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Veja a lista dos bairros onde os motoristas de aplicativo não entram

Veja a lista dos bairros onde os motoristas de aplicativo não entram

Levantamento aponta 26 áreas perigosas na Grande Vitória. Só de Vila Velha, são 17 bairros na lista

Publicado em 9 de setembro de 2019 às 00:00

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Quase cinco meses depois de inaugurada, Leste-Oeste continua às escuras e vira alvo de assaltantes. Na foto Luiz Fernando Müller, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo do Estado. FOTO: KAIQUE DIAS. (Kaique Dias)

Os frequentes assaltos a motoristas de aplicativo tiraram da rota de muitos desses profissionais 26 bairros da Grande Vitória que são considerados áreas de risco. Vila Velha é onde concentra a maioria dos destinos, boa parte na região de Terra Vermelha.

Mas há também bairros da Serra, Cariacica e da Capital. Viagens à noite praticamente deixaram de ser feitas e, mesmo durante o dia, o motorista avalia as circunstâncias para confirmar ou não a corrida.

 

Presidente da Associação de Motoristas de Aplicativo do Espírito Santo (Amapes), Luiz Fernando Müller conta que o levantamento foi feito a partir de relatos de ocorrências dos profissionais. “É um medo constante de entrar em determinados bairros. Se o motorista mora no local, não há perigo, mas se vai buscar ou deixar passageiro, o risco existe.”

 O problema, segundo Luiz Fernando, vai além da possibilidade de roubo. As disputas por ponto de tráfico nesses locais também deixam os motoristas vulneráveis, podendo ser confundidos com rivais ou serem alvos de balas perdidas.

 Faróis baixos

O próprio Luiz Fernando já se viu numa situação de apreensão, ao deixar uma passageira numa região de Vitória. Ela o orientou a deixar a janela do carro abaixada e também diminuir os faróis.

 Na chegada, tudo tranquilo. Mas, quando voltou, foi abordado por um jovem com radiocomunicador - típico instrumento usado pelo tráfico.

 “Eu disse que tinha ido deixar uma passageira, ele elogiou o carro e fui embora. Mesmo assim, me senti ameaçado. Quando a gente vai deixar um morador, está acompanhado por ele, tudo bem. Mas depois a gente volta sozinho. O medo é ser confundido com alguém de outra gangue”, afirma.

 O motorista Marcos Antônio do Nascimento Junior, 31, também faz parte das estatísticas: foi assaltado duas vezes e vítima de uma tentativa, num intervalo de apenas seis meses, de novembro passado a maio deste ano.

 

No primeiro assalto, uma mulher pediu a corrida pelo aplicativo mas, quando chegou, eram dois homens. Da segunda, um cadeirante o assaltou com um comparsa.

 

Da última vez, era Dia das Mães, e quando percebeu que poderia ser assaltado, começou a falar das dificuldades que passava, que queria estar com a mãe, mas precisava trabalhar, e antes de descer, um dos passageiros disse que não o assaltou pelo que ele havia falado.

 

“Depois disso, seleciono bastante onde vou. À noite, principalmente, só dá para circular em algumas áreas. E, se suspeito de algum passageiro, passo um código para minha mulher e ela avisa à polícia”, disse.

 

Os bairros fora da rota dos motoristas

 

Vitória

Andorinhas

Bairro da Penha

Inhanguetá

 

Vila Velha

Barra do Jucu

Barramares

Cidade da Barra

Cobi de Baixo

Cobi de Cima

Jabaeté

Morada da Barra

Normília da Cunha

Praia da Concha

Praia dos Recifes

Primeiro de Maio

Riviera da Barra

Santa Rita

São Conrado

Terra Vermelha

Ulisses Guimarães

23 de Maio

Serra

Bairro das Laranjeiras

Central Carapina

Jardim Carapina

Ourimar

 

Cariacica

Flexal

Padre Gabriel

Operações da PM para cercar criminosos

Para coibir assaltos a transporte de passageiros, a Polícia Militar tem feito operações sistemáticas na Grande Vitória. Mas, nem sempre, o motorista de aplicativo é alcançado pela medida. A recomendação é que, para aumentar a segurança desses profissionais, os carros que utilizam sejam identificados com adesivos nas laterais.

 

Comandante de Policiamento Ostensivo Metropolitano, o coronel Márcio Sartório diz que, de janeiro até o último dia 5, foram realizadas 913 operações parando táxis e 2.837 taxistas foram abordados. Outras 15.259 abordagens foram feitas a veículos de passeio que, eventualmente, também eram usados para o serviço de transporte por aplicativo.

 

“Na de táxis, a operação não é seletiva. Todo motorista que passar, é parado. É uma ação específica. No caso dos veículos de passeio, é um grupo muito maior e o motorista de aplicativo pode ser parado ou não. Por isso, recomendamos que identifiquem o carro de alguma maneira, o mais ostensivo possível, com adesivos nas laterais ou mesmo letreiros luminosos. Assim, eles sempre vão ser parados”, ressalta o comandante, acrescentando que não se trata de responsabilizar os motoristas pelo crime, mas uma forma de aumentar sua segurança.

