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Maio, o mês sombrio de Michel Temer

Maio, o mês sombrio de Michel Temer

Este período do ano marca algumas das principais crises enfrentadas pelo emedebista, incluindo escândalos políticos e de corrupção

Publicado em 29 de maio de 2018 às 21:05

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O presidente Michel Temer em pronunciamento, na noite de domingo (27), na tentativa de entrar em acordo com os caminhoneiros em greve. ( Reprodução/Facebook)

Iniciada há oito dias, a paralisação nacional dos caminhoneiros chegou para afirmar de vez a péssima relação entre o presidente Michel Temer (MDB) e o mês de maio. Do primeiro ao último ano de seu comando à frente do Palácio do Planalto, este mês, coincidentemente, marca algumas das principais crises enfrentadas pelo emedebista, incluindo escândalos políticos e de corrupção.

O primeiro problema surgiu em maio de 2016, quando veio à tona o áudio de uma conversa na qual o então ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (MDB-RR), sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no governo federal por meio de um "acordo nacional" poderia "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos.

“Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]”, disse Machado. No diálogo, Jucá afirma que um futuro governo de Temer deveria construir um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Em seguida, Machado disse: “aí parava onde está”, se referindo às investigações.

Gravados de forma oculta, os diálogos entre Machado e Jucá ocorreram semanas antes da votação na Câmara dos Deputados que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), cujo cargo foi assumido por Temer.

JBS E CUNHA

Mas o pior ainda estava por vir. Exatamente um ano após o episódio do “grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”, o empresário Joesley Batista, que é um dos donos do grupo J&F e proprietário do frigorífico JBS, entregou à Polícia Federal um áudio no qual Temer falava sobre a solução de "pendências" com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que, na época, já estava preso.

Citado da delação premiada do empresário Joesley Batista, o presidente Michel Temer aparece no áudio afirmando que "tem que manter isso, viu?", ao comentar a relação de proximidade entre o empresário e Eduardo Cunha.

A divulgação do caso lançou o governo em sua maior crise, chegando a paralisar a discussão sobre as reformas no Congresso Nacional. A instabilidade gerada levou à insatisfação das ruas, que pedia pela convocação de eleições diretas.

O Planalto confirmou o encontro com Joesley, mas negou que o presidente tivesse solicitado pagamentos para obter o silêncio de Cunha. O próprio presidente também fez um pronunciamento público, no qual afirmou veementemente que não renunciaria.

CONSEQUÊNCIAS

Embora a Câmara dos Deputados tenha rejeitado por duas vezes a investigação de tais fatos, a crise política gerada ao entorno de Temer após o vazamento do áudio custou ao atual presidente boa parte de seu capital político, que hoje, em plena paralisação dos caminhoneiros, lhe faz falta. É o que afirma o cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael.

“Temer, que já não tinha um grande capital político, perdeu ainda mais força desde aquele momento. Em relação à paralisação dos caminhoneiros, o governo federal já errou ao subestimar as proporções que essa paralisação poderia tomar. Ele não negociou previamente e a situação se tornou muito mais delicada", explica.

Para Ismael, a desconfiança gerada pelo governo Temer ao longo dos quase dois anos de mandato faz com que a população também se volte contra ele em momentos de crise: "Vemos um governo extremamente fragilizado que tenta negociar com lideranças fragmentadas uma pauta muito complexa. As pessoas ficam do lado dos caminhoneiros em grande parte devido à impopularidade do governo, ainda que elas mesmas paguem o preço pelas reivindicações da categoria", ressalta.

O mestre em ciência política e pesquisador da UERJ Matheus de Sá Morávia acredita que a greve dos caminhoneiros ajudou a desfazer a imagem de bom negociador que Michel Temer tinha ao assumir o governo federal após ao impeachment de Dilma.

“Em 2016, ele aparecia como uma força que conseguiria dar uma unidade, tinha uma base grande no PMDB e um bom relacionamento com os pequenos partidos. Atualmente, Temer acabou com a imagem de bom negociador. Colocou o Exército nas ruas antes de negociar com os caminhoneiros e, quando negociou, o fez com as pessoas erradas”, disse.

Para Moravia, esta crise, pelo menos, poderia ter sido antecipada pelo presidente. “Já que toda produção nacional é escoada pelas vias terrestres e, sabendo que isso depende muito do diesel, não pensar na possibilidade da flutuação dos preços gerar uma grande crise da noite pro dia é falta de percepção conjuntural clara. Era uma tragédia anunciada. Ele sai muito mal dessa história, a situação dele piorou bastante”, afirma.

SAÍDA

Ao aceitar cumprir todas as exigências feitas pelos grevistas, Temer demonstra, na visão do professor Ricardo Ismael, querer estancar a crise imediata que se arrasta por oito dias para depois pensar sobre as consequências econômicas de tais medidas. Controlar este problema será fundamental para que o atual presidente finalize seu governo sem novas tormentas.

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"Isso exigirá muita habilidade. No entanto, se mais nada acontecer, a tendência é que, com a Copa do Mundo que se avizinha e a eleição presidencial, a agenda mude. As pessoas e a imprensa olharão mais para os candidatos, deixando de olhar para o governo", avalia Ricardo Ismael.

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