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Palocci aponta repasse a jornalista para produção de filme sobre Lula

Palocci aponta repasse a jornalista para produção de filme sobre Lula

O teor da delação foi revelado pela revista Crusoé nesta terça-feira (22) e confirmado pela Folha de S.Paulo

Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 23:29

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Em delação, Palocci aponta repasse a jornalista para produção de filme sobre Lula. (Arquivo)

Em depoimento de seu acordo de delação, o ex-ministro petista Antonio Palocci afirmou que a empresa do jornalista Roberto D'Ávila, à época dono de uma produtora de audiovisual, recebeu um repasse de R$ 1 milhão para a produção do filme "Lula, o filho do Brasil" e que a quantia teria sido paga pela Schahin Engenharia em troca de um favor que teria prestado à empreiteira na Petrobras.

O teor da delação foi revelado pela revista Crusoé nesta terça-feira (22) e confirmado pela Folha de S.Paulo.

Não fica claro, pelo depoimento, se D'Ávila sabia da negociação entre Palocci e a Schahin. O jornalista nega ter conversado com o ex-ministro e diz que não sabia das tratativas anteriores à doação.

À Polícia Federal Palocci afirmou ter atuado em benefício da Schahin, a pedido do empresário Milton Schahin, para a renovação de um contrato na Petrobras, em 2008, quando era deputado federal.

Ele diz ter procurado a então ministra Dilma Rousseff e outros assessores, apresentando o pleito da empreiteira, que estava com dificuldades financeiras. O contrato acabou renovado em 2009.

Em troca do favor, segundo o relato de Palocci, o empresário se ofereceu para fazer uma "doação substancial" ao ex-ministro, que recusou, dizendo que só poderia ser remunerado se tivesse feito um contrato de consultoria com a Schahin.

À mesma época, D'Ávila, hoje apresentador de um programa de entrevistas na GloboNews, também teria contatado Palocci. "Lula, o filho do Brasil" estava em finalização, e o jornalista teria pedido o auxílio do petista para arrecadar doações de empresas para a produção.

A cinebiografia do ex-presidente estreou em 2010 e custou R$ 12 milhões -foi, na época, a produção brasileira mais cara da história. O filme foi bancado integralmente por patrocinadores, sem verbas públicas nem renúncia fiscal. Entre os doadores creditados na obra, estão as empresas Camargo Corrêa, Odebrecht e OAS, o frigorífico JBS e a EBX, de Eike Batista.

A produção foi vista por cerca de 850 mil espectadores nos cinemas. Depois, foi indicada pelo Ministério da Cultura para concorrer ao Oscar, mas não ficou entre os finalistas.

O ex-ministro diz ter se lembrado do pedido de D'Ávila quando da conversa com Schahin, e sugeriu, então, que o empresário fizesse uma doação de R$ 1 milhão ao filme.

De acordo com Palocci, o jornalista teria afirmado que havia quatro formas de fazer doações: abertamente, com créditos; abertamente, mas mantendo a marca sigilosa; por meio de pagamentos para a empresa de D'Ávila, para bancar despesas do filme; ou fazendo um contrato com sua empresa, para dar suporte às transferências.

O ex-ministro diz ter orientado o produtor a procurar o empresário, e vice-versa. Depois, os dois confirmaram que a doação foi bem-sucedida, segundo ele.

Palocci ainda afirma que contatou outras três empresas para pedir apoio ao filme: a OAS, a Odebrecht e a Caoa. Mas, nesses casos, não havia contrapartida. As três estão na lista de doadores exibida no filme.

OUTRO LADO

À reportagem D'Ávila afirmou que nunca conversou com Palocci a respeito de doações para o filme e disse que o pagamento da Schahin à produtora foi feito legalmente, por meio de contrato. "Foi com nota fiscal, por dentro, tudo direitinho", disse.

Segundo ele, o empreiteiro foi quem ligou para oferecer a contribuição e não houve menção a Palocci.

O jornalista afirma que a Schahin pediu para não aparecer nos créditos do filme, o que seria corriqueiro. O contrato firmado com sua produtora também previa a produção de dois vídeos institucionais para a empreiteira, mas eles não foram feitos -segundo D'Ávila, porque não foi mais procurado pelos empresários.

"Naquela época, nem se tinha ideia dessa pilhagem que existia na Petrobras. Foi um trabalho comercial da minha empresa", afirmou.

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Ele já prestou depoimento à Polícia Federal e abriu o sigilo fiscal da produtora Intervídeo. O caso ainda está sob investigação, e ninguém foi indiciado até agora.

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