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'Fui enganado', diz sócio de clube de tiro no ES sobre desvio de armas

"Fui enganado", diz sócio de clube de tiro no ES sobre desvio de armas

Leonardo Loureiro Souza disse que o tenente-coronel Alexandre de Almeida, preso na terça-feira (23) por conta do esquema, falou que as armas eram de um colecionador

Publicado em 25 de abril de 2019 às 15:34

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Tenente-coronel Alexandre de Almeida, preso suspeito de envolvimento em desvio de armas. (Felipe Cavalcanti | Divulgação| Exército)

Após a denúncia do Jornal O Globo sobre um esquema de desvio de armas de dentro de um setor de fiscalização do Exército para um clube de tiro no Espírito Santo, a reportagem da TV Gazeta conversou com um dos proprietários da Guerreiros Escola de Tiro e Comércio de Armas, Leonardo Loureiro Souza, que diz ter sido enganado. O sócio afirma que o tenente-coronel Alexandre de Almeida, preso na terça-feira (23) por conta do esquema, falou que as armas eram de um colecionador. Veja trechos da entrevista.

RELAÇÃO DE AMIZADE

"Esse coronel do Rio de Janeiro, a gente já era conhecido dele, era tratado como amigo. Ele já veio aqui algumas vezes vistoriar a empresa, acabou criando uma relação de amizade, afirma o sócio.

ORIGEM DAS ARMAS

"Ele nos falou que tinha um colecionador que morreu, e essa coleção ficou com o filho, que está com câncer e esse filho queria passar essa coleção para frente em forma de doação, de venda, porque achava que já ia morrer. E o coronel, como intermediário, falou se a gente tinha interesse. A gente falou que sim, como apaixonados por armas, empresários do ramos de armas, falamos que tínhamos interesse. Ele falou para ficar tranquilo, que ia fazer o processo de registro, as armas legalizadas, tudo certinho e assim foi feito."

PISTOLA 9 MM

O desvio de uma pistola 9mm, da marca Taurus, é o que motivou a abertura do inquérito. Segundo O Globo, a arma foi entregue por um coronel que entrava na reserva ao Serviço de Produtos Controlados. Em dezembro do ano passado, esse mesmo militar acabou descobrindo que a pistola havia sido repassada ilegalmente para Rafael de Almeida — irmão do tenente-coronel preso, que por sua vez repassou ao clube de tiros na Serra.

No entanto, Leonardo tem outra versão sobre o caso. "Essa autoridade em questão, que foi presa, ela entrou em contato com o meu irmão e falou que uma das armas tinha um problema e que era para devolver para ele para o Rio de Janeiro, para que pudesse ser resolvido. Não foi falado qual era o problema, a gente achou que fosse um problema documental. Talvez um erro humano na hora de confeccionar o documento".

Em seguida, segundo o sócio, o irmão dele mandou emitir uma guia de trânsito, para transportar essa arma de forma legalizada e a levou para o militar no Rio de Janeiro. "Chegando lá, ele questionou por que foi feita essa guia. Aí acendeu o sinal de alerta, porque ele ficou preocupado que essa guia deixava um rastro da origem da arma, do que foi feito. Nos acendeu o alerta: tem alguma coisa de errado."

IRMÃO DO MILITAR

"O único envolvimento que a gente teve com o irmão dele (Rafael de Almeida) foi que ele linkou a gente com o irmão dele, porque ele mexe com sistemas. A gente fechou um contrato com ele para fazer um sistema para a nossa empresa. Não tem nada a ver com essa história", destaca.

ENTENDA O CASO

Tenente-coronel Alexandre de Almeida, preso suspeito de envolvimento em desvio de armas. (Felipe Cavalcanti | Divulgação| Exército)

Um esquema de desvio de armas de dentro de um setor de fiscalização do Exército para clube de tiro no Espírito Santo levou à prisão o tenente-coronel Alexandre de Almeida, na última terça-feira (23). As informações foram publicadas com exclusividade pelo Globo.

