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Troca de farpas e acusações marcam debate entre candidatos à OAB-ES

Troca de farpas e acusações marcam debate entre candidatos à OAB-ES

Ricardo Brum, candidato da situação, e José Carlos Rizk Filho, da oposição, protagonizaram embates

Publicado em 20 de novembro de 2018 às 19:24

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Debate entre os candidatos à presidência da OAB: José Carlos Rizk Filho, Elisângela Leite Melo e Ricardo Brum na Rede Gazeta. (Vitor Jubini)

As trocas de farpas e acusações entre Ricardo Brum e José Carlos Rizk Filho deram o tom do debate que reuniu os três candidatos à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Espírito Santo (OAB-ES), na manhã desta terça-feira (20), na Rede Gazeta. Elisângela Leite Melo colocou-se como alternativa às chapas encabeçadas pelos dois, que representariam "empresas de advocacia". 

As eleições serão realizadas no próximo dia 28. Brum é o candidato da situação, atual secretário-geral da OAB-ES e apoiado pelo presidente Homero Mafra. Rizk ficou em segundo lugar no último pleito e faz oposição ao grupo que comanda a entidade. Um termômetro do clima do debate foi um pedido de direito de resposta logo no início do evento. O pedido acabou negado. Mas outro, desta vez concedido, surgiria em breve. As propostas passariam praticamente ao largo das discussões, mas vieram à tona por meio das perguntas feitas por jornalistas. 

Se estava, fisicamente, ausente do debate – ele não compareceu nem mesmo em meio à plateia – Homero Mafra, à frente da OAB-ES há quase nove anos, esteve presente em várias perguntas e respostas, ainda que nem sempre citado nominalmente. 

VEJA A ÍNTEGRA DO DEBATE

As primeiras palavras couberam, por ordem de sorteio, a Brum, que já começou criticando a ausência de Rizk a outros eventos anteriores ligados à campanha, como sabatinas. "Agradecendo ao candidato Rizk, que finalmente se dispôs a sentar com a gente em algum lugar e efetivamente discutir o futuro da advocacia e da sociedade", disparou.

O assunto ainda voltaria à baila, não sem antes passar por lembranças de convites que teriam ocorrido para que os hoje adversários estivessem numa mesma chapa, cobranças sobre propostas "inexequíveis" e questionamentos sobre arrecadação e gastos de campanha.

CARRO OFICIAL 

"Eu na presidência renunciarei ao carro oficial. Nós temos que dar o exemplo dentro da Ordem", anunciou Rizk. Brum, por sua vez, revidou: "A advocacia merece mais do que esse discurso demagógico, merece discurso que enfrente os seus problemas reais. E os problemas da advocacia não são um carro para sete diretores e 45 comissões. Isso é discurso para a plateia em momento político", afirmou o candidato da situação. A expressão "discurso demagógico" utilizada pelo candidato da situação levou o adversário Rizk a pedir o direito de resposta, o que foi negado pela organização do debate pelo entendimento de que não houve ofensa. 

MULHERES

Elisângela apontou a falta de mulheres em postos-chave na composição das chapas adversárias e questionou Rizk a respeito: "Nós, advogadas, somos quase 50% da categoria. Dos 47 cargos titulares da sua chapa apenas 5 são mulheres. Qual critério a chapa 2 usou para deixar as mulheres na suplência?"

"Na verdade, na nossa chapa a gente entende que mulher não é espaço e nem número, é questão de respeito", respondeu o candidato.

Mas a candidata não concordou com o adversário. "São 29 mulheres para 63 homens. Isso não é respeito, isso não é representatividade. A mulher não tem que aprender a crescer ou ser empoderada por alguém. Nós já temos esse poder. Nós só precisamos que seja respeitado o nosso espaço de fala", respondeu. 

RELAÇÕES POLÍTICAS 

Um dos embates mais acalorados teve início com a pergunta de Brum para Rizk a respeito de contatos que ele tem mantido com políticos e advogados ligados a outras instituições. "A gente tem visto nas redes sociais que o senhor tem feito reuniões com deputados, com vereadores, o senhor na construção de sua chapa fez questão de colocar um advogado da associação do Ministério Público, da Amages (Associação dos Magistrados do Espírito Santo), da associação dos delegados, e isso me preocupa. Me preocupa porque o olhar que a gente tem é o de uma Ordem independente", disse Brum. 

"Como é interessante não é, Ricardo? Você foi lá no meu escritório, me chamou para sua chapa, eu disse que não iria e aí o Rizk ficou ruim de um dia pro outro, ficou o monstro. Advogado que tem cliente não se confunde com o seu cliente. Isso é algo antigo. O senhor foi em rede social pedir voto para deputado, candidato Brum, Haroldo Santos. E vem falar que a minha chapa é partidária", retrucou Rizk.

A QUASE UNIÃO

Foi aí que começou o "quem convidou quem" para a chapa adversária. "Eu quero dizer que o senhor também disse que eu teria espaço em qualquer posição da sua chapa e que o que nós tentamos construir é o que a gente deveria tentar construir sempre: unidade na advocacia e não dicotomia", afirmou Brum. Rizk, na tréplica, emendou: "Na verdade, Brum, o senhor foi ao meu escritório e disse: 'O eleitorado esquece em três meses'. Eu não esqueço. E o senhor falou que o seu pai disse pra ir ao meu escritório pra me chamar para a sua chapa. Com todo respeito, não me lembro de tê-lo chamado para a minha chapa". 

