelo George e os dois procuravam resolver tudo juntos, cuidavam um do outro e das pessoas próximas com a maior atenção do mundo. Me ofereceram espaço para morar na casa deles, mas na época, não quis ir. Eu tratava o George como um pai! Eu não consigo imaginar tudo que aconteceu da forma catastrófica que já foi divulgado. Dói muito o coração só de lembrar disso. A ficha ainda não caiu que os meninos não estão aqui.

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