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Sequestro de bebê: saiba como a PM negociou com o pai

Sequestro de bebê: saiba como a PM negociou com o pai

Sete negociadores e quatro atiradores de elite fizeram parte da operação que terminou sem vítimas depois de quase 17h

Publicado em 28 de julho de 2019 às 23:40

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(Bernardo Coutinho/Gustavo Cheluje/Montagem Gazeta Online)

Minutos depois do ajudante de pedreiro Adilcimar Ribeiro dos Santos, de 42 anos, liberar a filha, de dois meses de idade, que manteve em cárcere privado por mais de 16h, e se entregar à polícia, o coronel da Polícia Militar (PM) Daltro Ferrari, do Comando de Policia Ostensiva Especializado (CPOE), concedeu uma entrevista coletiva para esclarecer pontos do caso. A bebê era mantida refém desde a 1h da madrugada deste domingo (28) na casa da família em Resistência, bairro de Vitória.

Para o coronel, o ponto mais complexo da operação era o fato da vítima ser uma criança de dois meses e, devido à fragilidade, estar à merce de algum dano físico, mesmo que de forma involuntária. Sobre o pai, o militar afirma que ele estava fora de si e, por isso, não sabia o que estava fazendo na maior parte do tempo. Há rumores de que ele pendurou a filha pelas pernas, mas essa situação não foi confirmada pela polícia. Sete negociadores e quatro atiradores de elite fizeram parte da operação que terminou sem vítimas depois de 16 horas e meia. 

Coronel, após mais de 16 horas de trabalho da PM, o resultado foi positivo? 

Embora o tempo tenha parecido longo, a equipe estava totalmente preparada. É uma turma que assumiu e não tem preocupação com o tempo, caso nós tivéssemos alguma ocorrência tão complexa e longa como essa. O que importa, ao final, é o resultado positivo, que é quando todos saem bem.

Ele estava muito resistente?

Em um primeiro momento, quando está tomado por uma emoção, por um surto qualquer, ele realmente não consegue compreender nem o que está fazendo nem as suas consequências. Depois que o tempo vai passando, que os negociadores altamente treinados da PM conseguem ir trabalhando com a cabeça dele, mostrando para ele a realidade dos fatos, ele vem voltando à normalidade. Conscientemente, ele mesmo veio a se entregar.

O bebê passa bem?

Uma viatura do Samu acompanhou toda ação, a preocupação principal sempre foi com a saúde daquela criança, um bebezinho de dois meses, que agora está com a mãe, está sendo amamentado, já está recebendo carinhos da mãe. 

O que o sequestrador pediu para vocês? Quais eram as exigências dele?

Ele não fez exigências porque não estava consciente ainda do que estava acontecendo, ele não fez nenhuma exigência de pedir alguma coisa. Ele não estava compreendendo os fatos, e os negociadores foram mostrando para ele todo o desenrolar do que estava acontecendo até que ele entendeu o caminho errado que estava seguindo.

O que ele falava durante as conversas?

Aí a gente entra em várias particularidades dele e nossa, a gente vai conversar com ele no sentido de criar uma amizade, criar um relacionamento, uma confiança, que é o mais importante nesse tipo de ocorrência. Nossos negociadores conseguiram conquistar a confiança dele e, com isso, caminhamos para o resultado positivo.

Tinha uma psicóloga envolvida também. Como foi essa negociação? Ele estava muito alterado ou embriagado?

De sábado para domingo foram um total de sete negociadores. No começo, ele não sabia muito do que se tratava, aparentava estar fora de si, mas a medida que o tempo foi passando, ele foi voltando à normalidade e nós fomos dando o tempo para ele ir se conscientizando do que estava acontecendo.

Ele explicou porque ele estava fazendo isso? Qual o motivo dessas ameaças, desse cárcere privado?

Parece uma briga familiar, ele não entrou em muitos detalhes, mas parece uma briga de relacionamento dele com a esposa. Os negociadores conseguiram mostrar para ele que isso não era o mais importante, que o mais importante era a vida da criança e a própria vida dele e, ao final, ele mesmo se conscientizou.

Disseram que a criança foi pendurada pelo braço e houve o boato que a criança teria se machucado. Isso é verdade?

No começo, todos falaram que ele teria pendurado a criança pelas pernas, mas é como nós falamos, naquele primeiro momento, nem ele sabia o que estava fazendo. A partir do momento que ele começou a tomar consciência, ele começou a tratar a criança como um verdadeiro pai. Alimentou a criança, pôs para dormir, deu banho. Ele, na verdade, não estava consciente de si, do que estava fazendo. O papel da PM nesse caso, com os negociadores, é trazer a pessoa para a realidade novamente e conseguiram.

Ele apontava a faca para a criança?

Em determinados momentos, sim. Mas depois ele parou.

Ele dizia que ia matar a criança?

Sim, chegou a dizer isso.

O que ele falou?

Somente isso. Que estava com a faca no pescoço e que queria matar o bebê e se matar, mas a partir do momento que a ocorrência foi transcorrendo, os negociadores conseguiram fazer ele voltar à normalidade.

Atiradores de elite foram posicionados e até um aviso teria sido dado. Procede essa informação? E também usaram drone?

O drone é uma ferramenta operacional muito importante que permite à PM, no caso, ter uma visão melhor de todo cenário. Os atiradores são outro elemento da força tática que nós temos, além de negociadores e da equipe tática Todas as ocorrências, independente se vão ser utilizados ou não, a gente procura posicionar o sniper para que ele possa, caso necessário, ser utilizado.

Foram quantos atiradores e quantas pessoas negociaram diretamente?

Foram sete negociadores e foram quatro snipers.

O trabalho em conjunto foi essencial para conseguir esse sucesso?

A Companhia Independente de Missões Especiais assume a ocorrência desse tipo de natureza, tendo em vista o preparo técnico e tático que ela desenvolve ao longo dos seus treinamentos. É uma missão que envolve toda a PM, envolveu aqui o SAMU, que está aqui desde cedo conosco também, em outras ocorrências os bombeiros estão conosco, então é uma ocorrência muito disciplinar. O positivo é nós alcançarmos ao final essa vitória e todos saírem bem.

Foi uma das operações mais complexas para a PM?

Toda ocorrência que envolve uma vítima, uma ameaça, um refém, ela é complexa. Das mais simples, com um ou dois, com arma de fogo ou sem arma de fogo, todas são complexas. Envolvendo uma criança é mais complexo ainda porque, em se tratando de uma criança de dois meses de idade, qualquer movimento, até involuntário dele, até sem querer, poderia causar um dano talvez irreparável à criança. Então sempre é uma ocorrência complexa. Desde cedo a nossa preocupação era a criança, não podíamos fazer nenhum movimento tendo em vista que qualquer coisa podia resultar na criança um mal maior.

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Com informações de Gustavo Cheluje

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