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'Nossa família desabou', diz mulher de capixaba sequestrado no Rio

"Nossa família desabou", diz mulher de capixaba sequestrado no Rio

Operação policial encontrou possíveis restos mortais dos seguranças; famílias ainda aguardam pelo resultado do exame de DNA

Publicado em 21 de agosto de 2019 às 23:34

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Família de Eder Henrique de Moura Teixeira aguarda por respostas na casa da mãe do segurança capixaba, em Baixo Guandu. (Larissa Avilez)

“Nossa família desabou porque, agora, temos quase certeza de que eles estão mortos; mas, de certa forma, é um alívio, porque estávamos muito angustiados, sem saber o que poderia ter acontecido”. Sintetizando um misto de sentimentos, esta foi a fala de Leidiane Fernandes de Oliveira Moura, esposa de Éder Henrique de Moura Teixeira, um dos seguranças capixabas sequestrados no Rio de Janeiro, no último dia 27 de julho.

Nesta quarta-feira (7), 12 dias depois do crime, uma operação policial realizada na Comunidade do Lixo, na cidade fluminense de Cabo Frio, encontrou um carro e uma moto carbonizados, que podem pertencer aos seguranças, já que eles foram sequestrados no local. Envolvidos em pneus queimados, a polícia também encontrou ossadas e restos mortais, que ainda passarão por exames para detectar se são, ou não, de Éder ou de Luiz Paulo dos Santos França.

Carro da vítima . (Divulgação Polícia Civil RJ)

Mãe de duas meninas, incluindo uma de cinco anos que é filha de Éder, Leidiane voltou na quarta-feira (31) para Baixo Guandu, no Noroeste do Espírito Santo. “Eu estava no Rio acompanhando as investigações, mas não tinha como ficar mais. Precisava trabalhar e cuidar das minhas filhas”, comentou. “De qualquer forma, tem família deles lá ainda, incluindo um irmão que está desde o início. Agora queremos uma resposta concreta do DNA”, completou.

NOVA ESPERA

Depois de aguardar longos dias por alguma informação acerca do paradeiro do segurança, a família de Éder agora pode precisar esperar até um mês para receber o resultado do Instituto de Pesquisa Perícias Genética Forense (IPPGF) do Rio de Janeiro, para onde foram encaminhados os restos mortais dos corpos encontrados na operação.

“Toda a família ficou muito triste, ainda estamos nos recompondo. A gente sabe que pode ser ele, mas não podemos garantir. É difícil, mas, ao mesmo tempo, estamos esperando o exame para concretizar se realmente é o Éder. Enquanto isso não acontece, não damos o caso por encerrado”, disse um familiar que preferiu não ser identificado.

“MALDADE GRATUITA”

Sem poder imaginar que seria sequestrado e torturado, Éder foi ao Rio de Janeiro em busca de uma melhor qualidade de vida. “Em Baixo Guandu, ele trabalhava entregando água mineral e gás. No Rio, ele ia trabalhar com vigilância noturna, daquelas que passam com moto na rua. Não usavam arma, era um trabalho comum”, explicou o parente.

O problema teria começado na oferta do serviço à Comunidade do Lixo. “Eles não sabiam que lá era comandado por uma facção criminosa, que levou o trabalho como uma invasão de território”, contou. “O que fizeram com eles foi muita covardia, uma maldade muito grande! Matar, queimar, colocar fogo no carro do menino, que ainda estava sendo pago”, desabafou o familiar.

AS INVESTIGAÇÕES

O caso foi registrado na 126ª Delegacia de Polícia de Cabo Frio. (Reprodução | Google Maps)

De acordo com o delegado Sérgio Simões Caldas, titular da 126ª Delegacia de Polícia de Cabo Frio, cerca de 150 policiais participaram da operação, que tinha como objetivo encontrar os seguranças Éder Henrique, de 32 anos, e Luiz Paulo dos Santos França, de 29 anos. A Polícia Militar e a polícia das Forças Especiais também participaram das buscas, inclusive com aeronaves.

