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Com quase 30 assaltos, medo se instala em agências dos Correios no ES

Com quase 30 assaltos, medo se instala em agências dos Correios no ES

O município da Serra é o mais perigoso para a categoria, totalizando 12 casos. Na terça-feira (6), a agência de Parque Residencial Laranjeiras foi roubada pela terceira vez desde este ano. No mesmo dia e bairro, um carteiro foi rendido.

Publicado em 7 de agosto de 2019 às 11:42

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Dentro das agências, trabalhadores reféns. Fora delas, carteiros sequestrados. A rotina do medo tem sido frequente no dia a dia de funcionários dos Correios, que há meses são alvos de assaltos armados.  Somente em 2019, 28 agências foram roubadas no Espírito Santo. O município da Serra é o mais perigoso para a categoria, totalizando 12 casos. Na terça-feira (6), a agência de Parque Residencial Laranjeiras foi assaltada pela terceira vez desde este ano. No mesmo dia e bairro, um carteiro foi rendido.

Embora a Polícia Federal afirme que foram 12 casos de assaltos apenas na Serra em 2019, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Correios Prestadora de Serviços Postais, Telegráficos, Encomendas e Similares do Estado do Espírito Santo (Sintect-ES) diz que esse número é ainda maior.

"Na Grande Vitória o município de Serra segue como o mais violento. Só este ano foram 14 ocorrências - 11 assaltos a unidades e 03 a carga/veículos, no entanto apenas os Correios podem responder sobre suspensão de entregas em determinadas regiões, pois se trata de uma decisão dos gerentes de cada unidade", disse o Sindicato, por nota. 

Com quase 30 assaltos, medo se instala em agências dos Correios no ES

De acordo com a Polícia Federal, o número de ataques aos Correios aumentou a partir de 2017 em todo o Estado. Em 2016 foram quatro casos e, em 2017, esse úmero aumentou para 66. No ano de 2018 foram 44 assaltos, enquanto de janeiro de 2019 até esta quarta-feira (7) foram totalizados 28 casos. O delegado Lorenzo Fontes Espósito, da PF, explicou que o grande aumento de de casos de 2016 para 2017 deu-se por algumas características da época. 

"Em 2017 houve uma diminuição na sensação de segurança por causa da greve da PM, ao mesmo tempo foi um ano de intensa crise econômica, muito desemprego. Tanto é que algumas pessoas que a gente já prendeu, por terem cometido esses crimes, são pessoas que não tinham antecedentes criminais", contou.

QUADRILHA IDENTIFICADA NA SERRA

O delegado contou que o município da Serra lidera os assaltos contra a categoria. A Polícia Federal identificou, inclusive, uma quadrilha que é da Grande Jacaraípe.

"Alguns já estão presos e outros estão seno investigados. A maioria comete crimes pela Serra mesmo, mas também já foram a outros municípios e três deles também acabaram presos no estado de Minas Gerais", contou. 

BAIRROS SEM ENTREGAS

Devido à insegurança e frequentes assaltos a carteiros, moradores de pelo menos 23 bairros da Serra ficaram sem receber entregas de janeiro a março de 2019. Nesses locais, os Correios cancelaram as entregas de encomendas, levando apenas correspondências simples.

Moradores dos bairros da Grande Jacaraípe, inclusive em trechos da Avenida Abdo Saad, a mais importante da região, precisaram se deslocar a agências dos Correios para retirar qualquer item por encomenda que deveria chegar à sua casa. O problema se repetiu em outras regiões, como Serra Dourada, Feu Rosa e Maringá, indicando que a violência deixa a população refém do perigo.

Em março de 2019 o Gazeta Online divulgou a lista dos bairros que estavam sem entregas: Alterosas, Bairro das Laranjeiras, Castelândia, Cidade Pomar, Conjunto Jacaraípe, Costa Dourada, Eldorado, Enseada Jacaraípe, Feu Rosa, Jardim Atlântico, Maringá, Novo Porto Canoa, Ourimar, Portal de Jacaraípe, Praia de Capuba, Residencial Jacaraípe, São Francisco, São Patrício, São Pedro, Serra Dourada I, Serra Dourada II, Serra Dourada III eVila Nova de Colares.

CORREIOS

A reportagem procurou os Correios para pedir atualização da lista, mas a assessoria respondeu, por nota, que devido à política de segurança, a empresa não divulga dados sensíveis que possam comprometer a segurança operacional e de seus empregados.

"A empresa, assim como todo a sociedade, também enfrenta em suas atividades problemas relacionados à segurança pública e trabalha em parceria com as polícias visando a troca de informações que possibilite a prisão dos assaltantes. Todas as agências dos Correios contam com kit de segurança composto por cofre com retardo, circuito fechado de TV e alarme monitorado. De acordo com a matriz de vulnerabilidade, também são alocados recursos adicionais, tais como vigilância armada, entre outros", disse a nota.

Com relação às áreas onde podem ocorrer a suspensão temporária do serviço de entrega de encomendas, "por se tratar de uma lista dinâmica, os Correios orientam os clientes a consultarem o CEP do destinatário no site da empresa para saber se há alguma restrição", completou. 

SINDICATO PEDIU ESCOLTA ARMADA 

Com entregas suspensas em alguns bairros da Serra devido aos índices de assaltos contra carteiros, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Correios Prestadora de Serviços Postais, Telegráficos, Encomendas e Similares do Estado do Espírito Santo (Sintect-ES) encaminhou aos Correios suas reivindicações, que incluem escolta armada. 

