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Governador Paulo Hartung perto de tentar quarto mandato

Governador Paulo Hartung perto de tentar quarto mandato

Hartung ainda faz mistério sobre disputa à reeleição

Publicado em 21 de maio de 2018 às 00:31

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Se tentar o quarto mandato ao Palácio Anchieta e ganhar, poderá entrar para a História do Espírito Santo como o mais longevo chefe do Executivo estadual. (Gazeta Online)

A situação eleitoral do governador Paulo Hartung (MDB) está como ele gosta que esteja. Sem dizer se tentará a reeleição, deixa a expectativa no ar. E, assim, Hartung segue jogando o xadrez eleitoral com as brancas.

Se tentar o quarto mandato ao Palácio Anchieta e ganhar, poderá entrar para a História do Espírito Santo como o mais longevo chefe do Executivo estadual. Hoje, o título é de João Punaro Bley (novembro de 1930 a janeiro de 1943), que só experimentou uma eleição indireta para governar entre 1935 e 1937. Nos demais, atuou como interventor indicado por Getúlio Vargas.

A trajetória política do militar mineiro nada tem a ver com a do economista de Guaçuí, o terceiro retratado por A GAZETA na série sobre os pré-candidatos ao governo do Estado.

Hartung foi forjado na luta por democracia, contra a ditadura. Vive a política desde quando estudante da Ufes, onde assinalou em sua biografia a liderança da chapa que reabriria o Diretório Central dos Estudantes (DCE), em 1979, fechado pela repressão.

Da Ufes ao primeiro cargo público não tardou. Em 1982, disputou a primeira eleição, pelo PMDB, para deputado estadual, e saiu vitorioso. Não perderia nenhuma das outras que viria a disputar. Já no PSDB, foi deputado federal (1991-1992), prefeito de Vitória (1993-1997) e senador (1999-2002) até chegar ao Palácio Anchieta, em 2003, pelo PSB.

Na primeira caminhada ao governo, foi protagonista na “virada de página” do Estado no período em que o crime organizado deixou o Espírito Santo refém da corrupção e do desmando. Começava, em 2003, a era em que “nunca, em tempo algum, alguém governou o Estado com tanto apoio”, como o próprio repetia no último ano do segundo governo, em 2010.

Também ficou evidente no período o jeito imperativo de comandar e o perfil centralizador – talvez um indício da centralidade esteja na “coincidência” de seis destacados aliados do governador, aos quais a reportagem pediu entrevista para construir este perfil, terem negado a solicitação. A liderança sobre os subordinados é inquestionável. Que o digam os secretários que desenvolveram a curiosa capacidade de discursar usando as mesmas palavras e expressões do chefe.

ECONOMISTA

O Hartung deste terceiro mandato (2015-2018) é, definitivamente, o economista. Desde que sinalizou a disputa, em 2014, foca as contas. Passou dois anos criticando a gestão econômica do antecessor e ex-aliado, Renato Casagrande (PSB), e aplicou um ajuste fiscal que fez a gestão capixaba chamar a atenção do país.

De onde saíram elogios também saiu a constatação de que a fórmula “não chega a ser nova”: corte drástico dos investimentos. A isso os opositores se apegam para atacar o “represamento de investimentos” como ação necessária para confirmar o discurso da campanha de 2014.

A oposição também trabalha para arranhar a imagem de bom gestor usando as novelas da Leitão da Silva e do Cais das Artes, e o fato de o governo ter sido pego de surpresa por uma sangrenta greve da PM.

LAVA JATO

Hartung apareceu na Lava Jato em abril de 2017. O ex-executivo da Odebrecht Benedicto Junior disse em delação premiada que o hoje emedebista coordenou repasses de caixa dois para seu grupo político em 2010 e 2012. A investigação foi arquivada após a Justiça entender que “pelos elementos colhidos, se trata de doação eleitoral não contabilizada, não se cogitando de corrupção, pois além de referidas doações terem sido destinadas a terceiros, não houve solicitação de vantagem indevida em contrapartida”.

