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Vítima de pornografia de vingança no ES: 'Ligavam querendo me agenciar'

Vítima de pornografia de vingança no ES: "Ligavam querendo me agenciar"

Ronaldy Cunha, 27 anos, procurou a polícia para denunciar uma ex-namorada que teria espalhado fotos íntimas em um panfleto com o seu nome, número de telefone e o seguinte anúncio: "Mulheres, favor não insistir, porque é só com homens"

Publicado em 10 de maio de 2019 às 15:39

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Quase sempre, as vítimas são mulheres. Mas, desta vez, um homem passou pelo constrangimento de ter fotos íntimas expostas em um panfleto com o seu nome, número de telefone e o seguinte anúncio: "Mulheres, favor não insistir, porque é só com homens".

O fisioterapeuta Ronaldy Cunha, 27 anos, morador do município da Serra, procurou a polícia para denunciar uma ex-namorada de espalhar essas mensagens em grupos de WhatsApp, site de classificados e em panfletos nos locais de trabalho dele e na rua da sua antiga residência.

A divulgação começou em novembro do ano passado e se intensificou em março deste ano, quando o tal panfleto estava exposto em carros do estacionamento de seus locais de trabalho. Nesta sexta-feira (10), Cunha conversou com a reportagem do Gazeta Online sobre tudo que aconteceu.

Como tudo começou?

A gente namorou em 2016 e paramos de se falar por quase um ano, por conta dessas confusões de relacionamento. No meio do ano passado, ela criou uma conta de WhatsApp e começou a falar comigo. Aí a gente voltou a conversar, se encontrou de novo. A gente só queria sair, basicamente isso. Depois entrei em outro relacionamento mais sério e a gente não ia sair mais. A gente conversou sobre isso, mas ela não aceitou muito bem. Ela começou a seguir minha namorada no Instagram, viu algumas postagens nossas juntos. Nem faço mais postagens assim. Aí ela passou a publicar em grupos de WhatsApp mensagens com fotos íntimas minhas, em grupo de venda de sex shop, dizendo que eu fazia programa.

Ela montou um panfleto com foto sua, seu telefone?

Exato. Isso aconteceu em março deste ano, depois de eu ignorar todas as investidas anteriores. Passei novembro do ano passado praticamente inteiro apagando perfil falso do Instagram, do Facebook.

Os perfis eram com a sua foto?

Sim, dizendo que faço programa. Colocava meu nome, meu telefone. Bastante gente me ligou. Galera ligando para zoar...

O que tinha escrito nessas mensagens que ela enviava?

Para o grupo de WhatsApp, ela escrevia só que eu fazia programa. Quando ela fez anúncio na internet, em portal de anúncio normal, ela escrevia só com homens. Quando ela fez o panfleto, lá em março, ela já escreveu: 'Mulheres, favor não insistir, porque é só com homens'. Que problema.

Os homens chegaram a ligar para você?

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igava para mim tudo que é tipo de gente: homem, mulher, casal. Ligava gente tentando me agenciar, inclusive foi um dos primeiros que ligo

Ronaldy Cunha
Cargo do Autor
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O camarada disse que trabalhava com coisa do tipo. Eu falei: 'Nossa, que vergonha'.

E você namorando?

Sim. Estou namorando até hoje.

Ela ficou mandando mensagem para a sua namorada?

Não. Na época, a minha namorada viu que uma pessoa diferente estava vendo as histórias do Instagram. Como fica marcado quem é a pessoa, aí ela bloqueou.

Como foi a história dos panfletos?

Ela chegou a colocar esses panfletos na frente do condomínio onde eu morava. Pouco tempo depois, mudei.

Você se mudou por conta disso?

Não. Já ia mudar mesmo, isso só acelerou as coisas.

E essas imagens circularam?

As fotos (dos grupos) até que tiveram pouca circulação, por isso ignorei um pouco. Mas os panfletos realmente foram os que me afetaram mais.

Como você ficou sabendo dos panfletos?

No primeiro momento fiquei sabendo em um dos hospitais que eu trabalhava, acho que foi na primeira semana de março. Ela foi lá e colocou na frente do estacionamento do hospital, na subida, ela colocou em todos os carros que estavam estacionados. No dia, quando uns colegas estavam saindo do plantão, me ligaram falando que tinha um panfleto com a minha cara no estacionamento. Falaram que estavam retirando, mas... Aí me mandaram uma foto do panfleto. Entregaram para a minha namorada que estava lá no hospital no dia. Ela ajudou a recolher um monte também, mas já tinha jogado tudo no ventilador. Todo mundo do hospital viu aquilo. Quem não teve acesso ao panfleto, recebeu depois via WhatsApp.

O dia seguinte.

