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Mandatos cassados na ditadura são devolvidos no ES

Mandatos cassados na ditadura são devolvidos no ES

Sessão na Assembleia Legislativa reparou violência contra a democracia

Publicado em 13 de junho de 2018 às 01:43

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Deputados da atual legislatura restituíram simbolicamente os mandatos de quatro parlamentares que foram cassados durante a ditadura. Depois, posaram para fotos. (Lissa de Paula)

A Assembleia Legislativa reparou ontem arbitrariedades praticadas há quase 50 anos. Em uma sessão histórica, deputados estaduais que tiveram os mandatos sumariamente cassados pela ditadura militar tiveram os cargos simbolicamente devolvidos.

Hélsio Pinheiro Cordeiro perdeu o mandato em 4 de julho de 1966. Segundo a família, ele militava na UDN – partido que daria lugar mais tarde à Arena, agremiação que deu sustentação à ditadura.

O ex-deputado morreu em 2001 e foi representado na sessão pelos filhos, a médica Déa Cordeiro e o analista de sistema Marco Cordeiro.

Não houve um motivo específico para a cassação. "Foi por conta das críticas, dos discursos que ele fazia contra. Nos jornais saía que os discursos eram 'impublicáveis'", lembrou a filha.

A arbitrariedade não afetou apenas o exercício do cargo para o qual Hélsio fora eleito. Marco não pode assumir uma vaga de professor na antiga Escola Técnica por conta do histórico do pai. "A devolução do mandato dele, hoje, é extraordinariamente gratificante para mim, como filho e como brasileiro", disse.

Também receberam de volta os respectivos mandatos o ex-governador José Ignácio Ferreira e o ex-conselheiro do Tribunal de Contas Dailson Laranja. Eles eram do antigo MDB, o partido de oposição à ditadura, quando foram cassados, no dia 13 de março de 1969.

A cassação de José Ignácio, oficialmente, foi resultado do simples ato de ler uma carta enviada pelo padre de Itarana Álvaro Regazzi datada de 7 de setembro de 1968.

Na carta, o sacerdote reclamava de abusos de fiscais da Secretaria da Fazenda contra pequenos comerciantes e dizia que não hastearia a bandeira nacional naquela comemoração da Independência.

Dailson Laranja apoiou José Ignácio e elogiou o padre. "O padre disse o que ninguém mais teve coragem de dizer", frisou o então deputado, à época.

Após cassado, José Ignácio ainda foi demitido do cargo de promotor de Justiça. "O que aconteceu nesse país não vai voltar a ocorrer. Quem não viveu aquele momento levanta a voz sem saber o que diz. Outros são aproveitadores, populistas. Ditadura nunca mais", afirmou o ex-governador, que prepara uma autobiografia.

Dailson emocionou-se ao discursar. Ele exercia liderança no sindicato dos comerciários quando entrou para a política partidária. Após o "desalento enorme" da cassação, esteve preso por 12 dias.

O ex-deputado criticou quem pede a volta da ditadura. "Não sabem o que é ser agredido em sua casa e apanhado sem ter o direito de se defender”, destacou.

PARTIDÃO

Houve, ainda a devolução simbólica do mandato do ex-deputado Benjamin Carvalho de Campos. Membro do PCB, ele foi cassado em 14 de janeiro de 1948, em virtude do cancelamento do registro do partido, sob o governo de Gaspar Dutra. A agremiação era perseguida no Estado Novo de Vargas.

A sessão foi marcada pela defesa do fortalecimento das instituições democráticas.

O governador Paulo Hartung (MDB) e José Ignácio abriram mão de rivalidade histórica e se cumprimentaram respeitosamente por três vezes. Hartung também citou José Ignácio no discurso em três oportunidades.

A homenagem aos cassados era articulada desde 2014 pelo ex-deputado Claudio Verezza (PT). "A Assembleia recolocou a memória, a verdade e a Justiça no seu devido lugar", disse.

Nesta legislatura, a sessão foi viabilizada pela deputada Luzia Toledo (MDB). "Os problemas da democracia devem ser solucionados com mais democracia. Ditadura nunca mais neste país", frisou.

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O governador Paulo Hartung abraça o ex-governador José Ignácio Ferreira. (Tonico/Ales)

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