PROPOSTAS

E isso foi só durante o primeiro bloco. No segundo, desta vez com perguntas feitas por jornalistas aos candidatos, sem o confronto direto entre eles, surgiram questionamentos e respostas sobre propostas para a advocacia e o posicionamento institucional da OAB-ES.

Elisângela propôs reformular a transparência da OAB para detalhar dados de receitas e despesas; realizar consultas públicas aos advogados sobre quais são suas demandas e ainda criticou os parlatórios (quando o preso tem que falar com o advogado por meio de interfones), considerando-os ilegais.

Brum comprometeu-se, mais uma vez, a não disputar a reeleição, caso eleito, e tentou desvincular-se da imagem do padrinho Homero: "A ordem é muito mais do que uma única pessoa". O candidato também falou sobre suas propostas para advogados em início de carreira: "O que a gente propõe para a jovem advocacia é o que a gente denominou de advocacia de mãos dadas, grupos de estudos, incentivo a novas atividades, a novas carreiras, nichos de atuação, porque é isso que vai fazer com que a gente mude o quadro que hoje não está fácil". 

Já Rizk defendeu que a Ordem faça um "debate aprofundado" sobre a morosidade do Judiciário e vaticinou: "Já temos a prova que a prisão não dá jeito. Temos provas eficientes e eficazes de que é preciso ressocializar, penas alternativas, pôr isso em prática. E a Ordem tem que realizar isso junto com o Judiciário. Mutirões no interior, no extremo Sul, no extremo Norte, para que o réu e o advogado não fiquem três, quatro anos esperando". Quanto à garantia de direitos dos advogados, o candidato da oposição pretende criar uma Procuradoria de Prerrogativas para que advogados possam ser atendidos em todo o Estado. 

ACIRRAMENTO

Outro momento de acirramento protagonizado por Brum e por Rizk aconteceu no bloco seguinte, quando Brum pediu que o adversário explicasse sua proposta de criação de uma cooperativa de crédito para advogados. 

Além de afirmar que a atual gestão da OAB, da qual Brum faz parte, não implementou propostas de campanha como a questão do salário e do piso salarial de advogados, Rizk aproveitou o momento para falar: "Sofro ataques desde o início do processo eleitoral. Seu maior apoiador, Homero Mafra, fala mais de mim do que do senhor em rede social".

Brum, então, rebateu: "O senhor não falou da criação da cooperativa de crédito. Preferiu falar que está sendo atacado, se vitimizar, dizer que o Homero fala mais de você do que de mim em vez de explicar a proposta. Sabe por que o senhor não fez isso? Porque o senhor não conhece a Ordem, não sabe do que está falando". 

Por sua vez, Rizk argumentou: "Quem entende da OAB, que ficou ao seu lado por seis anos, doutor Rodrigo Mazzei, diz que o senhor mente. Então se ele, que está na Ordem há seis anos, na ESA (Escola Superior de Advocacia), disse no Gazeta Online que o senhor mente números, fica muito difícil aqui o senhor falar que eu apresento proposta que não seja real". 

A situação levou Brum a pedir direito de resposta, alegando ter sido chamado de mentiroso. O pedido foi acolhido. O candidato da situação pontuou que Mazzei e ele apenas divergiram sobre a avaliação do que poderia ser considerado investimento na ESA. 

GASTOS DE CAMPANHA

Em outro momento, a candidata Elisângela, da Chapa 3, pressionou Brum para que ele dissesse o quanto havia sido gasto em sua campanha. A provocação também se estendeu para Rizk, ainda que a pergunta não fosse dirigida a ele. "O senhor é o homem dos números. Quanto o senhor gastou até agora e quanto pretende gastar? Qual é o topo da sua campanha? A advocacia precisa saber".

Brum então frisou que apenas os 92 membros de sua chapa fizeram doações de campanha, mas alegou não possuir os dados por não administrar as contas. Ele afirma ter desembolsado, sozinho, R$ 25 mil. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas considerações finais, Brum deu sequência ao embate com o adversário da chapa 2. "Me frustra o fato de meu pai ter sido levado para esse debate a partir de uma análise e de um olhar de coisas que foram ditas, foram colocadas, e hoje são negadas. E isso é algo que precisa ser pensado em relação ao que a gente quer para os próximos anos", disse. 

Elisângela finalizou sua participação colocando-se como uma alternativa em meio a dois grupos que, segundo ela, são compostos apenas pela "elite" da advocacia do Estado. "Vemos aqui duas chapas com a velha política, uma política que traz gastos milionários em campanhas e com mulheres em escalões mais baixos, sem protagonismo", disse ela. E completou: "A Chapa 3 representa o advogado que está na base da pirâmide e não as empresas de advocacia, o topo da advocacia que está sempre dentro da OAB". 

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Rizk aproveitou o momento para rebater as acusações de Brum de que ele não teria comparecido a outros eventos para debater sobre a Ordem. "Sou grato ao espaço aqui hoje. Todo evento que for democrático, plural, eu irei. Todo evento que for imparcial, estarei lá", afirmou. Mais adiante, ele reiterou suas críticas à Chapa 1: "Eles já tiveram nove anos já, três vezes, e é muito importante que a gente tenha uma oxigenação para que quem pensa que não dá para ser posto em prática nos dê uma chance, uma oportunidade". 

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