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Investigação aponta que advogados recebiam R$ 300 por visita a detentos

Investigação aponta que advogados recebiam R$ 300 por visita a detentos

Segundo as investigações da Operação Ponto Cego, durante essas visitas os advogados faziam anotações de ordens de presos para outros criminosos em liberdade

Publicado em 25 de agosto de 2019 às 12:06

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Data: 20/08/2019 - ES - Vitória - Operação Ponto Cego do Nuroc prende duas advogadas. Elas escreviam cartas com recados de bandidos para facções no ES - Editoria: Cidades - Foto: Carlos Alberto Silva - GZ. (Carlos Alberto Silva)

As investigações que culminaram na deflagração da Operação Ponto Cego, em que duas advogadas foram presas nesta terça-feira (20), apontam que profissionais recebiam R$ 300 reais para fazerem visitas a detentos no sistema prisional. Segundo o delegado Raphael Ramos, gerente do Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc), durante essas visitas os advogados faziam anotações de ordens de presos para outros criminosos em liberdade.

“Eles cobravam cerca de R$ 300 por diligência para se visitar o preso como se fosse um atendimento jurídico regular, ver se está tudo bem ou precisando de alguma coisa, falar sobre o processo. Mas, além disso, tomavam determinações desses líderes de organização para os seus comandados no mundo exterior. E essas ordens envolviam drogas, armas, ameaças, coação a testemunhas em processos penais. Esses profissionais que foram presos hoje se prestaram a esse tipo de coisa também. Entregavam esses bilhetes”, disse.

O delegado relatou o desconforto de uma das advogadas presas durante a operação. Segundo ele, a profissional detida afirmou que até se afastou dessas práticas por isso. No entanto, Ramos ressaltou a gravidade da conduta adotada.

“A quantidade de informações que eles tem, de nomes de membros, contatos telefônicos é significativa. Eles são verdadeiros arquivos vivos. Então, isso gera um risco ao profissional também, porque ele rompeu a barreira ética dele e pisou do outro lado. Ele está ali para defender outra pessoa e não cooperar com ela no crime. A partir daí ele passa a ser um criminoso”, explicou.

PRÁTICAS IRREGULARES

Durante as investigações, a Comissão de Segurança da OAB-ES foi comunicada. Após isso, a instituição chegou a oficiar os órgãos de segurança, solicitando atenção para práticas irregulares no exercício da advogacia, segundo o delegado. Ramos afirma que o objetivo era manter a instituição envolvida e ciente de todo o processo.

“Tão logo fomos solicitados pela corregedoria (da OAB), esclarecemos a existência da investigação. Tão logo percebemos que estávamos em vias de indiciar e fazer a prisão, comunicamos a Comissão de Prerrogativa, eles acompanharam a execução disso tudo. Tivemos a preocupação, até por determinação do secretário, de fazer a coisa dentro de um padrão mais horizontal possível, com a participação de todas as instituições envolvidas e implicadas neste processo”, disse.

OAB DIZ QUE ESTÁ ACOMPANHANDO

Por nota, a OAB afirmou que está acompanhando as investigações sobre o caso e que já avalia, dentro da legislação vigente, a possível abertura de processo ético-disciplinar contra as advogadas acusadas.

“Ao mesmo tempo, também cumprindo determinação prevista em lei federal e defendendo as prerrogativas da advocacia, a Ordem exigirá na Justiça que as advogadas sejam custodiadas em Sala de Estado Maior ou que, na falta dessa estrutura, sejam soltas”, concluiu.

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