Os dois já foram políticos poderosos do PMDB e estavam entre os aliados mais próximos do presidente da República, Michel Temer, mas as investigações da Operação Lava-Jato mudaram tudo. Eles foram presos e, agora, o ânimo não é mais o mesmo. O ex-ministro Geddel Vieira Lima reclamou do abandono dos amigos, enquanto o advogado do também ex-ministro Henrique Alves relatou que ele está deprimido.
Amigos de longa data me lançaram no vale dos leprosos afirmou Geddel na terça-feira, em depoimento na Justiça Federal de Brasília.
No mesmo dia, o juiz da 14ª Vara Federal de Natal, Francisco Eduardo Guimarães, aceitou pedido da defesa de Alves, que está detido desde junho de 2017, e converteu a prisão preventiva dele em prisão domiciliar porque, entre outros motivos, o ex-presidente da Câmara e ex-ministro está em depressão. O ex-ministro, porém, continuará atrás das grades porque há outro mandado contra ele decretado pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília.
Henrique Alves está padecendo de alguns males, está em depressão e tomando diversos remédios, além de ter uma idade mais avançada. É plausível deferir a prisão domiciliar considerando que pode ser aplicada como medida cautelar a partir desse momento. Ele também fez o compromisso de que permanecerá fora da atuação política disse o juiz de Natal ao GLOBO.
Preso desde setembro do ano passado, Geddel é acusado de ter tentado impedir que Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de políticos do PMDB em esquemas de corrupção, firmasse um acordo de delação. Ele nega. Funaro chegou a dizer que sentia medo do primeiro escalão do governo Temer, do qual Geddel fez parte. Mas o ex-ministro citou uma mensagem do delator, segundo a qual ele teria dito: diga ao Geddel: se não resolver isso eu vou f... ele com o Michel.
Fico eu a perguntar: como alguém que tinha o poder de me f... com Michel poderia ter algum receio ou o constrangimento de que eu pudesse, junto a Michel, lhe causar algum tipo de dano? questionou Geddel.
O ex-ministro também negou ter oferecido vantagem a Funaro, que foi preso em julho de 2016, ou à sua mulher, Raquel Pitta. Em julho do ano seguinte, ao ser preso pela primeira vez e ao responder questionamento do procurador da República Anselmo Lopes, Geddel afirmou que falou mais de dez vezes com Raquel ao longo de um ano. Na terça-feira, ele disse não se recordar exatamente de quantos telefonemas foram feitos. Geddel disse ainda que nunca tratou de negócios com o operador e que nem se lembra de como o conheceu.
Essa memória fantástica só vejo em elefante ou delator ironizou Geddel Vieira Lima.
Os investigadores do caso afirmam que, entre maio e junho de 2017, Geddel enviou mensagens à mulher de Funaro. Ela entregou cópias da tela do aplicativo. Nas mensagens, Geddel é identificado como Carainho. Na avaliação do Ministério Público Federal (MPF), os elementos deixam claro que Geddel continua agindo para obstruir a apuração dos crimes e ainda reforçam o perfil de alguém que reitera na prática criminosa.
No caso de Henrique Alves, a decisão do juiz de Natal de conceder a prisão domiciliar é contrária ao parecer do MPF. O procurador federal Fernando Rocha, destacou que, apenas com uma análise conjunta, se pode fazer um juízo definitivo dos réus. O procurador Rodrigo Telles também destacou a potencialidade da continuidade da prática de obtenção indevida de recursos.
Por outro lado, o juiz negou um pedido da defesa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para revogar sua prisão preventiva.
É uma pessoa que, se posta em liberdade, terá facilidade de articular com as mesmas pessoas que teriam praticado delitos que a denúncia informa. Entendo que ele deve permanecer fora da sociedade afirmou o juiz.
PADILHA FALA
No processo de Geddel, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também prestou depoimento na terça-feira. Ele negou ter procurado Funaro por meio de seu advogado. Rechaçou também ter pedido que Geddel sondasse o operador sobre sua possível delação. O chefe da Casa Civil disse não ter conversado sobre uma possível delação nem com Geddel, nem com Temer. Em sua colaboração premiada, o operador disse que advogados ligados a Temer, Padilha, Cunha e ao empresário Joesley Batista, da JBS, monitoraram desde 2016 a possibilidade de que ele viesse a celebrar um acordo de delação.
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