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'A gente não usou drone', afirma fotógrafo capixaba preso na Venezuela

"A gente não usou drone", afirma fotógrafo capixaba preso na Venezuela

Fotógrafo foi preso quanto tentava retornar para o Brasil. O motivo seria o drone encontrado no porta-malas do carro de um dos fotógrafos

Publicado em 20 de junho de 2019 às 12:52

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Trabalho documental que capixaba realizou com os refugiados venezuelanos em Boa Vista, Roraima. (Gabriel de Rezende)

O fotógrafo capixaba Gabriel de Rezende, de 26 anos, que foi detido na última segunda-feira (17), junto com outros dois fotógrafos brasileiros, na cidade venezuelana de Santa Elena de Uiarén, após cruzarem a fronteira do Brasil com a Venezuela, conversou com o Gazeta Online na noite desta quarta-feira (19). Gabriel estava no aeroporto de Boa Vista, em Roraima, tentando trocar a passagem para retornar ao Espírito Santo. "Acredito que só vou conseguir chegar na sexta-feira", disse.

Aliviado por estar de volta ao Brasil após passar horas de terror na Venezuela, Gabriel contou como se deu a prisão e a confusão das acusações.

FREELANCER

"Fui para Boa Vista, em Roraima, no dia 11 deste mês, para fazer um trabalho documental, como freelancer, mostrando a entrada dos venezuelanos no Brasil, como se acomodam, como vivem, as pessoas envolvidas com esses refugiados, etc. Fui para a fronteira na segunda-feira, dia 17, junto com os fotógrafos que moram em Boa Vista e já fizeram esse trajeto várias vezes. Seria uma Parte complementar ao trabalho que já tinha feito no lado brasileiro"

SANTA ELENA

"Santa Elena é a primeira cidade depois da fronteira da Venezuela. Aproveitei que estava lá e fui conhecer, como turista mesmo. Chegando lá, me deparei com um cenário de guerra, vi várias marcas de tiros, vidros quebrados, aquilo me surpreendeu e chamou minha atenção. Uma moradora estava andando conosco e mostrando essas cenas, ela foi narrando o que tinha acontecido em cada cenário e eu, como fotógrafo documental, aproveitei para registrar. Policiais passaram do meu lado, me viram fotografando, mas ninguém me abordou, continuei"

FRONTEIRA

"Esse tour em Santa Elena durou aproximadamente uma hora, então voltamos. Chegando na polícia da fronteira, os policiais nos pararam e pediram para revistar o carro e se assustaram com nossos equipamentos de fotografia. Tinha câmeras, flashes e também um drone, mas que nem chegou a ser usado por nós em momento algum. Estava no carro. O policial viu as fotos da minha câmera e disse que eu não poderia ter fotografado aquilo"

CRIME

"Nós não sabíamos, mas portar drone em território venezuelano é crime. Não importa se estiver em uso ou não, não pode ter drone. O drone não foi nem tirado do porta-malas do carro. Não tinha imagem nenhuma no drone. Mas só pelo fato de ele estar conosco, já era crime. O problema é que ninguém falou nada sobre isso com a gente"

PRISÃO

"Levaram a gente para um quartinho e apreenderam todos os equipamentos, mas não disseram o motivo. A gente achou, inicialmente, que o problema era com nossas fotos. Ninguém falou nada com a gente. Passamos a noite presos em um quartinho, no exército da fronteira"

AMEAÇAS

"Deixaram a gente fazer uma ligaçao cada, de dois minutos. Liguei para o Padre Ronilson, que coordena o trabalho com refugiados na Pastoral universitária, e outro fotógrafo ligou para a deputada Ione, que trabalha na comissão de refugiados da Assembleia de Roraima. Antes de botar a gente pra dormir, os policiais começaram a fazer ameaças e terror psicológico. Disseram que a gente ia ficar preso por terrorismo internacional. Que a gente ia ficar 25 anos preso. Que se a gente se mexesse ia tomar tiro na testa. Fizeram várias ameaças, ficaram engatilhando o fuzil, foi horrível. Com medo, fingi que estava dormindo. Fiquei com olho fechado a noite toda, o mais quieto que pude"

QUARTEL

"Pela manhã, levaram a gente para o quartel de Santa Elena. Lá, ficharam a gente, tiraram fotos nossas como criminosos mesmo. Colocaram nossos equipamentos com vários objetos pessoais só para dar volume, tipo nossos fones, coisas nada a ver, mas

taxaram a gente como terrorista. Foi quando o vice-cônsul e o assistente chegaram e conversaram com a gente. Foi nossa esperança. Eles explicaram que nossa situação era complicada, que os militares queriam levar a gente para o presídio de Puerto Ordaz, um dos presídios mais tensos. Disseram que a inteligência ficava lá e que eles iam analisar as imagens do drone, mas explicaram que se os militares conseguissem levar a gente pra lá, a gente provavelmente não voltaria, ficaria preso lá"

DRONE

"Os militares disseram para o vice-cônsul que tinha imagens no drone. Mas nós garantimos que não tinha, que a gente não tinha usado o drone em momento algum. A gente passou horas na salinha, esperando. A confusão foi com um cartão de memória com fotos antigas que estava no drone. Por fim, viram que as imagens do cartão não tinham sido feitas com drone e eram antigas. Quando o capitão chegou, deu a notícia de que a gente estava livre"

ALÍVIO

"Choramos muito de alívio. Quase não acreditamos. Depois disso conseguimos voltar para o Brasil e falar com nossas famílias. O padre Ronilson está me dando apoio aqui em Boa Vista enquanto eu não consigo trocar minha passagem para voltar para Vitória. Acredito que só vou conseguir chegar na sexta-feira"

GALERIA: VEJA FOTOS DE GABRIEL DE REZENDE SOBRE OS REFUGIADOS VENEZUELANOS EM BOA VISTA (RR)

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