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Dono de clube de tiros no ES responde por morte de suspeito em assalto

Dono de clube de tiros no ES responde por morte de suspeito em assalto

Empresário, que também é policial, é investigado pela morte de um adolescente de 15 anos, durante perseguição na Serra, no ano de 2014

Publicado em 13 de maio de 2019 às 17:14

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Guerreiros Escola de Tiro e Comércio de Armas. (Fernando Madeira | GZ)

A ação policial que resultou na morte de um adolescente de 15 anos após participação dele no roubo de um carro, na Serra, em 2014, foi o que fez o dono do clube de tiro investigado por receber armas desviadas do Exército, que também é cabo da Polícia Militar, virar réu em ação penal por homicídio.

Além de Marcos Antônio Loureiro de Souza, outros dois policiais respondem pelo mesmo crime. Embora a abordagem tenha resultado na detenção de dois dos quatro envolvidos no assalto e na recuperação do automóvel, para o Ministério Público Estadual (MPES) os militares não agiram em legítima defesa e mataram o adolescente em fuga. Um dos tiros foi na nuca.

Dono de clube de tiro no ES responde por morte de suspeito em assalto

ASSALTO E PERSEGUIÇÃO

O assalto ocorreu na noite do dia 29 de janeiro de 2014, às margens da BR 101, nas imediações do bairro Barcelona, na Serra. A perseguição policial terminou quando o carro dirigido pelos assaltantes bateu contra um barranco, no bairro Cidade Pomar. O quarto indivíduo conseguiu fugir.

TRIO POLICIAL TERIA MUDADO VERSÃO

Na denúncia oferecida pelo MPES em novembro de 2016, e aceita pela Justiça, a promotoria aponta que o trio policial mudou a versão para sustentar que a equipe apenas revidou tiros disparados pelos assaltantes após a colisão.

Essa versão, que surgiu no âmbito das apurações da Corregedoria da PM, difere da primeira, dada ainda na delegacia, quando os policiais não relataram terem sido alvo de disparos. Para o MPES, "inúmeras contradições foram apontadas" nos relatos dos militares.

Aspas de citação

Muito embora os denunciados tenham posteriormente alterado o teor de seus depoimentos, sustentando a ocorrência de troca de tiros, inúmeras contradições foram apontadas

Texto da denúncia
Aspas de citação

Na etapa da investigação interna da PM, os policiais investigados, conforme os relatos aos quais o Gazeta Online teve acesso, não consideraram que houve contradição. Alegaram que os focos dos depoimentos colhidos deles, na delegacia e na corregedoria, eram distintos.

Os policiais atiraram 27 vezes contra o adolescente que morreu, segundo a denúncia. Quatro disparos o atingiram. Apesar de os depoimentos dos militares darem conta de que o adolescente partiu para cima deles com arma nas mãos, o rapaz recebeu um tiro na região da nuca.

Aspas de citação

Os denunciados efetuaram cerca de 27 disparos, afastando toda e qualquer hipótese de legítima defesa, eis que os infratores não realizaram disparo algum contra a guarnição, ou mesmo deram impressão de que o fariam

Trecho da denúncia
Aspas de citação

Como é possível extrair dos depoimentos dos policiais, aos quais a reportagem teve acesso, o cabo Loureiro chegou a dizer que o adolescente só caiu depois que ele efetuou os últimos disparos. Em outro momento, o militar relatou que o adolescente morto pode ter sido baleado na região da nuca pelo comparsa que fugiu, acidentalmente. Não houve perícia para apontar de qual arma saíram os tiros que atingiram o rapaz.

Ao apurar a conduta dos policiais, a Corregedoria da PM fez diligências para localizar o quarto suspeito de participação no roubo do carro. O rapaz foi apontado pelos comparsas como morador de rua. No entanto, a corregedoria descobriu, tempos depois, que ele foi morto. O corpo foi encontrado amarrado em uma árvore e queimado.

A AÇÃO FOI LEGÍTIMA, DIZ DEFESA

A defesa dos três policiais afirma que a ação dos militares foi totalmente legítima e que eles agiram para evitar injusta agressão de bandidos armados.

"Eram quatro infratores, todos armados e que, após subtraírem um veículo, entraram em confronto com a guarnição em que se encontrava o cabo Loureiro e outros militares estaduais. A ação dos militares foi legítima, uma vez que repeliram injusta agressão. E isto restará devidamente provado na instrução da ação penal", afirmou Claudius Caballero, advogado dos três policiais no processo.

A reportagem procurou a Corregedoria da Polícia Militar durante uma semana mas, até o momento, não houve retorno. 

COMPRA DE ARMAS

De licença médica da PM há mais de dois anos, o cabo Marcos Antônio Loureiro de Souza atua normalmente em negócios relacionados à empresa de armas de Guerreiros, com unidades em Vila Velha e Serra.

Segundo O Globo, Marcos Antônio admitiu que a loja havia recebido "armas antigas", que teriam sido recolhidas na casa do tenente-coronel Almeida e levadas para Vila Velha. Pelo material, o empresário disse ter combinado o valor de R$ 90 mil a serem pagos em 12 prestações, três delas quitadas ainda em 2018.

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Marco Antônio diz ter sido informado que as armas pertenciam a um colecionador que havia morrido e que acreditava que a quantia seria entregue ao filho dele.

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