"Não temos como confirmar, mas presumo que eles podem estar mortos. Além do carro e moto carbonizados, acredito que uma facção perigosa aqui do Rio de Janeiro tenha feito o mesmo com eles. A morte pode ter sido no que bandidos chamam de micro-ondas, já que encontramos pedaços humanos em pneus", disse.

Os corpos foram encaminhados para o Instituto de Pesquisa Perícias Genética Forense (IPPGF) do Rio de Janeiro. "A equipe de perícia nos acompanhou. O resultado pode sair daqui a 20 ou 30 dias, assim poderemos confirmar se os corpos são deles ou não", pontuou.

O delegado informou ainda que, durante as buscas, a polícia foi recebida na favela com tiros, que resultou na morte de um dos suspeitos de ter participação na morte das vítimas. "Fomos recebidos a tiros e revidamos, um deles morreu e conseguimos prender outros três que participaram dessa crueldade", relatou.

A polícia acredita que os veículos foram levados à São Pedro da Aldeia e incendiados um dia após o sequestro. Os veículos foram localizados após denúncias, na última segunda-feira (5) no bairro Ponta do Ambrósio, em São Pedro da Aldeia, cidade vizinha.

O carro e moto foram rebocados e levados até a 126ª Delegacia de Polícia. Desde da última sexta-feira (3), uma força-tarefa foi montada pelas polícias Civil e Militar e Corpo de Bombeiros. O delegado Sérgio Caldas, responsável pelo caso, acredita que o caso será resolvido nas próximas horas.

O CASO

Três seguranças que saíram do Espírito Santo, com destino a Cabo Frio, no Rio de Janeiro, foram sequestrados e torturados por uma facção criminosa, no sábado, dia 27 de julho. A Polícia Civil acredita que os profissionais, que faziam segurança de casas no Bairro Parque Bule, no estado fluminense, foram confundidos com milicianos.

De acordo com o delegado Sérgio Simões Caldas, as três vítimas possuem uma microempresa que presta um apoio comunitário de vigilância noturna não armada. Há quase três anos estabelecidos em Campos dos Goytacazes - no interior do Rio, os seguranças decidiram expandir os negócios na Região dos Lagos.

"Como não conhecem a região, eles começaram a executar essa atividade em um bairro chamado Guarani. Esse bairro fica ao lado da favela mais violenta da cidade, a Comunidade do Lixo. Um dos panfletos distribuídos pelos rapazes, oferecendo os serviços de segurança noturna, chegou aos traficantes, que tiveram essa reação absurda", afirma.

Durante operação . (Divulgação Polícia Civil RJ)

Segundo o delegado, por volta das 23 horas, traficantes da Comunidade do Lixo sequestraram os três rapazes. Ele explica que atrás dessa favela há uma imensa duna. No local, as três vítimas foram torturadas.

"Em determinado momento, por uma distração dos traficantes, um dos seguranças, em uma atitude de muita coragem, conseguiu correr e alcançar um matagal ao lado. Após correr cerca de 50 metros, passou por um pequeno valão - de cerca de três metros de largura, e ganhou outro matagal. Apesar de ferido, ele andou por cerca de um quilômetro até chegar à outra comunidade, conhecida como Vila do Sol", contou.

No local, a vítima conseguiu socorro, apoio da Polícia Militar e do Corpo dos Bombeiros, e foi conduzida ao Hospital. O delegado esteve com o segurança na manhã do domingo e na segunda-feira, dias 28 e 29 de julho.

"Ele está colaborando com as investigações e está sob os nossos cuidados. A advogada do sobrevivente, além dos familiares dos três seguranças, estão aqui na Cidade".

Ao Gazeta Online, o delegado Sérgio Simões Caldas contou que familiares dos desaparecidos prestaram depoimento à polícia no dia 29. O delegado ainda afirmou que a Comunidade do Lixo é comandada por uma facção criminosa e que há um grande índice de violência na região. "Há uma guerra entre as facções e a milícia", afirmou o delegado.

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Por meio de nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que policiais civis, militares e o Corpo de Bombeiros realizaram buscas para tentar encontrar os corpos dos desaparecidos. "A vítima sobrevivente está ajudando os policiais nas buscas e as investigações estão em andamento", finalizou a nota.

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