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Auxílio-moradia para juízes não deve passar por mudança neste ano

Auxílio-moradia para juízes não deve passar por mudança neste ano

Magistrados apostam que não será possível solucionar até dezembro impasse, que depende do Congresso

Publicado em 20 de junho de 2018 às 22:03

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O relatório da AGU, enviado ao ministro Luiz Fux, deixa claro que as partes nunca abriram mão de suas posições já manifestadas no processo que estava na pauta da Suprema Corte. (Divulgação)

O fim das negociações entre as entidades de magistrados e procuradores com a Advocacia-Geral da União (AGU) para fechar um acordo sobre o pagamento de auxílio-moradia para juízes membros do Ministério Público explicitou o cenário de impasse que marcou as reuniões comandadas pela ministra da AGU, Grace Mendonça. E uma solução, mesmo pela via judicial, não deve ocorrer neste ano, segundo fontes ouvidas pela reportagem, mantendo, assim, o pagamento do benefício sem mudanças.

O relatório da AGU, enviado ao ministro Luiz Fux, relator das ações no Supremo Tribunal Federal (STF), deixa claro que as partes, inclusive a União, nunca abriram mão de suas posições já manifestadas no processo que estava na pauta da Suprema Corte, quando a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) pediu para que o julgamento do caso fosse adiado para se tentar um acordo entre as partes.

Um fonte, com acesso às negociações e às comunicações internas entre os magistrados, disse ao GLOBO que o teor das conversas entre os juízes indica que não haverá mudança na atual situação neste ano por vários motivos.

As soluções defendidas pela magistratura e pelo MP são o aumento do teto salarial do funcionalismo público de modo a incorporar o auxílio-moradia, que hoje rende R$ 4.377,00 por mês para quase todos os magistrados e procuradores, ou a criação de um novo benefício que resultaria em aumento nos rendimentos dessas duas categorias por tempo de serviço.

No primeiro caso, seria necessário o STF encaminhar ao Congresso um projeto de lei pedindo o reajuste do salário dos ministros do Supremo, o que elevaria o salário da magistratura e do MP. No segundo caso, seria necessário o Congresso aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC).

A conta dos juízes é que nenhuma dessas soluções podem ser encaminhadas neste ano. A atual presidente do Supremo, minstra Cármen Lúcia, é contra o aumento do teto salarial e não vai encaminhar esse projeto de lei até o final do seu mandato em setembro. Mas, com a mudança de comando na Corte, quando o ministro Dias Toffoli assumir o posto, se abre a possibilidade de enviar essa proposta ao Congresso, mas isso só ocorreria numa nova Legislatura, em 2019.

Já a Emenda Constitucional não pode ser aprovada neste ano, por causa da intervenção federal na área de segurança pública, e só tramitaria em 2019.

"Isso tudo já está delineado para deixar esse assunto em banho maria até o final do ano", disse o magistrado a reportagem, sob condição de anonimato.

A nota emitida pela AGU nesta quarta-feira (20) também aponta para uma solução Legislativa. "A solução consensual para a controvérsia jurídica em torno do pagamento da ajuda de custo para moradia a juízes e membros do Ministério Público dependerá de alteração legislativa", diz o texto divulgado mais cedo.

Só em abril, último dado público sobre pagamentos a juízes, disponiblizado no site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), foram pagos mais de R$ 73,5 mihões de auxílio-moradia para os magistrados de todos os tribunais do país. Ou seja, nos três meses em que o benefício ficou em negociação na AGU, os cofres públicos já arcaram com mais de R$ 220 milhões.

CÁLCULO POLÍTICO

Esse cálculo político está em linha com as manifestações das entidades após a AGU encerrar as negociações da mesa de conciliação. Elas evitaram críticas e deixaram as portas abertas para entendimentos.

O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), o juiz Fernando Mendes, disse ao GLOBO que agora é preciso aguardar a manifestação do ministro Fux, mas que a Ajufe sempre defendeu a revisão do teto da magistratura ou a criação do benefício por tempo de serviço na carreira pela aprovação da PEC.

"Agora temos que aguardar o ministro Fux", afirmou Mendes.

O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), o procurador José Robalinho, afirmou que não considera que as negociações estão encerradas.

"Nós ainda estamos de braços abertos para uma negociação. O relatório da ministra não fala em desacordo", disse Robalinho.

Procurado pela reportagem, o ministro Fux não quis se manifestar. Agora, cabe a ele levar o caso novamente ao plenário, já que as negociações não tiveram êxito.

Fux só pautou o caso quase quatro anos depois de conceder uma liminar autorizando todos os juízes a receberem o auxílio-moradia.

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Em setembro de 2014, ele acatou o pedido da Ajufe para estender o benefício aos juízes federais. Na sequência, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) entraram com ações pedindo a extensão do benefício a todos os juízes brasileiros, incluindo a Justiça Militar e a Justiça do Trabalho, além de tribunais estaduais. O pedido também foi atendido pelo ministro.

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