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'Espero ele voltar', diz mãe de empresário que desapareceu em Linhares

"Espero ele voltar", diz mãe de empresário que desapareceu em Linhares

Cirene Maria Siqueira Lana mantém a esperança de encontrar o filho, Douglas Siqueira Lana. Ele desapareceu em 21 de setembro de 2018 com o piloto Mayke Stefanelli Barcelos

Publicado em 19 de setembro de 2019 às 13:09

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Douglas e Cirene no aniversário de 30 anos do empresário. (Arquivo pessoal)

Há um ano, o coração de uma mãe está dilacerado. Sem saber o paradeiro do filho, o empresário Douglas Siqueira Lana, que desapareceu no dia 21 de setembro de 2018 após um voo de asa-delta motorizada com o piloto Mayke Stefanelli Barcellos, a dona de casa Cirene Maria Siqueira Lana tenta ter a força necessária para seguir em frente.

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Depois, pronto, acabou. A gente não teve mais notícias. Eu estive na delegacia em Linhares e não me falaram nada. Agora, meu marido quer voltar na delegacia para ver se tem alguma novidade na investigação. É muito tempo para não ter nada

Cirene Maria Siqueira Lana, mãe de Douglas
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A ENTREVISTA

- Como está seu coração um ano depois do desaparecimento do Douglas?

Olha, o coração está dilacerado. Este ano, que passamos sem notícia dele, ficamos na expectativa de uma resposta. Mas, infelizmente, a gente fica com esse ponto de interrogação. É muito difícil.

- Vocês se encontravam com frequência?

Ele estava morando em Colatina e eu moro em Mantenópolis. Nos finais de semana, ele não vinha mais em casa com a mesma frequência. Só depois do desaparecimento que eu soube que o Douglas estava fazendo aulas com o Mayke. Me disseram que ele fez cinco ou seis aulas, sobrevoando por Linhares.

Uma semana antes do sumiço, ele enviou um vídeo voando com o Mayke. Eu esperei ele vir em casa para a gente falar a respeito. Eu tenho medo de altura e não gosto de voos assim, nessa asa-delta. Mas depois ele fez a viagem para a Bahia e a gente nem sabia.

- Quando soube que seu filho estava desaparecido?

Um dia antes (da viagem), eu perguntei se ele vinha passar o final de semana aqui em Mantenópolis. Ele disse que tinha um evento para ir e não poderia vir. Só fiquei sabendo que ele tinha ido sobrevoar e havia desaparecido e no sábado (22 de setembro), por volta do meio-dia.

O sócio dele me ligou e disse: ‘O Douglas saiu num Trike e sumiu, nós estamos procurando’. Eu respondi: ‘Você está brincando?’. Não conseguia acreditar. Entrei em contato com meu marido e no domingo (23 de setembro), pela manhã, ele foi para Linhares e ficou vários dias.

- O Douglas e o Mayke eram amigos?

Não, meu filho não era amigo dele. Eles se conheceram através de um amigo. Soube depois também que meu filho estava negociando com ele para comprar um Trike. Ele saia de Colatina e ia até Linhares para ter as aulas com o Mayke. O sócio do Douglas até o alertou que era perigoso andar nessa aeronave.

O sócio e a namorada do Douglas eram contra essa viagem para a Bahia. Mas diz que o Mayke dizia que essa asa-delta é igual passarinho e posa em qualquer lugar. Depois, soubemos que tinha um monte de irregularidades.

- Por qual motivo a senhora acha que o Douglas não te contou sobre os planos de comprar uma asa-delta motorizada?

Eu sou muito medrosa, ia ficar falando na cabeça dele contra isso, ia questionar. Ele queria tirar brevê (documento com permissão para pilotar aviões), chegou a fazer todo o curso em Brasília e falou que ia fazer as aulas práticas. Ele estava muito empolgado e eu já tinha alertado que era perigoso. Então acredito que ele não falou para mim sobre voar de Trike porque eu ia questionar. Se pelo menos fosse algo maior e mais seguro...

Então, o Douglas gostava de aviões?

Quando era criança, ele via aviões e helicópteros e gostava muito. Ele sempre gostou, a namorada até me contou que eles sobrevoaram de helicóptero. Mas eu tenho medo de altura, nunca gostei dessa coisa de voar.

- O que seu coração diz sobre o desaparecimento do seu filho?

Não sei falar o que meu coração me diz. Eu tenho esperança que, de repente, ele apareça. Como não o vi morto, eu tenho esperanças. Ainda espero ele voltar.

Não desfiz de nada, trouxe as coisas dele para um apartamento que tenho aqui em Mantenópolis. Decidi dar um tempo, sabe? Roupas, calçados, móveis... Tirei de um lugar e trouxe para outro. Como isso machuca! É muito sofrimento, é terrível.

- Vocês também tiveram que lidar com vários boatos desde o desaparecimento deles, não é?

As pessoas falam bobagem. Dizem que eles fugiram como namorados, ou que o Douglas fugiu por ter dívidas, mas é tudo mentira. Ele era empresário, fez muitos cursos, trabalhava bastante e estava muito bem financeiramente.

- Qual é o maior sonho do Douglas?

O sonho dele era construir a casa própria. O lote dele está lá, parado. Vejo a planta que ele fez e dói meu coração. Meu filho ia construir a casa dos sonhos dele, fez uma planta linda.

Ele viajava muito, conhecia o Brasil inteiro, foi para lugares como o Nordeste, o Sul, Parintins, Oktoberfest. Tudo isso ele ia, passeava bastante. Mas disse que ia economizar a partir de janeiro deste ano para começar a construir a casa.

Ia ter piscina, área de churrasqueira… Ele comprou o lote e pagou tudo. Fica em frente à Santa Casa de Misericórdia, em Colatina. É uma região muito boa, só de casas bonitas.

A gente fica de mãos atadas. Trouxemos o carro dele e falei para meu esposo vender. Ele não queria, mas falei que, se o Douglas aparecer, ele compra outro.

- Como foi para a senhora quando as buscas foram suspensas?

As autoridades não nos procuraram para falar que iam encerrar as buscas. Eu acho que não tinham que parar, deveria ser uma questão de honra desvendar esse mistério. Deram certeza absoluta que eles estavam na água, mas cadê?

Eu busco forças pensando que não sou a primeira nem a última a passar por uma situação dessa, de ter um filho desaparecido. Fica um ponto de interrogação e você vai sobreviver para sempre com isso. Eu acho que a gente nunca vai ter resposta.

FAMÍLIA DO PILOTO

A família do piloto Mayke Stefanelli Barcellos também foi procurada pela reportagem para falar sobre o desaparecimento. Pelo telefone com a TV Gazeta Norte, o pai dele, Jânio Stefanelli Barcellos, disse que não queria dar entrevista. Ele afirmou apenas que a família continua as buscas por conta própria.

INVESTIGAÇÕES

Em nota, a Polícia Civil informou que a investigação continua em andamento pela Delegacia Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Linhares. “Os levantamentos realizados até o momento não indicam a ocorrência de prática criminosa”, diz a nota.

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A polícia conta com a colaboração da população e qualquer contribuição pode ser feita por meio do Disque-Denúncia 181 ou pelo site disquedenuncia181.es.gov.br. O anonimato e todas as informações são investigadas, de acordo com a PC.

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