De acordo com o sindicato, mesmo entendendo que os crimes tratam-se de um problema de segurança pública, o número de ocorrências aumentou consideravelmente e não houve reforço na segurança.

“O aumento da violência contra trabalhadores dos Correios é alarmante. Muitos casos envolvem agressões físicas, sequestros e ameaças diretas à integridade dos trabalhadores. Em dois anos foram mais de 100 ocorrências e se antes somente carteiros eram afetados, agora todas as unidades dos Correios são alvos da bandidagem”, disse o sindicato, por nota. 

O secretário de imprensa Sindicato, Fischer Moreira, afirmou no ano passado que enquanto não houver a escolta armada, uma solução pode ser um suporte da Polícia Militar. Ele, que na época da declaração era presidente do sindicato, afirmou que muitos trabalhadores estão traumatizados. “Quem precisa fazer entrega na Serra fica em pânico. Nossa luta por segurança é para garantir a normalidade das entregas”, disse.

Procurados novamente nesta quarta-feira (7), O Sintect-ES informou por nota que ingressou com ação para solicitar mudanças estruturais nas unidades e reforço na segurança armada. "Recentemente o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) garantiu o restabelecimento de vigilantes em todas as unidades que a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) havia retirado. Foi uma pequena, mas significativa vitória para a categoria, uma vez que casos de violência continuam ocorrendo", disse a nota. 

Procurados, os Correios informaram, na época, que investem constantemente na segurança dos seus empregados e mercadorias transportadas. Disse ainda que o setor de Segurança Patrimonial da empresa está em constante contato com os órgãos de Segurança Pública.

“As agências dos Correios não são consideradas bancárias e, por isso, a lei não exige investimento em segurança como porta giratória, detector de metal, segurança armada e vidro blindado, por exemplo. Mas muitas são correspondentes bancárias e mexem com dinheiro. Os bandidos observam isso”, opinou o delegado.

PF TRAÇA O PERFIL DOS ASSALTANTES

Se os criminosos que assaltam os carteiros dos Correios costumam ter antecedentes criminais, renda baixa e ser moradores da Serra, aqueles que roubam as agências geralmente andam bem vestidos, não possuem antecedentes criminais, normalmente são de classe média e possuem alguma relação com o mundo das drogas.

O perfil dos assaltantes foi traçado pelo delegado da Polícia Federal Lorenzo Espósito. Após prender e interrogar cerca de 50 assaltantes de Correios, o delegado contou que a maioria se conhece e já participaram de roubos juntos. Alguns ainda não foram identificados.

Na ação, há diferenças se as vítimas forem carteiros em carros ou funcionários em agências. “No caso dos carteiros, os bandidos escolhem uma rua sem movimento, sequestram a vítima, alguns tentam escolher os melhores produtos, outros levam tudo. Eles não possuem tanta organização, mas não repetem os lugares de ataque”, contou.

Já em casos de agências, o delegado completou que as ações costumam durar entre 15 a 20 minutos. Eles chegam bem vestidos, com roupas sociais ou camisas pólo, para não chamar atenção. “Um bandido fica na porta dando cobertura enquanto dois ou três entram. Todo cliente que chega é rendido.”

Os cofres das agências possuem um sistema de segurança onde ele só é aberto cerca de 20 minutos após a senha. É uma forma de tentar desmotivar os bandidos. Mas eles já conhecem o sistema, ignoram isso e aguardam, fazendo funcionários reféns. Nesses minutos, tudo pode acontecer”.

Para o delegado Espósito, a falta de segurança prejudica a todos: causa prejuízo psicológico aos funcionários, financeiro aos Correios e atinge toda a sociedade que depende desses serviços.

“Após os crimes, as agências ficam fechadas para perícia e apuração interna. Traumatizados, muitos funcionários ficam de licença médica. Tudo isso faz com que os Correios deixem de prestar o serviço corretamente. Ninguém ganha com essa falta de segurança.”

O QUE DIZ A PM

Por meio da Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Militar informou que realizou reuniões, no ano passado, com representantes dos Correios para debater estratégias de proteção aos veículos de entrega e agências. Ainda no ano de 2018, a PM diz que os comandos do 6º Batalhão e da 14ª Companhia Independente, que são responsáveis pelo patrulhamento nos bairros onde os casos eram registrados, iniciaram uma série de visitas tranquilizadoras nas agências, que foram feitas por cerca de 60 dias, para inibir a atuação dos criminosos.

Nesse meio tempo, o órgão diz que outra reunião foi marcada e a PM deixou claro que, apesar de não poder fazer escolta dos Correios, ações poderiam ser instituídas para combater ainda mais a atuação dos bandidos, no sentido da distribuição, que já havia sido suspensa. A estratégia traçada seria colocar viaturas à disposição, após contato dos veículos de entrega, para acompanhar esses entregadores nas rotas já traçadas, durante determinados períodos do dia, e ainda utilizar o canil, até mesmo para rastrear encomendas suspeitas.

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A PM informou ainda que a ação daria visibilidade aos policiais e intimidaria os criminosos. Porém, após a reunião ficou estabelecido que os Correios entrariam em contato para definir essas rotas e iniciar as operações, porém o órgão nunca retomou o contato e nem demonstrou interesse em realizar esse trabalho diferenciado. "A PM se coloca à disposição para discussão de ações que possam ajudar na retomada da distribuição para a população dessas regiões e ressalta que vem reforçando todo o patrulhamento nos locais, que apresentam redução nos índices de crimes contra o patrimônio", finalizou em nota.

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