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Nanicos de esquerda desistem de candidaturas e fazem as pazes com o PT

Nanicos de esquerda desistem de candidaturas e fazem as pazes com o PT

PCO e PCB, que faziam oposição ao governo petista, pregam união da esquerda e defendem o ex-presidente Lula

Publicado em 10 de agosto de 2018 às 12:03

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Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Ricardo Stuckert/PT)

O impeachment de Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocaram os partidos de extrema esquerda em crise existencial. Se durante o governo petista eles se posicionavam como críticos à gestão, que consideravam pouco progressista, agora fizeram as pazes com o ex-presidente Lula e formaram alianças com legendas maiores para as eleições deste ano.

Em 2014, PCO (Partido da Causa Operária) e PCB (Partido Comunista Brasileiro) lançaram candidaturas próprias para a Presidência. Neste ano, vão formar coligações com o PT e o PSOL, respectivamente. O fim do governo petista reaproximou o nanico PCO, que nasceu em 1995 como uma dissidência trotskista do PT, de suas origens.

A justificativa é o momento de polarização política. Para Antonio Carlos Silva, dirigente do PCO no Rio de Janeiro, o Brasil vive hoje uma “ditadura” e a esquerda precisa se unir para “passar por cima das decisões do Judiciário” e “restabelecer o funcionamento das instituições”.

— Fomos o partido que mais lutou contra o golpe, e deixamos claro que a situação não ia ser resolvida pelo Congresso Nacional. Não lançamos candidatura agora porque estamos vivendo um momento excepcional, em que o mais importante seria a volta da normalidade democrática do país — afirma Carlos Silva.

Por isso Rui Costa Pimenta, presidente do partido que se candidatou a presidente nas últimas quatro eleições presidenciais, sempre com resultado inexpressivo, optou por ficar fora da disputa neste ano. O PCO é o menor partido entre os nanicos da extrema esquerda, com 3.738 filiados, ante 14.718 do PCB e 17.142 do PSTU. A filha de Rui, Natália Pimenta, participou da convenção nacional do PT no último sábado para manifestar o apoio aos petistas.

Edmilson Costa, secretário-geral do PCB, também defende a união da esquerda neste ano. Segundo ele, o PCB mantém sua política “anticapitalista e antiimperialista”, e segue discordando das práticas do governo do PT, mas aderiu à campanha de Guilherme Boulos, do PSOL, candidato que tem como uma de suas principais bandeiras soltar da prisão o ex-presidente Lula.

— Avaliamos que, na conjuntura em que estamos vivendo, era fundamental ter candidatos de uma frente de esquerda. Continuamos críticos ao PT, que teve uma experiência dramática em seus 13 anos de governo, não fez as mudanças que deveria ter feito e depois foi descartado pelos próprios aliados. Nossa solidariedade ao Lula é em função da defesa das liberdades democráticas, e contra a seletividade da Justiça — diz Costa.

A exceção é o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), que lançou a sapateira sergipana Vera Lúcia à Presidência, com Hertz Dias, professor da rede pública do Maranhão, como seu vice. Diferente dos demais, o PSTU apoiou a retirada de Dilma Rousseff da Presidência, em 2016, com o slogan “Fora Todos”, e depois se posicionou favorável à prisão do ex-presidente Lula, classificado como traidor da classe trabalhadora.

— O Lula preso, com tantos outros soltos, não deixa de ser uma injustiça com ele, porque não foi só ele que praticou essa bandalheira no Brasil. Mas como se corrige, prendendo os outros ou soltando o Lula e promovendo a impunidade geral? É o problema que temos. Infelizmente, Lula escreveu e trilhou esse caminho que o levou à situação de hoje. Está pagando as consequências por ter abandonado a classe trabalhadora — afirma Zé Maria, presidente do PSTU e candidato à Presidência em 1998, 2002, 2010 e 2014.

Para o militante e professor Valério Arcary, ex-presidente do PSTU que agora integra o Resistência, não é só a solidariedade ao PT que motivou a debandada do partido ao qual pertencia. Também havia uma discordância sobre questões internacionais, como a transição dos países da antiga União Soviética para o capitalismo, que o grupo que ficou no PSTU via como algo positivo, e problemas com a organização interna, que sufocava opiniões contrárias, segundo ele. O número de dissidentes chega a 750, segundo Arcary.

— É totalmente subjetivo dizer que a candidatura Boulos é um satélite do PT. A ideia de que só o PSTU tem críticas ao PT na esquerda é auto-proclamatória. Não é honesto intelectualmente — afirma.

Devido ao posicionamento abertamente contra Lula e Dilma, porém, o PSTU perdeu cerca de um quarto de sua base de militantes desde o impeachment, aproximadamente 500 pessoas, segundo um dirigente do partido ouvido pelo GLOBO. Os dissidentes foram parar no PSOL, onde formam uma corrente chamada Resistência.

— São companheiros e companheiras que eu respeito, mas que retrocederam para as posições políticas deste bloco que gravita em torno do PT. Não achamos que seja um problema dos trabalhadores defender Lula preso ou solto, o problema da classe trabalhadora é outro — diz Zé Maria.

Ele atribui a decisão de não se candidatar à Presidência esse ano à divisão de tarefas do partido, e diz que é bom dar espaço a novos nomes.

PCO, PCB e PSTU não têm representantes eleitos no Congresso Nacional, mas ainda têm direito a recursos do Fundo Partidário. O PCO recebeu R$ 1,1 milhão em 2017, o que compõe 99% da receita do partido, e o PSTU, R$ 2,4 milhões, 64% de sua receita. O PCB atrasou a prestação de contas e não informou quanto gastou em 2017, mas teve direito a R$ 1,54 milhão.

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Com a reforma eleitoral, porém, a vida dos nanicos de esquerda e de direita deve ficar mais difícil. Para continuar tendo acesso ao fundo, as legendas precisarão alcançar 1,5% dos votos válidos para deputado federal em pelo menos nove estados nas eleições deste ano, com um mínimo de 1% dos votos em cada estado, ou então eleger ao menos nove deputados federais por nove estados diferentes.

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