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Redes sociais: terreno livre para a divulgação de bailes clandestinos

Redes sociais: terreno livre para a divulgação de bailes clandestinos

Apesar das ações da polícia, o final de semana foi de bailes lotados que viraram a noite e chegaram até o início da tarde

Publicado em 10 de junho de 2019 às 15:20

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Mensagens sobre o baile do Jaburu no final de semana. (Reprodução)

A música alta vinda do Morro do Jaburu, na Capital, virou notícia no final de semana. Sem conseguir dormir, moradores de bairros vizinhos ficaram incomodados com o som de sexta à noite até sábado de manhã. Um vídeo feito dentro do local mostrava pessoas ostentando armas. Enquanto isso, nas redes sociais, frequentadores comemoram o sucesso do baile, inclusive por ter saído na mídia, e já anunciam o próximo evento.

O baile do Jaburu, por sinal, não foi o único do final de semana. Após as reclamações de som alto e a divulgação do vídeo, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que "monitora todas as atividades criminosas naquela região e operações têm sido realizadas com objetivo de inibir a venda de drogas e prender suspeitos".

No entanto, ainda no sábado (08), um baile aconteceu no Bairro da Penha, em Vitória, o Baile do Trem Bala, com o mesmo MC carioca da festa de sexta. No Twitter, é possível ver a divulgação de mais uma edição do Trem Bala, realizado no domingo (09).

Com toda repercussão dos bailes, o perfil Família Trem Bala, no Twitter, deu um aviso aos frequentadores da festa. Veja a mensagem abaixo, da forma em que foi escrita.

"Quem tiver com filmagens do baile é pra apaga, se for pego filmando baile vai ser massagem o recado já foi dado... Quem tiver postando ai apaga logo segue o papo".

(Reprodução/Twitter)
Mensagens de bailes que circulam nas redes sociais . (Reprodução/Twitter)

TWITTER

O Twitter é a rede social onde esse tipo de baile é bastante divulgado. Em uma pesquisa rápida, é fácil encontrar a divulgação de festas, as fotos, os vídeos e os comentários sobre como foi o evento.

Um exemplo. A página do baile do GR, no Morro da Garrafa, também na Capital, fez um agradecimento aos frequentadores no último sábado (08) e já convidou para a próxima sexta.

Mensagens de bailes que circulam nas redes sociais . (Reprodução/Twitter)

"Obrigado a todos que compareceram no nosso baile mais uma vez vocês fizeram ser um baile muito embrazado até de manhã e lembrando que sexta tem mais".

ARMA EM VÍDEO

Além do vídeo já divulgado no final de semana, a reportagem do Gazeta Online teve acesso a outra imagem do baile do Jaburu, que foi compartilhada no Instagram. Demandada sobre o vídeo, a polícia informou que irá passar para inteligência avaliar se é desta sexta.

HISTÓRICO

Esse tipo de festa não é uma novidade e já foi mostrada pelo Gazeta Online em diferentes ocasiões, uma delas em abril deste ano, em uma série de reportagens sobre bailes clandestinos realizados na Grande Vitória. Frequentadores contaram que, com frequência, armas de grande porte são expostas no meio da rua e drogas são vendidas, inclusive para crianças, em guarda-chuva.

Na ocasião, o número de bailes havia diminuído e a fiscalização aumentado, porque dois jovens foram assassinados no mês de janeiro em um baile no bairro Primeiro de Maio, Vila Velha. Mas as festas voltaram e é fácil encontrar registros na internet.

Segundo fonte do Gazeta Online, o baile onde os jovens foram mortos voltou à ativa.

A festa divide opiniões. Muitos frequentadores afirmam ser a única forma de diversão barata e perto de casa. Por isso, defendem os bailes, além de ser uma fonte de renda para moradores que ganham dinheiro vendendo bebidas e alimentos nesses eventos. 

O QUE DIZ A POLÍCIA

Coronel Sartório, comandante do Policiamento Metropolitano. (Reprodução/TV Gazeta)

Questionado sobre a posição da Sesp em relação ao baile do Jaburu e a informação de que monitora as atividades na região, mas, ainda sim, os bailes continuam a acontecer, inclusive no próprio sábado, o comandante do Policiamento Metropolitano, coronel Sartório, comentou o que a polícia tem feito para tentar inibir essas festas.

Depois do Jaburu, teve baile no sábado e no domingo no Bairro da Penha. O que a polícia tem a dizer sobre isso?

