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Bolsonaro: contradições e recuos marcam primeiros dias pós eleição

Bolsonaro: contradições e recuos marcam primeiros dias pós eleição

Além de mostrar falta de sintonia com sua equipe, o presidente eleito provocou o descontentamento de setores econômico e da comunidade internacional com algumas de suas declarações

Publicado em 10 de novembro de 2018 às 01:33

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Bolsonaro participou com a esposa de um culto evangélico no Rio. (Fernando Frazão/Agência Brasil )

 

Antes mesmo de carregar a faixa presidencial Jair Bolsonaro (PSL) já sente o peso das palavras de um chefe de Estado perante o mundo. Ao longo de seus primeiros 13 dias como presidente eleito, o capitão reformado do Exército não só iniciou um percurso de transição de governo marcado por recuos e por contradições entre ele e membros de sua própria equipe, como também acendeu o alerta na política externa ao criticar países parceiros do Brasil.

Um exemplo de divergência é a Reforma da Previdência. Enquanto Bolsonaro já defendeu publicamente a votação do projeto apresentado pelo governo de Michel Temer (MDB) ainda este ano, seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que a falta de tempo torna a aprovação difícil.

Por outro lado, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a aprovação da reforma ainda em 2018, mas provocou o descontentamento do presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE) ao dizer que seria preciso dar uma “prensa” no Congresso. Para rebater, o senador afirmou que Guedes “não sabe como funciona o Congresso”.

O número de ministérios também é uma indefinição. Inicialmente, a equipe de Bolsonaro disse que seriam 15 pastas, mas depois afirmou que poderiam ser 16 ou 17. Na última quarta-feira (7), porém, Bolsonaro disse que poderão ser 18.

A organização dos novos ministérios é outro ponto conflitante. Um exemplo foi o anúncio feito com a intenção de fundir as pastas da Agricultura e do Meio Ambiente em uma só. A proposta gerou o descontentamento de ambientalistas e de ruralistas, levando o presidente eleito a voltar atrás.

É incerto também o futuro do senador Magno Malta (PR). Um dos principais cabos eleitorais do novo presidente, ele já foi cotado para ser o chefe do Ministério da Família, que seria fundado pelo governo Bolsonaro, mas já não será mais.

“Ele desistiu de ser vice do Bolsonaro para dizer que ia ganhar a eleição para senador lá no Espírito Santo. Agora ele é um elefante que está colocado no meio da sala e tem que arrumar, né?”, afirmou o vice-presidente eleito general Hamilton Mourão. Mas recentemente Bolsonaro disse em entrevista que Magno “tem condições de ser ministro”, sem mencionar em qual pasta.

As perspectivas de que Bolsonaro assuma a presidência com uma grande bancada de aliados no Congresso não impedem que ainda este ano o futuro chefe de Estado enfrente desgastes com a atual composição parlamentar. Na última quarta-feira o Senado aprovou o aumento do salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O presidente eleito já havia dito que via o reajuste “com preocupação”. Mesmo assim, dez senadores que o apoiam votaram a favor do aumento. Condutor da votação, Eunício disse que havia levado o texto ao plenário, entre outros motivos, porque não havia recebido nenhuma ligação do presidente para pedir que o reajuste não fosse pautado.

POLÍTICA EXTERNA

Outra mudança inesperada foi o anúncio de Bolsnaro de que mudaria a embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. Isso representa o reconhecimento da cidade como capital de Israel e pode provocar atritos com palestinos e países árabes, além de reações da comunidade internacional. A declaração teve como consequência a primeira retaliação estrangeira ao governo brasileiro. Alegando problemas de agenda, o Egito cancelou uma visita oficial do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, marcada para a última quinta-feira.

Para além de ameaçar cortar relações diplomáticas com Cuba, Bolsonaro, que durante sua campanha fez críticas em relação às relações econômicas do Brasil com a China, passou a adotar um discurso conciliador em relação ao país, dizendo que a relação comercial pode ser ampliada em seu governo. O recuo ocorreu após as declarações - entre elas, a de que a China não estaria “comprando no Brasil, mas sim comprando o Brasil” - terem gerado desconfiança nos investidores chineses.

Questionado sobre a futura relação do Brasil com o Mercosul - bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - Paulo Guedes afirmou que o bloco não será prioridade na política externa do país. A declaração, no entanto, não foi bem recebida pela indústria. No dia 30 de outubro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma nota na qual destacou a importância do Mercosul para o mercado brasileiro e pediu a continuidade da agenda de negociações.

SAIBA MAIS

Votações

Reforma da Previdência

Bolsonaro e o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, defendem a votação do projeto preparado pelo governo Temer ainda este ano.

Contradição

Mas seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, afirma que será difícil por haver pouco tempo.

Ministérios

Número indefinido

Inicialmente, a equipe de Bolsonaro disse que seriam 15 pastas, mas depois afirmou que poderiam ser 16 ou 17. Mas Bolsonaro disse que ao final poderão ser 18.

Voltou atrás

A ideia de fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente desagradou os dois setores e Bolsonaro recuou. Ele desistiu também de criar o Ministério da Família, que poderia ser chefiado por Magno Malta (PR).

Dúvida

O nome de Magno Malta, aliás, é uma dúvida no próximo governo. Não se sabe onde e se ele será alocado. Halmilton Mourão, vice-presidente eleito, o chamou de “elefante na sala”.

Mudança

O general da reserva Augusto Heleno será responsável pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Desde a campanha ele era anunciado como titular da Defesa.

Vai ou não vai?

Bolsonaro também afirmou que a Controladoria-Geral da União (CGU) pode não ser incorporada ao Ministério da Justiça, como foi prometido no momento da confirmação do nome do juiz Sergio Moro para ocupar a pasta.

Faltou articulação

Com o Congresso atual

10 senadores que apoiam Bolsonaro votaram a favor do aumento para ministros do STF. A medida, que é vista com preocupação pelo futuro presidente, foi aprovada pela maioria no Senado.

Política externa

Atritos

Bolsonaro disse que quer mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, o que pode gerar atritos com palestinos e países árabes.

Retaliação

Alegando problemas de agenda, o Egito cancelou uma visita oficial do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. Mas acredita-se que houve retaliação pela declaração de Bolsonaro, que já recuou e disse que o assunto não está resolvido.

Relações com a China

Mudança de postura

Bolsonaro fez muitas críticas às relações comerciais do Brasil com a China durante a campanha, o que acendeu a desconfiança dos chineses. Agora, ele voltou atrás e disse que comércio com o país poderá ser ampliado em seu governo.

Mercosul

Descontentamento

Paulo Guedes já afirmou que as relações com o Mercosul não serão prioridade no novo governo e gerou descontentamento do setor industrial.

União Europeia

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Ontem, a presidente da União Europeia, Margarete Schramböck, que negocia um acordo comercial com o Mercosul, disse que não mudará nada para atender exigências de Bolsonaro.

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