Há cerca de três semanas, a polícia adota uma nova prática para tentar evitar a realização de bailes clandestinos, onde há circulação de armas e drogas, na Grande Vitória. A inteligência identifica quem são os organizadores dessas festas sem autorização e os policiais vão até a casa da pessoa antes do evento, para que não aconteça.
A informação foi dada à reportagem pelo comandante do Policiamento Metropolitano, coronel Sartório. Em entrevista ao Gazeta Online, o coronel afirma que a ação tem dado resultados, fala dos riscos de uma ação durante esses bailes e faz questão de destacar que "funk é cultura". Veja a conversa.
O que a polícia tem feito para combater bailes conhecidos como Mandela?
No início do ano, em janeiro, foi muito intensa a realização desses bailes. Chegamos a reprimir em um final de semana mais de 40 bailes na Região Metropolitana da Grande Vitória. Em fevereiro, reduzimos muito a incidência desse tipo de baile e no mês de março praticamente não tem mais baile Mandela sendo realizado. Eles são bailes irregulares, bailes planejados através de redes sociais e contato dentro das comunidades. Só que a nossa inteligência levanta previamente onde seriam realizados os bailes e, inclusive, fazemos ações em conjunto com as prefeituras nos dias previstos, para evitar o início do baile. Após a concentração de muitas pessoas nessa localidade, a ação fica bem mais arriscada, até para as pessoas que estão ali, muitas vezes, desavisadas de que o baile é irregular e que o risco é iminente. Fazemos ações nesses locais antes de o baile começar. As prefeituras apoiam com postura, com outros órgãos. A Polícia Civil tem nos apoiado também.
O indivíduo quando se vê já identificado e já contactado, ele assume um risco muito grande se realizar o evento.
A polícia já foi na casa de quantas pessoas? Desde quando realiza essa ação?
Estamos fazendo nas últimas três semanas, em torno de quatro a cinco visitas por semana, de indivíduos identificados.
Vocês vão no final de semana ou antes?
Esses bailes não estão sendo divulgados com tanta antecedência, até porque sabem que a polícia está monitorando. Normalmente quinta ou sexta-feira, identificado o indivíduo que vai promover o baile, a gente faz uma visita informando da ilegalidade. Até porque tornou-se um negócio inviável. O baile Mandela não é tão lucrativo como era no passado, inclusive quem utilizava muito dos bailes Mandela era o tráfico de drogas. Utilizava para a venda de drogas e cooptação de menores. Não é mais um evento lucrativo para o tráfico de drogas na Grande Vitória, até porque está sendo reprimido com bastante intensidade.
Coronel, algumas pessoas relataram exatamente isso: uso de drogas por menores de idade, traficantes com armamento pesado no meio da rua ou em sítios, quadras... Tudo para quem quiser ver. Algumas pessoas disseram que não veem a presença da polícia. Como o senhor avalia isso?
Como eu disse, os bailes praticamente não ocorrem mais. Os poucos que têm ocorrido estão sendo reprimidos. A gente recomenda que as pessoas não se dirijam a esses locais, porque o risco é iminente.
Ação pós-aglomeração é muito complexa. O que a gente recomenda é que a pessoa não vá a esse local.
A ação da polícia tem sido preventiva, uma ação de inteligência?
Sempre preventiva, antecipando os eventos. Não estou afirmando aqui que nenhum evento possa ocorrer. Pode ser que alguém bote um carro de som na rua e, do nada, se aglomera com grupo de WhatsApp um grupo muito grande de pessoas. Nesse momento, fazer policiamento de um evento irregular não existe. O evento regular, autorizado pela prefeitura com o seu alvará para funcionar, vai receber o policiamento adequado. Mas um evento inopinado (inesperado) não tem como aplicar um relacionamento regular.
Mas o que chama a atenção dos frequentadores é o armamento pesado que os traficantes expõem na rua e essa venda livre de drogas, além do consumo.
Esse armamento pode estar no local, sim. E o que o traficante utiliza para estar expondo esse armamento? A proteção das outras pessoas que estão em volta, porque sabe que uma ação da polícia é muito complexa. Sobre a venda da drogas, o grupo de inocentes que está em volta, muitas vezes menores de idade, se coloca em risco para a proteção daquelas pessoas. Por isso, nós antecipamos os eventos e não têm mais ocorrido. Hoje temos pouca notícia de baile funk em ação. Os que têm com pouca aglomeração de pessoas a polícia vem a intervir com mais força para que não ocorra.
Para a polícia, o que é um baile do Mandela?
É um baile irregular, com concentração de pessoas de forma irregular, inopinada, e propicia à prática de vários crimes.
Hoje é permitido fazer um baile funk na rua ou em outro local no Espírito Santo?
Sim. Aí o organizador do evento vai procurar os canais competentes, que é a prefeitura municipal. Vai fazer uma proposta de local. Nós fazemos policiamento em alguns eventos desse tipo em comunidades sem problema algum, desde que a prefeitura avalie o local, veja a segurança, autorize a interdição de via, aí sim a Polícia Militar é acionada e colocamos o policiamento. Assim como acontece com os blocos de carnaval.
O senhor já ouviu falar falar do baile do MDG, no Morro dos Gamas, e o baile do 182, no Alagoano?
São bailes irregulares da mesma forma, que a gente tem coibido com bastante veemência. Dentre outros, tem baile no Bairro da Penha que alteraram o dia de realização, saiu da sexta e do sábado e foi do domingo de madrugada para segunda-feira para ver se conseguia realizar. A gente tá trabalhando muito forte e evitando o acontecimento desses bailes.
Mas o senhor tem conhecimento que eles continuam acontecendo aos finais de semana.
Sim. Eles são reprimidos.
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