> >
Ferraço 'abraça' a segurança pública na volta ao Senado

Ferraço "abraça" a segurança pública na volta ao Senado

Senador diz que capixabas "adoraram o posicionamento" dele, que saiu de licença insatisfeito com posturas dos demais senadores

Publicado em 7 de março de 2018 às 20:36

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Ricardo Ferraço enfatiza a necessidade de o partido não participar mais da base do governo. (Marcelo Camargo | Agência Brasil)

O senador Ricardo Ferraço (PSDB), licenciado do mandato desde outubro de 2017, reassume a função nesta quinta-feira (08). O tucano tem um foco neste recomeço: abraçar a agenda da segurança pública, em voga no país principalmente em virtude da intervenção federal no Rio de Janeiro.

Politicamente, o envio do Exército para o Rio é interpretado como tentativa de o governo de Michel Temer (PMDB) recuperar popularidade, depois do desgaste que sofreu tentando, sem sucesso, aprovar a reforma da Previdência.

Ferraço manda "às favas" a leitura política sobre o momento da intervenção. Avalia tratar-se de algo "acessório".

"Essa preocupação é secundária. O mais importante é que o governo central resolveu adotar para si a responsabilidade de debater um Sistema Único da Segurança Pública. Não importa a cor do gato, mas que o gato cace o rato. Se isso vai se traduzir em popularidade, se for para resolver o problema da segurança pública, tomara que sim", afirmou.

Ferraço anunciou a licença pouco depois que o Senado permitiu Aécio Neves (PSDB) retomar o mandato, que havia sido afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O capixaba chegou a dizer que tinha "vergonha de ser político".

O senador usou os cerca de quatro meses para percorrer o Estado. O marqueteiro dele, em entrevista à coluna Praça Oito, admitiu que a meta era fazer Ferraço ser mais percebido pelos capixabas, livrando-se da identificação de "senador nacional". Esse descolamento poderia custar votos preciosos na complexa eleição de 2018.

Agora, Ferraço volta anunciando que a segurança pública é seu foco, mas nega que esteja mergulhando no tema por conveniência. Argumenta ser autor de proposta de emenda que pretende tornar a área uma responsabilidade compartilhada entre União, Estados e municípios, como é a educação e a saúde.

Também diz ser o relator do mais importante projeto que discute a redução da maioridade penal.

"Precisamos fazer os devidos aperfeiçoamentos no marco legal. Temos muita coisa que precisa ser feita na área da segurança pública, como aperfeiçoamento do Código de Processo Penal, do Código Penal", disse.

A ENTREVISTA

O senhor estava com vergonha de ser político quando saiu para a licença. A vergonha acabou?

Qualquer pessoa de muito bom senso, sendo político ou não, estando na militância política ou não, não pode deixar de exercer uma profunda visão crítica do absoluto abismo que há entre a sociedade e a democracia representativa. A crise vivida em nosso país é sem precedentes. Há, na prática, uma tempestade perfeita, com crise política, moral, ética, de valores. Uma crise econômica, com elevadíssimos reflexos sociais. Evidentemente, a política brasileira precisa ser repensada em seu formato e em suas atitudes. Minha reflexão está absolutamente em linha com aquilo que pensa a sociedade. É isso que a sociedade pensa. As pesquisas apontam essa coisa com muita clareza. A superação dessa crise vai ter que ser encontrada pela via da política, com "P" maiúsculo. Temos que ter honestidade na reflexão e no diagnóstico. Tem que estar no mundo da lua, ou alhures, para não ter visão clara da necessidade dessas mudanças que o sistema político brasileiro precisa fazer. E 2018 é ano especial para tudo isso.

As pessoas entenderam que o senhor queria fazer essa reflexão e entenderam que a licença seria efetiva para isso?

Esse período em que me permiti estar mais perto dos capixabas foi um período extraordinário, porque o dia a dia do mandato é muito intenso. No Senado, Espírito Santo e São Paulo têm o mesmo tamanho. É um espaço para quem efetivamente tem experiência, importância, capacidade de se articular para defender os interesses do Espírito Santo. Nesse período de licença, dialoguei com as pessoas com mais calma, com mais tempo, refletindo a realidade do Espírito Santo e do Brasil.

Como as pessoas reagiram?

As pessoas adoraram meu posicionamento, um posicionamento que em momento algum dialogou com a impunidade. Na prática, meu partido pagou preço muito caro, muito forte, por salvar o mandato do senador Aécio Neves. Eu não votei para salvar o mandato dele. Considerei que o que ele fez foi fora do padrão mínimo de qualquer conduta no exercício da atividade pública. As pessoas entenderam e acharam que eu agi com muita coerência.

O senhor saiu também criticando o Senado. O senhor acha que volta com uma Casa diferente?

