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Lula ataca presidente do TRF-4 e diz que Moro deve ser exonerado

Lula ataca presidente do TRF-4 e diz que Moro deve ser exonerado

No Rio, ex-presidente participa de encontro com artistas e intelectuais

Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 10:50

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O ex-presidente Lula. (Instituto Lula | Divulgação)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atacou o presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, na noite desta terça-feira. Pouco antes, no mesmo evento, no Teatro Oi Casa Grande, na Zona Sul do Rio, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), já havia criticado o magistrado. Na semana que vem, a corte vai julgar o recurso da defesa de Lula contra a condenação no caso do tríplex do Guarujá — o ex-presidente foi condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

— Não vou falar mal dos juízes de Porto Alegre porque não os conheço. Acho estranho o presidente do tribunal não ter lido a sentença e ter falado que era irretocável. Estranhei um cara (desembargador) ler não sei quantas mil páginas em poucos dias, mas, como tem leitura dinâmica, pode ser. O que me chamou atenção foi que esse cidadão vai a Brasília pedir proteção da Suprema Corte, no Temer, no Etchegoyen, sem dizer quem está ameaçando. Esse cidadão é bisneto do general Thompson Flores, que invadiu Canudos e matou Antônio Conselheiro. É da mesma linhagem. Quem sabe esteja me vendo como cidadão de Canudos — disse Lula.

O ex-presidente sugeriu ainda que o juiz Sergio Moro, que o condenou em primeira instância, deveria ser exonerado, pelo "bem do serviço público". Já Gleisi afirmou que o partido radicalizou o discurso nos últimos dias porque é preciso ter "direito à indignação" — segundo ela, a condenação de Lula é "injusta". A senadora ironizou ida do presidente do TRF-4 a Brasília, onde se encontrou com a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia. Thompson Flores relatou que os desembargadores que vão analisar o recurso da defesa de Lula sofreram ameaças. A oitava seção, responsável pelos processos da Lava-Jato em segunda instância, é composta por três desembargadores: Leandro Paulsen, João Pedro Gebran Neto e Victor Laus.

— Eles (desembargadores) não precisam ter medo, ir lá conversar com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça, também presidido por Cármen) e pedir reforço de segurança. Nunca fizemos atos agressivos, mas não vamos ser mansos vendo a desconstrução do nosso país. Não ficaremos de braços cruzados vendo a injustiça perseverar — disse Gleisi.

Em outro momento, Lula ironizou a acusação de que recebeu um apartamento no Guarujá como propina da empreiteira OAS em troca de benefícios em contratos na Petrobras. Ao citar a infância pobre, Lula afirmou que nunca roubou naquela época e que, portanto, não faria sentido roubar depois de firmar um "compromisso com o povo brasileiro".

— Eu ia roubar apartamento de R$ 500 mil quando poderia ter apartamento cheio de mala com dinheiro, quando poderia estar participando desse conjunto da Odebrecht, ter participado de conta na Suíça? — disse.

'NINGUÉM É OBRIGADO A APOIAR'

O ato também expôs algumas das divergências que têm marcado o debate da esquerda sobre a eleição presidencial. O PDT, aliado em outras campanhas, já lançou a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes; o PC do B, aliado histórico, apresentou o nome da ex-deputada Manuela d'Ávila. O PSOL, que se posicionou contra o impeachment de Dilma Rousseff, analisa a possibilidade de lançar a candidatura do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guiherme Boulos. Lula, que discursou depois de Boulos, disse que "ninguém é obrigado" a apoiar sua candidatura à Presidência da República. O ex-presidente reforçou que quer ser candidato para demonstrar a inocência e para que o país volte a passar por "momentos melhores". Lula também ironizou possíveis adversários, como o apresentador Luciano Huck — "eles querem transformar o país no Caldeirão do Huck" — e o deputado Jair Bolsonaro.

— Será que esses caras (adversários) não pensaram que, ao extirpar os tumores, tipo Lula, Dilma (Rousseff) e PT ia surgir o Bolsonaro? Agora estão preocupados e começaram a bater no Bolsonaro. Ele vai aprender o que é bom.

Quando ocupou o microfone, Boulos afirmou que há uma "perseguição deslavada" contra Lula, disse que irá a Porto Alegre no dia do julgamento no TRF-4, mas procurou marcar uma distância do PT.

— Para defender o Lula não é preciso defender seu programa integralmente, nem estar 100 por cento sintonizado com seu programa, basta defender a Constituição — ponderou.

O ator Gregório Duvivier foi além e aproveitou o discurso em defesa da participação de Lula na eleição para separar a participação no ato de um possível endosso à campanha presidencial do petista:

— Não sei se vou votar nele (Lula). Vai depender das alianças que ele fizer. Por mais carismático que ele seja, vamos pressioná-lo para que faça alianças à esquerda — disse o ator, que foi aplaudido por parte da plateia e pelo próprio Lula.

Chico Buarque, que assinou o manifesto em defesa do ex-presidente e militante histórico do PT, não apareceu. Mas a classe artística foi representada por nomes como a cantora Beth Carvalho, os atores Osmar Prado e Herson Capri. Do mundo político, o ex-ministro Celso Amorim, o senador Lindbergh Farias e a deputada Benedita da Silva (RJ) foram alguns dos nomes. Do meio acadêmico, participaram do evento o antropólogo Luiz Eduardo Soares e a filósofa Márcia Tiburi, entre outros.

Lula chegou por volta de 19h40m — só foi discursar depois das 22h, no entanto — e desceu do carro bem na porta do teatro, sem passar pelos simpatizantes que o aguardavam e tampouco pelos opositores que o insultavam do outro lado da calçada. Antes do encontro no teatro, a Avenida Afrânio de Mello Franco ficou dividida em duas: próximo à entrada, apoiadores do ex-presidente, em maior número, cantavam jingles de campanhas passadas; do outro lado, um pequeno grupo gritava palavras de ordem contra o petista e exibia faixas pedindo a prisão do ex-presidente e defendendo a volta da ditadura militar. Houve provocações, mas não confronto.

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