As investigações que culminaram na deflagração da Operação Ponto Cego, em que duas advogadas foram presas nesta terça-feira (20), apontam que profissionais recebiam R$ 300 reais para fazerem visitas a detentos no sistema prisional. Segundo o delegado Raphael Ramos, gerente do Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc), durante essas visitas os advogados faziam anotações de ordens de presos para outros criminosos em liberdade.
Eles cobravam cerca de R$ 300 por diligência para se visitar o preso como se fosse um atendimento jurídico regular, ver se está tudo bem ou precisando de alguma coisa, falar sobre o processo. Mas, além disso, tomavam determinações desses líderes de organização para os seus comandados no mundo exterior. E essas ordens envolviam drogas, armas, ameaças, coação a testemunhas em processos penais. Esses profissionais que foram presos hoje se prestaram a esse tipo de coisa também. Entregavam esses bilhetes, disse.
O delegado relatou o desconforto de uma das advogadas presas durante a operação. Segundo ele, a profissional detida afirmou que até se afastou dessas práticas por isso. No entanto, Ramos ressaltou a gravidade da conduta adotada.
A quantidade de informações que eles tem, de nomes de membros, contatos telefônicos é significativa. Eles são verdadeiros arquivos vivos. Então, isso gera um risco ao profissional também, porque ele rompeu a barreira ética dele e pisou do outro lado. Ele está ali para defender outra pessoa e não cooperar com ela no crime. A partir daí ele passa a ser um criminoso, explicou.
PRÁTICAS IRREGULARES
Durante as investigações, a Comissão de Segurança da OAB-ES foi comunicada. Após isso, a instituição chegou a oficiar os órgãos de segurança, solicitando atenção para práticas irregulares no exercício da advogacia, segundo o delegado. Ramos afirma que o objetivo era manter a instituição envolvida e ciente de todo o processo.
Tão logo fomos solicitados pela corregedoria (da OAB), esclarecemos a existência da investigação. Tão logo percebemos que estávamos em vias de indiciar e fazer a prisão, comunicamos a Comissão de Prerrogativa, eles acompanharam a execução disso tudo. Tivemos a preocupação, até por determinação do secretário, de fazer a coisa dentro de um padrão mais horizontal possível, com a participação de todas as instituições envolvidas e implicadas neste processo, disse.
OAB DIZ QUE ESTÁ ACOMPANHANDO
Por nota, a OAB afirmou que está acompanhando as investigações sobre o caso e que já avalia, dentro da legislação vigente, a possível abertura de processo ético-disciplinar contra as advogadas acusadas.
Ao mesmo tempo, também cumprindo determinação prevista em lei federal e defendendo as prerrogativas da advocacia, a Ordem exigirá na Justiça que as advogadas sejam custodiadas em Sala de Estado Maior ou que, na falta dessa estrutura, sejam soltas, concluiu.
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