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Novatos, deputados eleitos defendem prioridade para as reformas

Novatos, deputados eleitos defendem prioridade para as reformas

Após vitória nas urnas, eles vão estrear na Câmara em fevereiro e respondem: E agora?

Publicado em 6 de novembro de 2018 às 01:09

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Marcel Van Hattem, Tiago Mitraud e Felipe Rigoni em painel durante o evento. (Fernando Madeira)

Após a vitória nas urnas, três estreantes na Câmara dos Deputados – a estreia mesmo será em fevereiro, quando houver a posse nos cargos – têm que responder a pergunta: E agora? Com idades entre 27 e 32 anos, Felipe Rigoni (PSB), Tiago Mitraud (Novo) e Marcel Van Hattem (Novo), eleitos pelo Espírito Santo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, respectivamente, apontaram para a priorização da votação de reformas, a rejeição a privilégios e um novo jeito de se relacionar com os eleitores.

Durante um painel no 6º Fórum Liberdade e Democracia, em Vitória, nesta segunda-feira (05), Rigoni, além de ter destacado a urgência para a aprovação da Reforma da Previdência, alertou para o risco de uma "democracia majoritária", em que as minorias são ignoradas. "A democracia é governada pela maioria, mas dá voz às minorias. Vou lutar para que as minorias tenham voz", pontuou.

Mas o que o deputado eleito pelo PSB – o primeiro deficiente visual do país e o segundo mais votado no Estado – mais frisa é a necessidade de "evidências científicas", na discussão de qualquer pauta, seja ela majoritária ou minoritária, e de diálogo para torná-las realidade.

Em entrevista após a participação no fórum, Rigoni afirmou: "As pessoas estão despreparadas, me parece, em sua grande maioria, até para a pauta que defendem. Cada vez mais os que defendem evidências científicas têm que sentar na mesa com argumentos para não criar um caos, porque acho que pode virar um caos".

Ele diz que pretende fazer uma oposição programática, ou oferecer um apoio programático, ao futuro governo Bolsonaro. Assim, deve votar favoravelmente ao que considere propostas "corretas" e, quanto a isso, se posiciona de forma independente em relação ao PSB, que ensaia a participação em um grupo de oposição ao presidente eleito. O socialista não revela por qual candidato optou no segundo turno. "Tem amigos meus que se posicionaram e já não conseguem dialogar com quem se posicionou do lado contrário", justifica.

PRIVILÉGIOS

Enquanto isso, Tiago Mitraud diz que pretende realizar processo seletivo para escolher os integrantes de seu gabinete, mesma medida a ser adotada por Rigoni. Mitraud ainda frisou que vai abrir mão de privilégios, como o auxílio-moradia, imóvel funcional e auxílio-mudança. Aplaudido, afirmou não fazer mais do que sua obrigação. Para ele, é preciso diminuir a distância entre a população e os políticos.

"Oitenta por cento das pessoas me achavam louco e os outros 20%, inocente", contou, ao lembrar a reação à sua candidatura. "Mas não adianta chegar lá e fazer as mesmas coisas. O que vamos fazer lá vai ser diferente", garantiu.

Outra coisa ser reduzida, para os participantes do painel, é a participação do Estado em áreas não prioritárias. "Não é que o Estado vai quebrar, não; Já está quebrado, em virtude da Previdência", disse Marcel Van Hattem.

Ele chegou a defender o fim da Justiça do Trabalho: "Tinha que ser extinta. É só colocar sob a guarida da Justiça comum".

Van Hattem ainda criticou a carteira de trabalho: "Nos Estados Unidos não tem carteira de trabalho. E as pessoas querem sair daqui para ir para lá, e não o contrário. Ninguém quer vir para cá para usufruir dos 'direitos'".

CONTRAPARTIDA

Já Rigoni, que também defende uma reforma do Estado, destacou que, para aprovar mudanças na Previdência, por exemplo, é preciso garantir serviços públicos de melhor qualidade à população. "As pessoas vão se aposentar mais tarde e com menos dinheiro. Precisa de uma contrapartida, melhores serviços públicos. Ou parece que nada vai melhorar, só piorar", ressaltou.

ENTREVISTA COM FELIPE RIGONI

Felipe Rigoni se elegeu deputado federal pelo PSB

O tema do painel aqui foi "Recém-chegados ao Congresso, e agora?". O senhor ainda não chegou propriamente, ainda não houve a posse, mas como imagina que será o relacionamento com os demais integrantes do Congresso eleito em outubro?

O Congresso está muito polarizado, mas cada vez mais a gente vai precisar de pessoas que defendam as decisões baseadas em evidências porque me parece, posso estar enganado, que estamos com um Congresso eleito não porque é a favor de algo, mas porque é contra. E é contra no abstrato, não necessariamente com argumentos científicos.

