Um esquema de desvio de armas de dentro de um setor de fiscalização do Exército para clube de tiro no Espírito Santo levou à prisão o tenente-coronel Alexandre de Almeida, na última terça-feira (23). As informações foram publicadas com exclusividade pelo Globo.
Almeida é ex-chefe do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 1ª Região Militar do Exército, considerado a mais importante autoridade do setor quanto ao controle de armamentos que circulam nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Segundo informações do inquérito policial-militar instaurado pelo Exército, ao qual O Globo teve acesso, as armas desviadas pelo tenente-coronel Alexandre Almeida eram repassadas ao Guerreiros Escola de Tiro e Comércio de Armas, localizada na Serra, na Região Metropolitana de Vitória. De acordo com o inquérito, era o próprio irmão do tenente-coronel, Rafael Felipe de Almeida, quem intermediava o repasse.
PISTOLA TAURUS 9 MM, INÍCIO DO INQUÉRITO
O desvio de uma pistola 9mm, da marca Taurus, é o que motivou a abertura do inquérito. A arma foi entregue por um coronel que entrava na reserva ao Serviço de Produtos Controlados. Em dezembro do ano passado, esse mesmo militar acabou descobrindo que a pistola havia sido repassada ilegalmente para Rafael de Almeida irmão do tenente-coronel preso, que por sua vez repassou ao clube de tiros na Serra.
BUSCA E APREENSÃO NO CLUBE DE TIRO
Conforme publicado pelo Gazeta Online na última semana, o Exército realizou uma ação na unidade da Guerreiros, em Vila Velha, também na Região Metropolitana de Vitória. A matriz é a loja da Serra. Segundo a reportagem do Globo, foram feitas buscas e apreensões no local, constatando o esquema de desvio de armas de dentro do setor do Exército que é responsável justamente pela fiscalização das mesmas.
No dia da operação, o tenente-coronel Alves, do 38º Batalhão de Infantaria, informou ao Gazeta Online que era uma "ação de rotina", já que a loja vende produtos que são controlados pelo Exército.
O QUE DIZ EMPRESÁRIO
Segundo O Globo, o dono do clube capixaba de tiros, Marcos Antônio Loureiro de Souza, admitiu que a loja havia recebido 110 "armas antigas", que teriam sido recolhidas na casa do tenente-coronel Almeida e levadas para Vila Velha. Pelo material, o empresário disse ter combinado o valor de R$ 90 mil a serem pagos em 12 prestações, três delas quitadas ainda em 2018. Marco Antônio diz ter sido informado que as armas pertenciam a um colecionador que havia morrido e que acreditava que a quantia seria entregue ao filho dele.
Ainda de acordo com o inquérito, Marco Antônio entregou conversas via WhatsApp que teve com o tenente-coronel ao Exército. Nas mensagens, o empresário teria sido orientado a afirmar aos investigadores que a pistola 9mm, da Taurus que motivou a abertura do inquérito nunca esteve na empresa capixaba.
MATERIAL APREENDIDO
No dia da operação em Vila Velha foram apreendidas cinco armas pertencentes ao patrimônio do Exército, três delas atribuídas ao tenente-coronel Almeida e duas à Rafael, irmão do acusado preso. No entanto, não há registros dentro do Serviço de Produtos Controlados de que as armas pertenceram de fato ao militar e ao irmão dele, fato que, segundo a reportagem do Globo, chocou representantes do Ministério Público Militar por evidenciar uma fragilidade no sistema de controle e fiscalização.
O MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR
O pedido de busca e apreensão na loja Guerreiros foi feito pelo Ministério Público Militar. Segundo o MPM, "o grande volume de armas transferidas pelo tenente-coronel para o irmão Rafael e de ambos para o Guerreiros Escola de Tiro e Comércio de Armas configura fortes indícios de prática criminosa".
Na noite desta quarta-feira (24), a reportagem do Gazeta Online tentou contato com Marcos Antônio Loureiro de Souza, citado no jornal O Globo como proprietário da loja, e com representantes do Exército no Espírito Santo. No entanto, as ligações não foram atendidas.
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