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Joesley Batista, Ricardo Saud e vice-governador de MG são presos pela PF

Joesley Batista, Ricardo Saud e vice-governador de MG são presos pela PF

Executivos da JBS, ex-ministros da Agricultura e outros detidos são investigados por participação em suposto esquema de corrupção durante o governo Dilma

Publicado em 9 de novembro de 2018 às 11:29

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O empresário Joesley Batista é conduzido dentro de viatura da PF após ser preso na manhã desta sexta-feira (9) em sua residência no Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo. (Marcelo Goncalves/Sigmapress/AE)

A Polícia Federal (PF) prendeu nesta sexta-feira (9) 12 pessoas acusadas de integrar um esquema de corrupção entre a JBS, o Ministério da Agricultura e a Câmara dos Deputados de 2014 a 2015, durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Entre os presos estão um dos donos da JBS, Joesley Batista, além dos executivos Ricardo Saud e Demilton de Castro.

Foram detidos também dois ex-ministros da Agricultura - Antonio Andrade (MDB), que atualmente exerce o cargo de vice-governador de Minas Gerais, e Neri Geller (PP-MT), hoje deputado federal -, o ex-secretário de Defesa Agropecuária Rodrigo Figueiredo e o deputado estadual João Magalhães (MDB-MG).

A operação é um desdobramento da Lava Jato em Minas Gerais e teve origem na delação do doleiro Lucio Funaro. Segundo os investigadores, a JBS pagou propina para deputados e dirigentes do ministério com o objetivo de se beneficiar em três frentes: a federalização das inspeções de frigoríficos, a regulamentação de exportação de miúdos e a proibição de uso de um veneno.

Segundo a PF, as propinas eram negociadas por um deputado federal e entregues por Funaro. De acordo com a delação do doleiro, o grupo empresarial teria pago R$ 2 milhões para conseguir a regulamentação da exportação de miúdos e despojos bovinos. Este comércio é proibido no Brasil, mas o produto é bem vendido na China, por exemplo.

Outros R$ 5 milhões foram gastos para que o ministério proibisse o uso da ivermectina de longa duração - o medicamento é utilizado no tratamento de parasitas em bovinos e pode contaminar a carne.

Para promover a federalização das inspeções sanitárias, a JBS teria pago R$ 50 mil para um deputado federal da Paraíba, que tentou passar a emenda em uma medida provisória que tratava sobre o licenciamento de farmácias.

DEFESA

Dois advogados que atuam para a J&F afirmaram que esperam que as prisões dos executivos sejam revogadas, já que o empresário é um delator.

André Calegari, afirmou, em nota, que seu cliente já prestou três depoimentos no inquérito que deu origem à operação desta sexta-feira.

"Causa estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração", diz o comunicado do advogado. "A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários", completa.

Já Pierpaolo Cruz Bottini diz que "a investigação só existe porque os executivos da J&F colaboraram com a Justiça". "Esperamos que a prisão seja revogada assim que esclarecidos os fatos", disse, em nota.

OPERAÇÃO EM 5 ESTADOS

Os agentes federais cumpriram, ao todo, 63 mandados de busca e apreensão em Minas, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso do Sul. A PF fez também buscas no gabinete de Antonio Andrade.

A operação também investiga o financiamento ilegal de R$ 30 milhões da campanha para a presidência da Câmara dos Deputados, em troca de atendimento dos interesses corporativos do grupo no ministério.

O dinheiro teria sido depositado em contas bancárias de seis escritórios de advocacia, que teriam repassado os valores lavados aos beneficiários finais. Esses escritórios de advocacia teriam, por sua vez, emitido notas fiscais frias, visto nunca ter havido qualquer prestação de serviço ao grupo empresarial.

Três advogados mineiros foram presos na operação desta sexta-feira: Mateus de Moura Lima Gomes, Mauro Luiz de Moura Araújo e Ildeu da Cunha Pereira. Em São Paulo, além dos executivos da JBS, foram detidos outros dois empresários: Marcelo Pires Pinheiro e Fernando Manoel Pires Pinheiro.

A reportagem ainda não teve retorno dos defensores de todos os detidos.

SUPERMERCADO

Uma das maiores redes de supermercado do país também teria integrado a engrenagem de lavagem de dinheiro oriundo do esquema, de acordo com a PF, repassando aos destinatários finais os valores ilícitos em dinheiro vivo e em contribuições "oficiais" de campanha. O nome da rede ainda não foi divulgado.

O total de doações "oficiais" feitas por empresas vinculadas e administradas por um empresário do ramo de supermercados nas eleições de 2014 totalizou quase R$ 8 milhões e meio.

NOME DA OPERAÇÃO

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Segundo a PF, a operação recebeu o nome de Capitu, porque empresários e funcionários do grupo praticaram obstrução de Justiça "com o objetivo de desviar a PF da linha de apuração adequada", segundo nota da PF, que prossegue: "Daí o nome da Operação, 'Capitu', a personagem dissimulada da obra prima de Machado de Assis, Dom Casmurro".

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