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Secretário do Trabalho emprega amigos de pelada no ministério

Secretário do Trabalho emprega amigos de pelada no ministério

Indicados geriram e fiscalizaram contrato considerado superfaturado pela CGU

Publicado em 13 de março de 2018 às 11:45

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Leonardo Arantes (atrás, ao lado do goleiro) levou para o ministério os amigos Leonardo Soares e Lucas Honorato (à frente) . (Divulgação)

O sobrinho do deputado Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara, levou sua turma de amigos do futebol em Goiânia para dentro do Ministério do Trabalho. Na pasta, são eles os responsáveis por gerenciar a liberação dos pagamentos e fiscalizar os repasses a uma empresa de tecnologia suspeita de superfaturar contratos.

Leonardo José Arantes chegou ao cargo de secretário de Políticas Públicas de Emprego em 2 de junho de 2016, com salário de R$ 16,2 mil, pelas mãos do tio — hoje o sobrinho acumula o cargo com o de secretário-executivo da pasta. Poucos dias depois, o secretário levou para Brasília três amigos de Goiânia, nomeados em funções comissionadas no ministério. Um é o gestor dos contratos com a empresa B2T, que fez os encaminhamentos para que uma nota fiscal de R$ 32,8 milhões fosse paga. Os outros dois são fiscais desses repasses. Todos são filiados ao PTB em Goiás.

Uma auditoria do Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU) apontou superfaturamento nos contratos do com a B2T, escolhida para fornecer serviços de um sistema de combate a fraudes no seguro-desemprego. A CGU sugeriu em diversas ocasiões que os pagamentos fossem interrompidos. Servidores da carreira do ministério se recusavam a liberar os recursos. Foi neste contexto que o ministro interino do Trabalho, Helton Yomura, colocou o jovem Mikael Tavares Medeiros, de 19 anos, na função de gestor financeiro de pagamentos na ordem de R$ 473 milhões por ano.

Ele já estava no ministério desde outubro de 2017, na função comissionada de coordenador de documentação e informação, apadrinhado por Jovair Arantes. Mikael, que acabara de entrar na universidade e tendo como um de seus últimos empregos o de vendedor de óculos numa loja, autorizou pagamentos de R$ 27 milhões à B2T no mesmo dia em que virou gestor financeiro, 28 de dezembro. A história foi revelada pelo jornal o GLOBO. Ontem, o ministro Yomura exonerou o jovem do cargo comissionado.

Antes de Mikael, coube ao chefe de gabinete de Leonardo Arantes, Leonardo Soares Oliveira, providenciar os encaminhamentos para a liberação de recursos para a B2T. Leonardo Oliveira, que recebe salário de R$ 9,9 mil, foi colocado na função de gestor dos dois contratos com a B2T, no valor de R$ 76,7 milhões. Ele é um dos companheiros de “pelada” do sobrinho de Jovair. Primeiro, em 6 de dezembro de 2017, Leonardo Oliveira encaminhou o processo com a ordem de pagamento para que um fiscal se manifestasse sobre a possibilidade de falsificação de uma assinatura.

Depois, num ofício com timbre da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, ele deu 48 horas para o posicionamento do fiscal administrativo do contrato. No dia seguinte, Oliveira encaminhou a nota fiscal de R$ 32,8 milhões para “providências complementares necessárias para pagamento”. A emissão das notas de pagamento, cujo registro aponta os dados de Mikael, ocorreu em 28 de dezembro. No dia seguinte, R$ 22,5 milhões foram liberados. Em 3 de janeiro deste ano, mais R$ 4,5 milhões.

Entre os fiscais que assinam o verso da nota fiscal, um é do grupo de amigos do futebol de Goiânia: Lucas da Mota Torres Honorato. Ele é coordenador-geral de aprendizagem e estágio, com remuneração de R$ 9,9 mil. Em relação ao contrato com a B2T, foi colocado na função de fiscal administrativo substituto. Lucas fiscaliza os repasses que Leonardo Oliveira autoriza. A coordenação liderada pelo jovem está subordinada ao sobrinho de Jovair Arantes.

Um terceiro amigo de Leonardo Arantes, Marcos Sussumo Andrade, atua na secretaria e na fiscalização do contrato com a B2T — foi designado para ser fiscal requisitante substituto. Ele é servidor efetivo, lotado no governo de Goiás e está cedido ao Ministério do Trabalho, onde é coordenador-geral do Sistema Nacional de Emprego (Sine).

Hoje, Leonardo Arantes ocupa os dois cargos mais importantes no Ministério do Trabalho depois do ministro. É ele que assina o afastamento de Mikael da função de gestor financeiro de pagamentos da pasta, conforme portaria publicada ontem no Diário Oficial da União. A demissão é assinada pelo ministro Yomura, apadrinhado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson. Jefferson e Jovair travam uma disputa por poder e controle no ministério.

Os três amigos são companheiros de “pelada” em Goiânia. O time tem até nome: Curva de Rio. No fim do ano, costumam jogar no estádio Serra Dourada, o mais importante da cidade. Os amigos têm apelidos dentro das quatro linhas: Arantes é “Verminho”; Soares, “Fezes”.

A reportagem do GLOBO procurou o Ministério do Trabalho e questionou por que Leonardo Arantes levou os amigos para a pasta; qual a experiência profissional deles e por que integrantes do mesmo grupo estão no gerenciamento de repasses dos contratos com a B2T e na fiscalização dos pagamentos. A pasta não deu explicações: “O Ministério do Trabalho não vai se pronunciar sobre a vida pessoal dos servidores deste ministério”, afirmou.

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A B2T disse que as irregularidades apontadas pela CGU foram rebatidos por parecer técnico da Dataprev e rejeitados em dois pareceres da AGU. O Tribunal de Contas da União também se manifestou a favor dos contratos, segundo a empresa. “Estranha-se o fato dessas mesmas denúncias sempre surgirem após grandes operações da Polícia Federal, a partir do monitoramento realizado pelo sistema antifraude adquirido pelo ministério”, afirmou a assessoria.

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