Almeida é ex-chefe do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 1ª Região Militar do Exército, considerado a mais importante autoridade do setor quanto ao controle de armamentos que circulam nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. 

Segundo informações do inquérito policial-militar instaurado pelo Exército, ao qual O Globo teve acesso, as armas desviadas pelo tenente-coronel Alexandre Almeida eram repassadas ao Guerreiros Escola de Tiro e Comércio de Armas, localizada na Serra, na Região Metropolitana de Vitória. De acordo com o inquérito, era o próprio irmão do tenente-coronel, Rafael Felipe de Almeida, quem intermediava o repasse.

PISTOLA TAURUS 9 MM, INÍCIO DO INQUÉRITO

O desvio de uma pistola 9mm, da marca Taurus, é o que motivou a abertura do inquérito. A arma foi entregue por um coronel que entrava na reserva ao Serviço de Produtos Controlados. Em dezembro do ano passado, esse mesmo militar acabou descobrindo que a pistola havia sido repassada ilegalmente para Rafael de Almeida — irmão do tenente-coronel preso, que por sua vez repassou ao clube de tiros na Serra.

BUSCA E APREENSÃO NO CLUBE DE TIRO

Ação do Exército na loja Guerreiros de Vila Velha na última semana. (Estephany Mesquita | Gazeta Online)

Conforme publicado pelo Gazeta Online na última semana, o Exército realizou uma ação na unidade da Guerreiros, em Vila Velha, também na Região Metropolitana de Vitória. A matriz é a loja da Serra. Segundo a reportagem do Globo, foram feitas buscas e apreensões no local, constatando o esquema de desvio de armas de dentro do setor do Exército que é responsável justamente pela fiscalização das mesmas.

No dia da operação, o tenente-coronel Alves, do 38º Batalhão de Infantaria, informou ao Gazeta Online que era uma "ação de rotina", já que a loja vende produtos que são controlados pelo Exército.

O QUE DIZ EMPRESÁRIO

Segundo O Globo, o dono do clube capixaba de tiros, Marcos Antônio Loureiro de Souza, admitiu que a loja havia recebido 110 "armas antigas", que teriam sido recolhidas na casa do tenente-coronel Almeida e levadas para Vila Velha. Pelo material, o empresário disse ter combinado o valor de R$ 90 mil a serem pagos em 12 prestações, três delas quitadas ainda em 2018. Marco Antônio diz ter sido informado que as armas pertenciam a um colecionador que havia morrido e que acreditava que a quantia seria entregue ao filho dele.

Ainda de acordo com o inquérito, Marco Antônio entregou conversas via WhatsApp que teve com o tenente-coronel ao Exército. Nas mensagens, o empresário teria sido orientado a afirmar aos investigadores que a pistola 9mm, da Taurus — que motivou a abertura do inquérito — nunca esteve na empresa capixaba.

MATERIAL APREENDIDO

No dia da operação em Vila Velha foram apreendidas cinco armas pertencentes ao patrimônio do Exército, três delas atribuídas ao tenente-coronel Almeida e duas à Rafael, irmão do acusado preso. No entanto, não há registros dentro do Serviço de Produtos Controlados de que as armas pertenceram de fato ao militar e ao irmão dele, fato que, segundo a reportagem do Globo, chocou representantes do Ministério Público Militar por evidenciar uma fragilidade no sistema de controle e fiscalização.

O MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR

O pedido de busca e apreensão na loja Guerreiros foi feito pelo Ministério Público Militar. Segundo o MPM, "o grande volume de armas transferidas pelo tenente-coronel para o irmão Rafael e de ambos para o Guerreiros Escola de Tiro e Comércio de Armas configura fortes indícios de prática criminosa".

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Na noite desta quarta-feira (24), a reportagem do Gazeta Online tentou contato com Marcos Antônio Loureiro de Souza, citado no jornal O Globo como proprietário da loja, e com representantes do Exército no Espírito Santo. No entanto, as ligações não foram atendidas.

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