Desde janeiro os bailes irregulares começaram a ser mais atrativos ao tráfico de drogas, chamam de Mandela. Com ações intensas e conjuntas com as prefeituras municipais de toda a Grande Vitória, Juizado de Infância e Juventude e Polícia Civil nós conseguimos debelar esses bailes. Tanto que até o mês pouquíssima ou nenhuma notícia desses bailes mais, sendo que em cada final de semana chegamos a ter 80 bailes.

A Polícia Militar vem fazendo operações semanais para debelar esse tipo de processo criminoso. Claro que dentre as inúmeras notícias de bailes que serão realizados nem todos são realizados porque as ações são realizadas de quinta a domingo e segunda de madrugada inclusive.

Um ou outro pode nos passar. Os bailes são realizados na maioria das vezes na madrugada e de forma não prevista. Eles fazem um chamamento via rede social, pode até lançar o banner com antecedência, mas aquilo não dá certeza da realização. De forma imprevista, lançam o baile na madrugada, o que para a gente é mais difícil de prevenir.

Depois que o baile já está sendo realizado e avolumado de pessoas, a intervenção policial é muito complexa. Até porque tem indivíduos armados, como vimos na foto, entre as pessoas de "bem" que estão ali se divertindo no baile e uma ação policial certamente terá efeitos colaterais.

Mas nesse caso específico da sexta-feira. Em uma rápida olhada no Twitter, é fácil ver que o baile durou até as 13h, que reuniu mais de 2 mil pessoas. E no sábado aconteceu outro baile, o do Trem Bala, com o mesmo MC carioca. Esse baile foi anunciado três dias antes na rede social, no dia 05 de junho. A polícia não teria como ter feito algo específico nesse sábado?

O baile do Trem Bala que vem sendo realizado no São Benedito, de domingo para segunda, eles inclusive mudaram a data da realização porque nós tínhamos operações intensas até o domingo de madrugada.

São lançados por fim de semana quase 20 ou 30 flyers desse. Muitos deles, de forma pirotécnica para tirar a atenção de uma região. Mas nós fazemos operações constantes, todo final de semana. Um ou outro baile pode passar.

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Agora não é culpa da polícia. É culpa dos realizadores, porque é um evento ilegal, e a culpa também é dos frequentadores. Quem frequenta esse baile fomenta a violência. Um baile desse é feito pelo tráfico de drogas para vender drogas e receber dinheiro com relação a isso

Coronel Sartório
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Aquela pessoa "inocente" que vai ao baile para se divertir ou fazer uso de entorpecente de forma recreativa, tanto está fomentando aquela violência e outras que acontecem no entorno como está se colocando em risco. A culpa não é da PM nem da prefeitura.

O que a polícia pretende fazer?

Vamos continuar as ações preventivas e você pode ver nas notícias anteriores que armas que aparecem nos bailes em um tempo muito breve nós capturamos essas armas. O tráfico vai tomar prejuízo em relação a isso.

As armas que são ostentadas são apreendidas em um futuro breve. Com certeza o policiamento será intensificado, e esse lucro do tráfico que tiveram com a realização do baile vão tomar em prejuízo com a perda de armas e drogas.

A polícia continua indo na casa de quem realiza o baile para evitar o evento?

Sim. Mas nós precisamos de informação. A comunidade no entorno vendo que vai ter um evento, é interessante que entre em contato com o 181 e o 190.

Nós entendemos também que muitas pessoas da comunidade acabam aferindo lucro com o evento. Só que eles também estão se colocando em risco, porque um baile desse, do nada, pode sair uma troca de tiros, como vimos em Primeiro de Maio. O baile é irregular e todos que estão frequentando ou no entorno dele estão se colocando em risco.

Coronel, em alguns bailes eles colocam até a foto da quadra onde será realizado.

(Reprodução/Twitter)

Como eu disse, a polícia monitora rede social, intervém, nós fechamos em torno de 13 a 14 bailes por final de semana e chegaram a ser 80 na Grande Vitória. É um esforço grande, consumo de recurso policial, que poderia estar fazendo policiamento em outra região. 

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Enquanto o cidadão que está frequentando ali não se conscientizar, muitas vezes é de fora da comunidade, depois vai reclamar que a residência está sendo assaltada no bairro vizinho

Coronel Sartório
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Gasto um efetivo grande em um baile que nem deveria acontecer. Inclusive, menores que frequentam o baile, nós fazemos ações conjuntas com o Juizado da Infância e Juventude. Muitos menores identificados, os pais estão sendo chamados e responsabilizados, porque estão se colocando em risco e não podem estar nesses locais.

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