 

O coronel Sartório aponta ainda que, desde que as operações se tornaram frequentes, as ocorrências diminuíram. Entre os taxistas, a redução no número de roubos chegou a 64%, num comparativo de 2018 e 2019. Os roubos de veículos de maneira geral caíram 36%.

 

Patrulhamento

Além das ações de abordagem, o comandante afirma que o patrulhamento é rotineiro nos bairros identificados pela Associação de Motoristas de Aplicativo do Espírito Santo (Amapes) como áreas de risco. O coronel Sartório reconhece que boa parte das regiões citadas pela entidade tem grande influência do tráfico de drogas, e que, além da disputa por pontos de comercialização, também há ações de criminosos que tentam se capitalizar com fruto de roubos.

 

O motorista David Pereira, 34, que já foi alvo de disparos, e teve a arma apontada para o rosto, em duas ocorrências distintas em Vila Velha, identificou seu carro e espera que a medida aumente sua segurança, embora alguns bairros também tenham saído da sua rota.

 

Presidente da Amapes, Luiz Fernando Müller considera a estratégia de identificação do carro boa, mas avalia que também há riscos. “Dependendo do bairro onde entra, pode ser visto como uma ameaça. Recentemente, em Andorinhas (Vitória), morreu um líder do tráfico e, como havia passado um motorista por lá, começou a circular o comentário que todo mundo de aplicativo era suspeito”, finaliza.

 

Guarda é estratégia

 

Prefeituras da Grande Vitória usam o trabalho da Guarda Municipal e sistemas de videomonitoramento para coibir a violência nos bairros.

 

“Apesar de não ser competência dos municípios, a gente tem tentado contribuir para o policiamento ostensivo com a guarda que, na atual administração, passou a atuar 24 horas. Além disso, o número de câmeras de videomonitoramento passou de 42 para 230 e implantamos o cerco de segurança”, relaciona o coronel Fronzio Calheira, secretário de Segurança Urbana de Vitória.

 

Na Serra, o secretário de Defesa Social, Maximiliano Werneck, também ressalta o trabalho da Guarda Municipal, e aponta que, nos bairros do município identificados como perigosos para os motoristas, há também videomonitoramento. “No Bairro das Laranjeiras, temos até um cronograma de blitze.”

 

Em Vila Velha, a prefeitura informa que um novo padrão operacional da Guarda está melhorando as condições de segurança. Já Cariacica, destaca a presença da Força Nacional, em bairros como Flexal.

OS CASOS

VITÓRIA

 

Confusão

Na última semana, um motorista de 54 anos pegou um passageiro que havia solicitado a corrida em nome de uma mulher. Ao ser questionado, disse que o pedido tinha sido feito pela mãe. No caminho, anunciou o assalto, levando celular e dinheiro. O motorista fez queixa ao Ciodes e, por um erro do operador, ficou registrado que o carro também havia sido levado. Antes de chegar em casa, foi parado em uma blitz por ter sido confundido com o bandido. A confusão só foi desfeita na delegacia.

 

Serra

 

Amarrado

Três bandidos solicitaram uma corrida em São Diogo I, na manhã de 10 de julho, e no trajeto anunciaram o assalto ao motorista de aplicativo de 41 anos. Como ele não tinha dinheiro, foi agredido e deixado no carro amarrado com o cinto de segurança.

 

Baleado

No segundo dia de trabalho, um motorista foi baleado durante uma viagem, no bairro Jardim Carapina. O carro dele foi alvejado por criminosos.

 

Vila Velha

 

Morte

Marcus Vinícius Carvalho Baptista, 40 anos, foi encontrado morto no dia 17 de agosto, no porta-malas de seu carro, na Ponta da Fruta. Ele era representante comercial e também atuava como motorista de aplicativo.

 

Refém

Um motorista foi feito refém de criminosos na noite de 13 de junho, quando deixava um passageiro no bairro Planalto. Depois de uma hora em poder dos criminosos, foi abandonado na Rodovia Leste-Oeste.

 

Cariacica

 

Amordaçado

Um motorista de aplicativo, de 36 anos, foi amarrado, amordaçado e jogado em um matagal por dois criminosos que fingiram ser passageiros, na noite de 13 de agosto. Ele pegou a corrida nas imediações do Terminal de Campo Grande, com destino a Alzira Ramos, local em que foi anunciado o assalto.

 

Festa

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Quatro jovens foram presos e três adolescentes apreendidos acusados de roubar e matar a pauladas o motorista de aplicativo Aldo Souza dos Reis, de 32 anos, em 7 de junho, no bairro Vista Linda. A motivação era conseguir dinheiro para bancar uma festa na região.

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