Aí no dia seguinte eu estava de plantão o dia inteiro. Pego às 7h e largo às 24h. Dois dias depois, ela colocou em outros hospitais. Já tinha colocado na rua do meu prédio e em mais três hospitais na mesma semana. Numa quinta-feira à tarde eu tive uma folga, aí fui na delegacia e prestei queixa. Levei os prints de conversas, coisas que eu tinha desde novembro. Junto com outros dados que o delegado apurou, chegaram à conclusão. Eu já sabia que era ela, então só indiquei. Eles entraram em contato com ela. Ela foi rude no primeiro momento com os investigadores via telefone. Na segunda-feira, foram ao hospital e entregaram a intimação para ela. Na terça ela foi depor. O resto é só desenrolar da história. Ela vai responder por pornografia de vingança, mas não sei o artigo certo para isso. Mas não acredito que ela vá ser presa. Paralelo a isso, tem outro processo de Vara Cível.

Você está pedindo alguma indenização por danos morais?

Sim, mas não quero dinheiro. Não sou rico, mas não tenho interesse em prejudicar. Por mim, ela faria uma doação ou serviço na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) por um bom tempo. 

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oje já trato isso com um pouco mais de tranquilidade, mas realmente em março quando aconteceu foi um transtorno danado. Foi bem complicado. Agora já levo na zoeira, meus amigos fala

Ronaldy Cunha
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O que você sentiu quando viu a sua imagem, seu telefone, falando que fazia programa com homem?

Como foi uma situação que interferia diretamente no meu ambiente de trabalho, mandei mensagem para a dona do serviço de fisioterapia e depois mandei no grupo de fisioterapia, explicando o que tinha acontecido. Ainda assim, no primeiro momento, me pediram para segurar a onda nos plantões em um dos hospitais. Pediram para eu não fazer plantão um mês. Tomei uma suspensão, para diminuir o burburinho do assunto. Depois precisou aumentar o número de fisioterapeuta e acabei voltando. Fiquei um mês sem ter a opção de trabalhar nesse hospital por causa dessa confusão toda. Em outro hospital, colocou na parte dos fundos na entrada de funcionários na frente de todos os carros também. Nesse mundo da saúde, todo mundo se conhece. Todo mundo ficou sabendo. Primeiro a vergonha toda que isso estava causando e depois ter que explicar para todo mundo o que culminou nesse fato. Isso é muito desgastante.

Você chegou a perder algum emprego?

Não. Mas tive que chamar coordenador para conversar, explicar o que tinha acontecido. Tive um apoio muito, principalmente em um dos hospitais. A galera me apoio, me zoou bastante.

Esse tipo de situação é mais comum acontecer com mulheres. Você pensou que pudesse passar por isso?

Ninguém imagina. Quando isso aconteceu comigo eu falei que iria fazer a mesma coisa com ela. Só que depois eu pensei direito. Primeiro, isso não é uma atitude de homem que honra as calças que veste. Acho muito feio. Segundo pensei: 'E se eu fosse mulher?'. 

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endo homem, o pessoal chega na minha frente para rir comigo e rir de mim, agora quando é com mulher é muito mais complicado. Me fez criar um pouco mais de empatia por quem sofre esse tipo de situação. Isso é muito chat

Ronaldy Cunha
Cargo do Autor
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Você chegaram a trabalhar juntos?

Não. Como pessoa e profissional, ela é muito boa. Mas para relacionamento ela é complicada. Comigo não deu certo.

Tinha muito ciúme?

Muito. Uma vez a gente foi em um bar, ela pegou o meu celular e mandou mensagem para umas três pessoas. A maioria das pessoas que falam comigo é mulher, é o pessoal do trabalho. Ela mandou mensagem para três pessoas, duas responderam na hora. Uma ficou espantada, porque era casada e estranhou a conversa. Ela mandou as mensagens do meu celular, como se fosse eu, foi super rápido. A mesma mensagem praticamente ela mandou para outra pessoa, que aceitou o convite para sair. Ainda brigou comigo depois. Ela saiu do restaurante e, no dia seguinte, disse pra mim que uma cadeira não estava no mesmo local na sala, perguntou que mulher eu tinha trazido. Namoramos cerca de um anos. Depois ficamos pouco mais de um ano sem se falar, a gente voltou a se falar e foi esse problema.

Ela chegou a confessar?

Acho que não chegou a confessar tudo. Acho que o delegado escreveu como uma confissão parcial.

Você trocou o número de celular?

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ão. Acho que se eu fizesse isso acabaria por valorizar mais uma situação eu que queria memorizar e que, por fim, virou apenas motivo de zoeira entre as pessoas que conheç

Ronaldy Cunha
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