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Livro analisa queda crise política no Brasil entre 2015 e 2017

Livro analisa queda crise política no Brasil entre 2015 e 2017

Reunião de artigos de Bernardo Mello Franco compreende período mais turbulento do País desde a redemocratização

Publicado em 15 de setembro de 2018 às 19:56

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Posse de Dilma Rousseff. (Estadão fotos/Pedro Ladeira)

A crise política, econômica e, de certa forma, institucional brasileira já produziu livros que fazem uma radiografia da história recente do País. Em O Lulismo em Crise – Um Quebra-cabeça do Período Dilma (2011-2016), o cientista político André Singer faz uma análise sociológica de como se deu a inflexão que derrubou o PT do governo e a relaciona ao sistema partidário brasileiro, às manifestações de junho de 2013 e à Operação Lava Jato.

Já Valsa Brasileira: do Boom ao Caos Econômico, da economista Laura Carvalho, traz um diagnóstico dos erros cometidos pelo governo Dilma e do sucessor, Michel Temer, na condução da política econômica. O novo Mil Dias de Tormenta – A Crise que Derrubou Dilma e Deixou Temer por um Fio, do jornalista e colunista político Bernardo Mello Franco, é um livro da política real, dos gabinetes de Brasília, dos acordos – e também das conspirações. A obra reúne textos publicados por ele entre janeiro de 2015 e outubro de 2017 no jornal Folha de S.Paulo – atualmente, ele escreve para O Globo.

O período que o livro compreende é, sem dúvida, o mais turbulento desde a redemocratização do País. Em um espaço de pouco mais de um ano e meio, tivemos: 1) o impeachment de uma presidente da República; 2) o afastamento e a cassação do mandato de um presidente da Câmara dos Deputados; 3) o avanço da Operação Lava Jato e a revelação de escândalos de corrupção em série; 4) um novo presidente da República que se manteve no cargo mesmo denunciado, durante o exercício do mandato, por corrupção, obstrução da Justiça e organização criminosa.

As colunas de Mello Franco mesclam opinião, análises e bastidores do Congresso e, ao mesmo tempo, captam a temperatura de Brasília. Os textos que antecedem ao impeachment são centrais para entender como funcionam as engrenagens do poder. Se, por um lado, expõem os erros de Dilma e os casos de corrupção durante os governos do PT, detalham as negociações pouco republicanas que selaram o destino da presidente. E retratam, de modo amplo, a implosão de um sistema político: o presidencialismo de coalizão.

Divididas por capítulos iniciados por uma breve introdução, as colunas estão reproduzidas em ordem cronológica, sem alteração de seu conteúdo original – exceção feita às notas de rodapé que dão contexto a fatos narrados na época.

O ponto de partida é o início do segundo mandato de Dilma Rousseff. E a previsão, como descreveu o jornalista, já não era boa para o País. “O que esperar de um governo que já nasce velho? (…) nada poderia ser mais frustrante do que o ministério que toma posse hoje. A decepção tende a se agravar quando a turma der razão à máxima do Barão de Itararé: ‘De onde menos se espera, daí é que não sai nada’”, escreveu Mello Franco em Feliz Ano Velho, texto publicado no dia 1.º de janeiro de 2015. Dois meses depois, em 3 de março daquele ano, a palavra impeachment aparecia pela primeira vez em suas colunas.

Em Ao Vencedor, as Batatas, o texto publicado em 26/10/17 que fecha o livro, Mello Franco escreveu sobre o arquivamento da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. A previsão do jornalista já era, à época, a de um fim de governo marcado pelo desprestígio. “Temer se sagrou um vencedor, mas terá de engolir as batatas murchas e amassadas. Sua base de apoio encolheu, sua impopularidade bateu recorde e seu governo ficou ainda mais desmoralizado.”

Nos dois casos, a análise de Mello Franco se mostrou acertada. O segundo mandato de Dilma foi um desastre e a presidente, isolada e criticada até pelo próprio partido, sofreu um impeachment. Temer viu o índice de sua rejeição aumentar, a ponto de abrir mão de disputar a eleição – e o candidato de seu partido, Henrique Meirelles (MDB), oscila entre 1% e 3% nas pesquisas de intenção de voto para presidente.

Ler as colunas de Mello Franco na sequência em que foram publicadas também nos dá uma visão geral de como chegamos até aqui. Até às vésperas de uma eleição presidencial, os líderes nas pesquisas de intenção de voto eram um político preso e um ex-capitão do Exército que enaltece a ditadura militar e torturadores.

Em julho de 2017, a condenação do ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro pelo juiz federal Sérgio Moro detonou a eleição presidencial, apontou o colunista. “A condenação de Lula obrigou todos os jogadores a moverem suas peças no tabuleiro da sucessão.” A coluna, escrita em 23/7/17, traduzia o discurso de Lula: o ex-presidente se lançava como candidato a presidente, mas já indicava que o ex-prefeito Fernando Haddad seria seu substituto. Cenário que se confirmou com o indeferimento do registro da candidatura de Lula pelo TSE e a indicação pelo partido do nome do ex-prefeito como cabeça de chapa na disputa ao Planalto.

“Do outro lado da mesa, a jogada mais ensaiada é se apresentar como anti-Lula”, prosseguiu o jornalista. Papel hoje encarnado por Jair Bolsonaro, que, antes de ser esfaqueado em um ato de campanha, falou em “fuzilar petralhas” e se deixou fotografar chutando um boneco de Lula vestido de presidiário (o Pixuleco).

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Após a publicação da coluna que encerra o livro, Lula foi preso, o governo atual decretou uma intervenção federal na Segurança do Rio e uma greve de caminhoneiros parou o País, o que comprova que a crise brasileira perdura – não há sinais claros de que ela cessará com o resultado da eleição presidencial de outubro.

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