Hartung joga com calendário eleitoral

As bases da vitoriosa campanha de Paulo Hartung (MDB) sobre Renato Casagrande (PSB), em 2014, estavam lançadas bem antes do período eleitoral. Ainda no início de março, um estudo capitaneado pela futura secretária da Fazenda, Ana Paula Vescovi - hoje secretária-executiva do Ministério da Fazenda -, veio a público com críticas ao endividamento, à queda na poupança, ao alto comprometimento da receita com pessoal e à canalização de royalties para gastos com a máquina pública da gestão socialista. Em 12 de abril daquele ano, Hartung já tinha avisado ao partido que estava pronto para concorrer.

Quatro anos depois, agora com a caneta na mão, Hartung não preserva o mesmo interesse em adiantar os trabalhos eleitorais. Pelo contrário. Adia a definição o máximo que pode ao dizer que pretende “respeitar o calendário eleitoral”.

Na última entrevista concedida para A GAZETA, na última quinta-feira, o presidente do MDB estadual e aliado de Hartung por mais de 40 anos, Lelo Coimbra, disse só que “gostaria” que Hartung fosse o candidato, mas que ele ainda não se manifestou.

O tom difere do adotado pelo dirigente no mês passado. “Minha percepção, hoje, é a que o partido majoritariamente quer esse caminho, o da reeleição do governador Paulo Hartung. Com ele se apresentando ao seu devido tempo, não duvido que o partido seguirá esse caminho”, como A GAZETA publicou no dia 4 de abril. Lelo também não deu entrevista para este perfil de Hartung.

Um dia após ganhar a eleição passada Hartung declarou: “Eu não vou ser candidato à reeleição”. De lá para cá, ele também já disse que poderia disputar a Câmara, o Senado ou cargo algum, mas mudou o tom e passou a não descartar concorrer ao Palácio Anchieta.

Antigos observadores e admiradores do governador consideram previsível o interesse dele em postergar a decisão sobre a candidatura. Com isso, o conflito eleitoral segue parado e a agenda principal são as realizações e as inserções nacionais.

“Como ele tem a máquina na mão e uma grande estrutura partidária, o ideal é anunciar bem para frente. Se pudesse, faria faltando 15 dias para a eleição”, comentou um velho conhecido de Hartung.

De fato, melhor do que começar logo uma guerra de comparação com os adversários é aproveitar os holofotes nacionais e focar nas entregas. Aliados inundavam as redes com qualquer menção a ele em palanque nacional – inclusive com a improvável entrada dele na disputa ao governo do Rio de Janeiro. Enquanto isso, pouco foi cobrado sobre o volume de entregas do governo ser compatível ou não com a “sacudida” prometida na campanha passada.

“Energia voltada para a administração”

Nesta série sobre os possíveis candidatos ao governo do Estado, A GAZETA abre espaço para uma entrevista do retratado. O governador Paulo Hartung (MDB) preferiu não falar.

Em nota, explicou que “não faria sentido” dar a entrevista, uma vez que só decidirá seu futuro no período de convenções partidárias, entre 20 de julho e 5 de agosto. “Minha energia está toda voltada para a administração do Estado. Estamos com as contas organizadas, enquanto a maioria dos Estados estão quebrados. Hoje o Espírito Santo é visto como exemplo para o país”, disse, na nota.

Hartung destacou o avanço em “projetos sociais transformadores” como a Escola Viva, o Ocupação Social, a Rede Cuidar, o programa de barragens e o Reflorestar, na área ambiental.

Também pontuou que “graças ao modelo de gestão implantado” o Estado está saindo primeiro da crise. Comemorou o crescimento do PIB capixaba acima da média nacional, o crescimento de 63% na oferta de empregos no primeiro trimestre de 2018 e a melhora na arrecadação.

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“Como o Espírito Santo está com as contas em dia, vamos poder aproveitar esse novo momento para realizar investimentos e avançar em políticas públicas para o conjunto dos capixabas”, comentou.

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