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'Vitor foi executado', diz irmão de jovem morto durante a greve da PM

"Vitor foi executado", diz irmão de jovem morto durante a greve da PM

Família de Vitor Moreira Gomes quer agilidade no julgamento dos policiais acusados de matar o jovem, durante a paralisação da PM, em fevereiro de 2017

Publicado em 11 de junho de 2019 às 23:43

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A família de Vitor Moreira Gomes esperou, por mais de dois anos, por respostas para o assassinato dele. Agora, a força de seguir em frente tem muito do sorriso da filha do jovem, que nasceu uma semana depois do pai ser morto. “Ela me chama de pai. Mas olha a foto do meu irmão e diz ‘papai Vitor’. A alegria da família, dos encontros, se desfez depois que ele morreu”, contou Tiago Moreira Gomes, 27 anos, irmão mais velho. 

ENTREVISTA

Quem era seu irmão?

Vitor tinha 23 anos, tinha se tornado sócio de um lava jato havia seis meses, em São pedro, Vitória, desde que saiu do emprego de motorista de caminhão de gás. No dia que foi morto ele não estava trabalhando por causa da greve. Nós crescemos lá em Carapina Grande, todos os nosso amigos são de lá.

Meu irmão foi criado por um pai policial, tinha mãe e dois irmãos. Não usava drogas nem tinha envolvimento com o tráfico. Sempre trabalhou, nunca ganhou dinheiro de forma ilícita e tinha boas condições de vida. A esposa estava grávida e a filha dele nasceria uma semana depois da morte dele.Era sério com as pessoas na rua. Mas com quem era amigo dele era extrovertido, não media esforços para ajudar ninguém.

Como foi o dia da morte do seu irmão?

Eu estava trabalhando no dia mas, por conta da greve da PM, eu fui liberado do serviço mais cedo. Eu estava chegando em casa, a gente mora no mesmo prédio, e vi ele saindo da garagem com o carro dele. Eu havia comprado o material para fazer lanche caseiro, que ele fazia em casa pra todos. Eu disse: “eu trouxe as coisas”. Ele respondeu: “vou ali rapidinho, mas já estou voltando”. Eu subi pra casa, tomei um banho e peguei meu filho no colo. Logo, eu recebi uma ligação falando que ele estava morto.

Você foi até Carapina Grande?

Quando eu cheguei no local, passou um carro por mim. Eu não sabia que eram os assassinos do meu irmão. Lá tinham uns 11 policiais sem farda. Quando eu cheguei de carro, teve gente que correu achando que eles estavam voltado. Acontecia um churrasco numa casa em frente ao local onde meu irmão foi morto, muita gente viu.

Meu pai era policial civil, auxiliar de perícia médica. Por isso, a primeira coisa que eu fiz quando vi meu irmão foi colocar a mão no pescoço dele. Vi que ele não estava mais vivo. Eu liguei para o meu padrinho, que avisou a Polícia Civil. Cinco minutos depois o delegado chegou com a equipe dele. E foi o delegado quem me ajudou a colocar o corpo do meu irmão dentro do carro da funerária, pois nem o rabecão estava podendo ir até lá.

Seu irmão estava armado?

O meu irmão, realmente, estava armado. Meu padrasto e o irmão dele foram assassinados em setembro de 2015, em Central Carapina. Meu irmão foi testemunha do crime e só não foi morto porque conseguiu correr. Ele passou a receber ameaças, por isso mudamos da região e ele comprou uma arma. Vitor não tinha porte de arma. Por isso mesmo, mantínhamos uma reserva de cerca de R$ 3 mil para que, caso ele fosse detido por causa da arma, pagaríamos a fiança, pois não tinha a numeração raspada.

Ele revidou aos tiros dos PMs?

Tenho certeza que não. Meu pai morreu de problemas de saúde, um ano antes do meu irmão ser morto. Ele era policial civil e nos ensinou, mesmo com minha mãe brigando muito, a atirar. Sabemos manusear muito bem uma arma. Se meu irmão tivesse reagido, ele teria acerto algum desses. Os meninos que estava próximo ao meu irmão contaram que ele falou ainda: “é polícia, é polícia, fica tranquilo”.

Como ficou sua família depois da morte do Vitor?

Mudou tudo. Nós éramos muito unidos quando ele estava vivo, em especial depois que meu pai faleceu. A filha do Vítor nasceu uma semana depois que ele morreu. Ela me chama de pai, meu filho e ela tem uma diferença de 11 meses. Enterramos na segunda meu irmão e no sábado eu estava no hospital com a esposa dele, vivenciando o que ele deveria estar vivendo, que é o nascimento da filha. Eu assumi essa responsabilidade. Pra gente é muito complicado.

Aspas de citação

Minha sobrinha nasceu uma semana depois da morte do meu irmão e é muito parecida com ele. Ela pega a foto do meu irmão e diz papai Vítor.

Tiago Moreira Gomes, irmão de Vitor
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Percebo que está tudo bem recente na sua memória….

Eu falo como se fosse ontem, pois parece que passou esse tempo. Era sempre o Vitor que lembrava das datas comemorativas e queria comemorar. Agora não tem natal, aniversário. Fazemos o aniversário das crianças pois sei que ele gostaria muito.

Pelo fato de militares serem os suspeitos da morte do irmão, você chegou a desacreditar que eles seriam indiciados?

O delegado Rodrigo teve um diálogo bem aberto, passou confiança pra gente durante as investigações, informando que não ficaria impune no que dependesse dele. Chegou ao indiciamento após apurar com veemência aos fatos. Agora está nas mãos da Justiça.

Como foi receber a denúncia de que os PMs viraram réus?

Era o mínimo que a gente esperava. A gente quer que eles sejam condenados e que isso aconteça mais rápido possível. 

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O governo estadual já tratou outras situações envolvendo a greve tão rápido, como a anistia, e outras questões. A gente espera que o julgamento e punição também sejam tratados de forma rápida.

Tiago Moreira Gomes, irmão de Vitor
Aspas de citação

Quem é Tiago sem o irmão?

A vida toda trocaram os nossos nomes. A diferença de idade é de dois anos. Não consigo mais chorar. Fica o aperto no coração. Um misto de sentimentos que eu não sei explicar. Faz falta o bom humor dele, nunca mais tive uma noite completa. Qualquer barulho que ouço penso que são as pessoas me ligando contando que ele foi morto. Ele era a alegria da família.

O que você espera da Justiça daqui em diante?

No momento, meu irmão não vai voltar. Espero que sejam presos e julgados o mais rápido possível. Eles executaram meu irmão.

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