> >
Pauta conservadora domina deputados alinhados à esquerda no ES

Pauta conservadora domina deputados alinhados à esquerda no ES

Dos nove deputados que votaram pela derrubada do veto do governador no projeto das artes, seis são de partidos considerados progressistas

Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 23:58

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
(Gazeta Online)

Dos 30 deputados existentes na Assembleia, nove votaram pela derrubada do veto do governador Paulo Hartung (PMDB) ao projeto que visava proibir no Estado exposições artísticas com suposto teor pornográfico. Seis destes parlamentares, porém, são de partidos que historicamente estão situados no espectro ideológico progressista, o que na teoria vai de encontro a proposição do deputado Euclério Sampaio, considerada por muitos como conservadora.

O próprio autor do projeto faz parte de um desses partidos mais alinhados à esquerda, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), do qual também faz parte o deputado Josias da Vitória. Os demais são Honório Siqueira, do Partido dos Trabalhadores (PT), Bruno Lamas e Eustáquio Freitas, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Ainda acrescenta-se a este grupo o deputado Marcos Mansur, que é do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), cuja origem também foi na centro-esquerda.

"No Brasil, os partidos são só a casa de hospedagem para os políticos conseguirem legenda para a disputa. O político é uma coisa à parte, não segue o programa do partido. Hoje, o eleitor vota no candidato de esquerda e elege um de direita. Se quisessem criar um sistema para confundir não existiria outro melhor.  A forma que estes políticos atuam e votam é para agradar certa clientela e se eleger de novo. Isso enfraquece a vida partidária, não existe coerência de ideias", analisa o cientista político Fernando Pignaton. 

O também cientista político Francisco Albernaz tem a mesma opinião. "Os deputados usam uma lógica puramente individual da ação estratégica, ele pensa nele mesmo. Os partidos estão fragmentados, sem lideranças, os indivíduos estão lutando por suas reeleições. O cálculo na hora de votar é feito de acordo com o que for relevante para sua estratégia eleitoral. Não existe mais a lógica de uma possível identidade partidária, eles estão simplesmente calculando sua sobrevivência", disse. 

O QUE DIZEM OS DEPUTADOS

E os deputados citados na reportagem não estão mesmo preocupados com o que prega o estatuto de seus partidos. Segundo os próprios, suas atuações estão mais ligadas às suas convicções pessoais do que ao conjunto de ideias que deveriam delinear a atuação das siglas.

"O voto vai da minha consciência, eu já tinha votado a favor do projeto e votei contra o veto. Os partidos são lindos nos seus ideais, mas muitos parlamentares não colocam em prática e a atuação é voltada pela consciência", afirma o deputado pedetista Josias da Vitória.

"Penso que quando me filiei ao partido já sabia de berço os valores. Não votei no projeto com base partidária, até considero ele conservador, mas pensei da forma prudente. É primordial separar o que é cultura de promiscuidade", disse por sua vez o socialista Eustáquio Freitas.

Já o petista Honório Siqueira, que é padre da Igreja Católica, seu partido lhe dá liberdade para votar com seus princípios. "Quando fui candidato pelo PT, o documento que a gente assina nos dá autonomia em relação a matérias que vão contra nossos princípios filosóficos ou ideológicos. Temos que votar sempre com o partido, desde que não vá ao encontro dos nossos princípios", disse.

Euclério Sampaio, autor do projeto das artes e que está de saída do PDT com destino ao PSB, negou que o projeto tenha como objetivo afagar o público de posição conservadora ou religiosa, e disse que nenhum partido mudará seu posicionamento.

"Oficialmente não estou em partido nenhum e nada nesse mundo, mandato, partido, vai mudar minhas posições e convicções pessoais. O partido que para mim defende safadeza não é partido. O PSB pode ser liberal, mas não defende coisas imorais e criminosas. Meu projeto não é censura. É proibir crime", alega.

Este vídeo pode te interessar

Os deputados Bruno Lamas, do PSB, e Marcos Mansur, do PSDB, foram procurados pela reportagem, mas não atenderam as ligações.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais