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Espírito Santo: eleitor quer saúde como prioridade no próximo governo

Espírito Santo: eleitor quer saúde como prioridade no próximo governo

Moradores dizem o que deve ser a meta do próximo governo

Publicado em 18 de março de 2018 às 23:47

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UPA de Carapina, na Serra. (Arquivo)

Se depender da vontade dos eleitores, alavancar a Saúde deverá ser a grande meta do próximo governo eleito no Espírito Santo. A área é considerada prioritária por 53,2% dos 2.405 moradores do Estado ouvidos por uma pesquisa do Instituto Futura, realizada em janeiro.

O levantamento ouviu pessoas a partir dos 16 anos de modo espontâneo, quando não são oferecidas opções de resposta. A disparada da Saúde diante dos demais temas – Educação e Segurança são apontados em segundo e terceiro lugar – surpreende o mestre em História das Ideias Políticas, Rafael Simões.

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Demora muito pra gente ser atendido. Passei esse tempo com dores

Eliane Maria Lauret, doméstica, de 44 anos
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“Diante da recente greve da PM aqui e da intervenção no Rio de Janeiro, havia uma expectativa de que a Segurança fosse a área mais cobrada. Mas o que se pode observar é o pensamento prático do cidadão. Ele acredita que a Saúde tem um impacto grande e imediato em sua qualidade de vida e que os problemas podem ser mais facilmente resolvidos pelo governo”, afirma.

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DESAFIOS

Falta de vagas em hospitais e longa espera para a realização de exames e de consultas com especialistas são os problemas mais comuns que chegam até a defensora pública Priscila Lisbório. A pilha de processos em sua mesa revela que o número de usuários que acionam a Justiça para garantir seus direitos em Saúde vem aumentando. “Os hospitais estão cada vez mais cheios e as pessoas ficam à mercê”, afirma Priscila.

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As pessoas valorizam a Saúde porque ela impacta todas as áreas da vida. O Estado tem que atender à demanda

Ricardo de Oliveira, secretário de Saúde
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A própria defensora encara problemas. Ela, que precisa pegar duas vezes por mês um remédio na Farmácia Cidadã, reclama do longo tempo de espera na fila. “Eu sei a hora que chego, mas não sei quando saio”, reclama ela, que ressalta: “a Saúde é um direito básico e precisa ser garantido”.

Rafael Simões lembra que a crise econômica e o desemprego levaram parte da população a deixar planos particulares, inchando ainda mais o Sistema Único de Saúde (SUS) e aumentando a insatisfação dos usuários. O mesmo é analisado pelo doutor em Saúde Pública Adauto Emmerich Oliveira, que lista os maiores desafios a serem encarados pelos próximos gestores.

O primeiro deles é a reformulação do modelo de atendimento do SUS, com investimentos prioritários na atenção básica. “Nosso modelo é voltado para a doença, quando deveria ser voltado para a prevenção. Investimentos em saúde primária ajudariam a reduzir em até 80% a necessidade de especialistas”.

Do mesmo modo, Adauto destaca que a geração de saúde passa por outras áreas, como Educação, Segurança Pública e no trânsito e saneamento básico. Por isso, o conceito deve ser encarado de forma ampliada. O professor da Ufes também critica a terceirização de hospitais que ocorre no Estado, em que a sua gestão passa a ser controlada por organizações sociais. “Ela encarece os custos e não é eficiente. A gestão pública será sempre melhor”, diz.

O secretário estadual de Saúde, Ricardo de Oliveira, destaca que a pasta possui a maior parte do orçamento governamental desde 2015 e aposta no projeto Rede Cuidar, para integrar ações entre Estado e municípios e fortalecer a atenção primária, como um grande gerador de melhorias para essa e para as próximas gestões. “Ele se tornou um projeto do SUS e está em todos os municípios. Vamos modificar a forma de atendimento das unidades e promover a capacitação dos profissionais. Até agosto 22 mil pessoas serão treinadas”, afirma.

MELHORIAS TAMBÉM EM PREFEITURAS

Nos municípios, a dificuldade de acesso é um dos grandes problemas apontados pelos gestores da Saúde, que começam a desenvolver melhorias. Em Vitória, o secretário de Gestão, Fabrício Gandini, afirma que a criação de uma plataforma de agendamento online e a implantação de um sistema de confirmação de consultas tem ajudado a reduzir faltas e a diminuir o déficit.

O agendamento online também está em processo na Serra pelo mesmo motivo. O sistema de distribuição de medicações, que é outro gargalo, também está sendo informatizado.

Em Vila Velha, existem 18 unidades de saúde, enquanto deveriam haver 38. A prefeitura afirma que vem investindo na implantação do prontuário eletrônico, de centros de atendimento e na expansão da Estratégia da Saúde da Família. A atenção primária também passa por melhorias em Cariacica, onde há outros projetos, como implantação do ponto eletrônico e a futura informatização das unidades.

SEGURANÇA PREOCUPA MAIS RICOS

Entre os entrevistados que apontam a Segurança Pública como a área a ser priorizada pelo próximo governo, a maior parte (27,21%) se concentra nas classes A e B, seguida pela classe C, com 17,57%. Já nas classes D e E, nas quais a preferência pela área da Saúde é dominante, o assunto segurança não atinge 10% dos eleitores ouvidos pelo Instituto Futura. Não sabem ou não responderam somam 7,27% nesse grupo.

