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'Vou chegar de cabeça erguida', diz Lula ao garantir que vai se entregar

"Vou chegar de cabeça erguida", diz Lula ao garantir que vai se entregar

Em discurso, ex-presidente criticou a imprensa, a Justiça e lembrou de sua trajetória como sindicalista no ABC

Publicado em 7 de abril de 2018 às 16:12

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Ao som de violão, de cima de um carro de som na porta do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o juiz Sergio Moro mentiu ao confirmar a acusação de que o triplex do Guarujá (SP) era dele. Lula foi condenado pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4) a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Em um discurso duro neste sábado (07), Lula disse que está pronto para atender à determinação da Justiça.

Ex-presidente Lula é carregado por militantes após discurso em ato em São Bernardo do Campo (SP). (Agência O Globo)

"Eu vou atender ao mandado deles porque quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece é por minha causa, eu já fui condenado a três anos de cadeia porque um juiz de Manaus entendeu que eu não preciso de armas, mas eu tenho uma língua ferina. A morte de um combatente não para a revolução", disse Lula.

"Estou fazendo uma coisa muito consciente. Se dependesse da minha vontade, eu não iria. Eu vou porque não vão dizer amanhã que eu estou escondido, que eu estou foragido", afirmou.

No discurso que durou 55 minutos, ele ainda descreveu como se entregará. "Vou chegar de cabeça erguida, quero chegar lá (na PF de Curitiba) e falar para o delegado: 'estou à sua disposição'. Mas a história vai provar que quem cometeu o crime foi o delegado que acusou, o juiz que me condenou e o Ministério Público que foi leviano comigo. Sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente. Quero provar que eles é que cometeram o crime", brandou Lula, afirmando que sairá da prisão de "peito estufado".

CRÍTICAS À IMPRENSA

"Estou sendo processado, mas tenho dito claramente. Sou o único ser humano processado por um apartamento que não é meu. Que o (jornal) O Globo mentiu quando disse que era meu. A que a Lava Jato mentiu quando disse que era meu. Eu pensei que o o juiz Moro ia resolver e ele mentiu também", disse Lula.

O jornal "O Globo" foi o primeiro a revelar, em 2010, a ligação do ex-presidente com o triplex do Guarujá, no litoral de São Paulo, que acabou se tornando o pivô de sua condenação a 12 anos e 1 mês de prisão. Duas reportagens do jornal, em 2010 e 2014, mostraram que o imóvel pertencia a Lula e a sua mulher, Marisa Letícia.

JUSTIÇA

Diante da militância, ele atacou a forma como vem sendo tratado pela Justiça. "Não estou acima da Justiça. Se não acreditasse, eu tinha proposto uma revolução nesse país. Acredito numa Justiça justa que faz processo baseado nos autos, na prova concreta que tem a arma do crime", opinou.

O ex-presidente Lula em cima de carro de som em missa de homenagem a ex-primeira-dama. (Reprodução/GloboNews)

O discurso continuou com Lula lembrando a atuação do Ministério Público. "O que não posso admitir é um procurador que fez um powerpoint e foi pra TV dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil. E que o Lula, por ser a figura mais importante, e ele é o chefe. E se o Lula é o chefe não preciso de prova, eu tenho convicção. Guarde a convicção dele para os comparsas."

Pouco antes, ele retomou discurso de sindicalista antes da decretação de sua prisão, que deve acontecer ainda neste sábado. Procurando dar um tom histórico - Lula estava ao lado de padres da região, numa lembrança da época em que contou com a ajuda da Igreja Católica para tentar evitar sua prisão na década de 1980 – Lula pontuou o discurso rememorando sua trajetória.

"Na minha consciência, parte da conquista da democracia a gente deve a esse sindicato dos metalúrgicos, a partir de 1978. Aqui foi minha escola, aqui eu aprendi sociologia, economia, física, química e aprendi fazer muita política. No tempo que eu era presidente, as fabricas tinham 140 mil professores que ensinavam fazer as coisas."

SONHOS

"Sonhei que era possível governar esse país, envolvendo milhões de pobres na economia, nas universidades, criando milhões de empregos. Sonhei que era possível um metalúrgico sem diploma cuidar mais da educação que qualquer diplomado. Sonhei que era possível diminuir mortalidade infantil levando leite, feijão e arroz. Sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e levar para as melhores universidades para não ter só juízes e procuradores da elite. Daqui a pouco vamos ter juízes e procurados de Heliópolis. Esse crime eu cometi, que eles não querem que eu cometa mais."

SOFRIMENTO

"Não é fácil o que sofre minha família, como sofrem meus filhos, mas não é fácil o que sofreu dona Marisa. A antecipação da morte da Marisa foi provocada pela sacanagem e pela safadeza que o Ministério Público e a imprensa fizeram contra ela."

Logo depois das orações feitas por Dom Angélico – a militância chegou a rezar um pai Nosso - Lula fez questão de ressaltar sua trajetória à frente do sindicato. Lembrou a impropiciência das pessoas que trabalham no "chão da fábrica. "Eu nasci nesse sindicato. Quando cheguei aqui esse sindicato era um barraco."

Em seguida, disse que viveu os melhores momentos da vida naquele sindicato, em 1968, quando ingresso para o movimento sindicalista. O ex-presidente relembrou da greve de 1979, segundo ele uma "das graves mais extraordinárias desse país".

ACENO A DILMA

Durante o discurso, Lula fez homenagem à ex-presidente Dilma Rousseff. Lula disse que sempre dividirá seu sucesso na Presidência com ela: "Dilma foi possivelmente a mais injustiçada na política desse país."

Lula também fez uma deferência aos presidenciáveis Guilher Boulos (Psol) e Manuela D'Ávila (PCdoB)

"Boulos iniciou uma jornada pelo PSOL, é um companheiro da mais alta qualidade, tem que ser levado em conta. Você tem futuro, meu irmão." 

Em seguida, elogiou Manuela. "Ela está fazendo fazendo sua primeira experiência como candidata à Presidência. Eu acho um motivo de orgulho e uma perspectiva de esperança para esse país. Gente nova disposta a enfrentar a negação da política."

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Lula permaneceu refugiado no Sindicato dos Metalúrgicos desde o inpicio da noite de quinta-feira, quando o juiz Sergio Moro decretou sua prisão e determinou que ele se entregasse naquele dia até 17h.

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