As pessoas estão despreparadas, me parece, em sua grande maioria, até para a pauta que defendem. Cada vez mais as candidaturas que defendem evidências científicas têm que sentar na mesa com argumentos para não criar um caos, porque acho que pode virar um caos.

Mas uma andorinha só não faz verão.

Uma andorinha só não faz verão, mas a gente não é uma andorinha só. São poucas, mas não é uma só. Tem a galera do Novo, o pessoal do Renova, do Acredito, um outro pessoal da RAPS, um pool de pessoas que entrou para fazer as coisas com base em evidências.

Não me posicionei no segundo turno e não divulgo o meu voto para guardar a minha capacidade de diálogo. Tem amigos meus que se posicionaram e já não conseguem dialogar com quem se posicionou do lado contrário.

Muito além de defender um presidente, somos um Congresso que vai ter que decidir pelo Brasil. É construir pontes. Não vai ser fácil, não tenho a solução.

O senhor não pretende participar do bloco de oposição na Câmara, que o PSB deve integrar?

Se esse bloco for oposição por oposição, estou fora na mesma hora, mas se for mediante cada pauta que vier, aí sim. Vai ter pauta que o presidente vai enviar que pode estar correta tanto do ponto de vista metodológico quanto da evidência científica.

Então, se o presidente mandar um projeto de reforma da Previdência que o senhor considere correto, por exemplo, o senhor deve votar a favor independentemente do posicionamento do seu partido.

Sim, independentemente do partido ou de qualquer outro grupo que eu participo.

Podemos dizer que o senhor fará então uma oposição programática?

Ou apoio programático, tanto faz.

Quais são os pontos principais da reforma da Previdência, na sua opinião?

Acreditamos num regime único. É um absurdo uma pessoa do setor público se aposentar com R$ 30 mil, R$ 20 mil enquanto no setor privado não tem jeito. Acredito no regime de capitalização individual, mas é preciso fazer a transição. Isso é um problemaço. Nenhum dos economistas com os quais eu conversei tem a solução ainda.

No Chile não deu muito certo esse sistema.

É porque a transição foi malfeita. Hoje eu que trabalho financio aqueles que estão aposentados hoje. Se a gente transitasse eu começaria a pagar pela minha aposentadoria, que vai ser mais à frente. E quem pagaria os de hoje? Isso é um rombo, tem que ser algo muito bem planejado ou a gente leva o Brasil ainda mais para o buraco, que foi mais ou menos o que aconteceu no Chile.

Qual deve ser a prioridade do governo Bolsonaro no início, com a popularidade que ele herdará das urnas?

Acho que deve deixar de lado as pautas de costumes, que são caras a ele, e ir para Previdência e tributação porque se ele gastar todo o capital político para fazer questões de costumes ele não vai ter capital político para aprovar a Previdência. E ou se aprova a Previdência agora ou vamos quebrar feio. E também a reforma tributária porque a economia não aguenta mais. Tem ainda a reforma do Estado.

A gente não sabe até que ponto essa pauta de costumes, e falas contrárias às minorias, são apenas verborragia e o quanto podem afetar, na prática, projetos e medidas deste governo. Isso o preocupa?

Não sei se é uma coisa verborrágica ou se é de fato o que vai acontecer. Minha preocupação não é só em relação às minorias, mas a tudo, que sejam feitas coisas por ódio e não por uma evidência científica. Isso não leva o país a lugar nenhum.

O senhor demonstrou uma preocupação com o que chamou de ditadura da maioria. O presidente eleito já disse que minorias têm que se curvar, se adequar ou desaparecer.

Isso me preocupa, mas não porque ele fala essas coisas, mas porque isso pode levar setores da sociedade, fora do governo a legitimar a violência. Essa é minha única preocupação, de fato. No Congresso, acho que a gente consegue virar com evidência as coisas. Mas se você legitimar a violência, como ocorreu na campanha, aí é preocupante, porque reverter é muito mais difícil.

Muita gente diz: vou votar no Bolsonaro porque vejo que os gays têm mais direitos do que os que não são gays. Isso acontece porque a nossa economia está estrangulada, porque as pessoas se aposentam e não tem serviço público para ajudar, porque o sistema político não as representa. Se você resolver esses problemas, até no médio prazo, esse ódio de costumes se esvai.

É um ódio não baseado em evidências científicas, como o senhor diz.

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É irracional. O cara está ali, estrangulado pelos impostos, um desânimo e joga em uma coisa que está do lado dele e que não tem nada a ver com evidência científica, tem a ver com a projeção do seu próprio sofrimento. A gente tem que focar não é nem em pauta minoritária ou majoritária e sim em pauta universal: um sistema político mais honesto, com campanha mais barata, políticos mais próximos ao cidadão, um sistema tributário mais justo, que estimule a prosperidade e não a sonegação.

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