O comerciante Eugênio Martini instalou câmeras particulares para garantir a segurança, em Vitória. (Carlos Alberto Silva)

O que chama a atenção, conforme ressalta o professor Rafael Simões, é que, enquanto os maiores índices de violência são registrados nas periferias, a percepção da insegurança é maior entre os ricos. “O sentimento de insegurança se propaga mais entre os que não vivenciam a violência cotidianamente”.

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Temos uma polícia mal preparada, desqualificada, com equipamentos obsoletos e que recebe mal. Essas situações devem ser mudadas

Israel Jorio, professor da FDV
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Já o secretário de Estado de Segurança Pública, André Garcia, analisa: “O que impacta muito nas classes mais altas é a sensação da impunidade. Melhorar isso depende de mudanças na legislação, permitindo que as polícias realizem seu trabalho com mais eficiência”.

A Segurança Pública ocupa o terceiro lugar no ranking geral de prioridades dos entrevistados no levantamento (com 13,85% dos votos). Mas Garcia encara a área como o maior desafio de todo o país. Para ele, a próxima gestão estadual deve garantir a manutenção dos investimentos no setor, bem como no monitoramento dos indicadores e de operações que tenham como alvo homicidas e traficantes, visando estimular o cumprimento de mandados de prisão.

“Ações de prevenção nos territórios onde há mais criminalidade, como é o caso da Escola Viva e do Ocupação Social, devem continuar a serem implantadas.”

PRÓXIMOS PASSOS

Para além de investimentos na redução das desigualdades sociais, o criminalista e professor da FDV Israel Jorio destaca que os governantes devem direcionar seus esforços para a qualificação e melhor remuneração de policiais e para o reforço dos equipamentos, incluindo armas, coletes e munições. “Isso dará às polícias condições de enfrentar um crime cada vez mais armado”, afirma.

O professor ainda sugere a utilização de videomonitoramento durante as abordagens policiais. “É algo que acontece em vários países e que inibe quem está sendo filmado de se voltar contra os agentes”. Do mesmo modo, Israel lembra da necessidade da ampliação e criação de novos presídios.

Cansado de sofrer inúmeros assaltos, o comerciante Eugênio Martini, 62 anos, adotou suas próprias medidas de proteção. Sua loja, no Centro de Vitória, é vigiada por 80 câmeras. Para ele, já é hora de evoluir. “A Segurança Pública está atrasada. É preciso um serviço de inteligência. Nós sabemos até quem rouba e ninguém faz nada”, reclama.

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O grande desafio a ser vencido na gestão pública é atender às diversidades de demanda no processo de escolarização

Cleonara Schwartz, professora da Ufes
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Nas classes mais altas também está a maior parte dos que elegeram a Educação como a segunda área mais importante. Entre os eleitores, a maioria cursou ensino superior (27,31%). A professora da pós-graduação em Educação da Ufes Cleonara Schwartz lembra que o último censo aponta a ausência de laboratórios, bibliotecas e acesso à internet em escolas, em especial no ensino regular.

Por isso, ela observa que dar mais atenção à infraestrutura dos centros de ensino como forma de melhorar as condições de trabalho dos profissionais deve ser um compromisso dos futuros gestores, bem como assegurar que os 25% do orçamento estadual previstos em lei sejam repassados integralmente à Educação.

“Mas o grande desafio a ser vencido na gestão pública é atender às diversidades de demanda no processo de escolarização. É pela falta disso que há tantos jovens fora da escola. Implantar gestões democráticas, em que os gestores dialoguem com as comunidades e os educadores também é fundamental”, elenca.

O secretário de Estado de Educação, Haroldo Rocha, espera que a Escola Viva, de tempo integral para o Ensino Médio, continue a ser implantada no ritmo planejado, cuja meta é chegar a 300 unidades em 2030. No Ensino Médio regular, Haroldo afirma que é preciso avançar na qualificação do currículo e do trabalho pedagógico.

Ele também lembra que a futura aprovação da reforma curricular poderá modificar o modelo de ensino atual e acredita que o apoio do Estado na gestão educacional dos municípios é essencial. “Nós começamos a fazer o pacto pela aprendizagem, mas ele precisa ser continuado”, afirma.

ANÁLISE

Áreas são prioridade só no palanque

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"O que vemos na pesquisa é a repetição de um conjunto de prioridades sociais que aparecem recorrentemente desde que se começou a fazer pesquisas de opinião pública: Saúde, Educação, Segurança Pública e Emprego. O problema é que no palanque essas áreas são prioridade, mas quando se assume os governos elas deixam de ser. Algumas respostas são dadas, mas de forma lenta e as necessidades das pessoas estão sempre à frente do que já foi feito. É, portanto, como se tentassem enxugar gelo. No caso da Saúde, por exemplo, o Hospital Infantil de Vitória demorou dez anos para ser feito. A promessa passou de gestão em gestão. Ainda temos recorrentemente crianças nos corredores de hospitais, além de outros dramas. Na Educação, temos 50 mil jovens fora da escola. Ao mesmo tempo, vemos obras faraônicas como o Cais das Artes se tornando cada vez mais caras sem serem concluídas. O passo a ser dado na próxima gestão não é mais constatar que as políticas públicas sociais e ambientais são prioridade, mas sim o que fazer efetivamente" - Roberto Garcia Simões, especialista em Políticas Públicas.

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