Não voltei ainda. Estou voltando. Volto energizado, com minhas baterias muito carregadas para dar o melhor de mim na defesa dos interesses capixabas no Senado, como sempre fiz. Retomo o mandato motivado, animado.

O senhor vinha travando debates importantes, mas impopulares. Sabemos que queria se aproximar das bases nesse período de licença. Conseguiu?

Nunca estive distante do meu Estado. Evidentemente, não tem como eu ficar o tempo todo no Espírito Santo. Na vida, na vida política, na vida empreendedora, na relação de pai com filho, em algumas circunstâncias objetivas você precisa contrariar até a vontade de um filho. Aquilo, naquele momento, é necessário. As reformas que o Estado brasileiro enfrenta são fundamentais. O governo não gera riqueza. Precisamo ter a coragem de fazer o que é necessário. O Estado foi sequestrado e capturado por movimentos organizados. Espero continuar fazendo o que fazia. É o que deseja a maior parte da população. Não podemos manter um sistema que transfere dinheiro dos mais pobres para os mais ricos.

Com qual perfil o senhor retorna ao Senado?

Evidentemente, a gente vai manter a mesma direção, o mesmo rumo, a mesma coerência, a mesma militância.

Vai tentar a reeleição?

O processo eleitoral inicia-se a partir das convenções. O que temos é que trabalhar muito até lá. Estamos com perspectivas muito mais otimistas, mas ainda estamos mergulhados em crise econômica com graves reflexos sociais. Não interessa à população a campanha política fora de hora.

Mas a licença e as agendas que o senhor fez no período não podem ser consideradas pré-campanha?

Me licenciei para estar presente no Espírito Santo. Visitei escolas, hospitais, conversei com os capixabas sobre novos desafios. Fui muito bem acolhido e bem recebido pelos capixabas, que me motivaram.

Imagino que a resposta será a mesma se eu perguntar se o senhor descarta uma candidatura a deputado federal.

Não descarto nada. Até que as eleições se façam presentes, temos um período muito grande. Vou continuar trabalhando muito.

O senhor volta para o Senado focado em quê?

Focado no aprofundamento das questões relacionadas com a segurança pública. O país vive uma circunstância importante. Historicamente, o governo federal sempre esteve muito distante das questões relacionadas à segurança publica. Nas últimas semanas, o governo federal resolveu tomar para si a responsabilidade de resolver problemas que infernizam a vida dos brasileiros. Da mesma forma que brasileiros e capixabas se uniram para resolver a inflação, precisamos nos unir para vencer a epidemia da violência. O foco vai ser na segurança pública.

Nesse tema, cabe uma crítica ao governo e ao Congresso. O tema só está sendo debatido agora, em ano eleitoral e depois de a reforma da Previdência não ir para a frente.

Essa preocupação é secundária. O mais importante é que o governo central resolveu adotar para si a responsabilidade de debater, debater um Sistema Único da Segurança Pública (SUSP). Não importa a cor do gato, mas que o gato cace o rato. Que as ações possam possibilitar mais confiança das pessoas. Se isso vai se traduzir em popularidade... Se for para resolver o problema da segurança pública, tomara. Vamos nos preocupar com aquilo que é fundamental, que é a segurança, para que pelo menos avancemos nessa questão. Temos que nos preocupar com o essencial, e não com o acessório. O mais importante é o que pode dar certo. A população está preocupada se as estratégias colocadas de pé vão resolver o problema. Se quem resolver o problema ganha popularidade, paciência.

Mas por que neste momento? O problema da violência, sobretudo no Rio, não é novidade alguma?

Considero sua afirmação secundária. Não importa o momento. O ideal era que fosse feita antes, muito antes. E fico à vontade para falar isso, porque propus emenda constitucional para que a segurança pública também fosse responsabilidade compartilhada entre Estados, municípios e União. É uma proposta de 2015. Eu já reclamava antes. Milito nessa causa há algum tempo. A luta política não pode superar interesses da sociedade. Tem alguém preocupado porque devia ter sido feito antes? Tem, mas às favas com esse sentimento.

O foco do senhor nesse debate passa por entender que o Estatuto do Desarmamento precisa ser revogado?

Isso é um retrocesso total (a revogação). As boas experiências internacionais sinalizam que onde se desarmou a sociedade houve melhoras em indicadores. Só falta essa... Armar a sociedade achando que vai resolver problema da segurança.

O que exatamente cabe ao senhor e ao Senado no debate da segurança?

Precisamos fazer os devidos aperfeiçoamentos no marco legal. Temos muita coisa que precisa ser feita na área da segurança pública, como aperfeiçoamento do Código de Processo Penal, do Código Penal.

E quanto à maioridade penal?

Este vídeo pode te interessar

Tenho debate sobre isso há três anos. Sou relator do principal projeto.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais