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Sem unidade, oposição busca um novo caminho

Sem unidade, oposição busca um novo caminho

Partidos não alinhados a Bolsonaro ainda tentam se entender

Publicado em 14 de janeiro de 2019 às 02:15

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Sessão da Câmara dos Deputados: oposição pode se organizar no Congresso contra Bolsonaro. (Luís Macedo/Câmara dos Deputados)

Após 13 anos e quatro meses no poder, o PT está, desde 2016, na oposição ao governo federal. Com a ascensão de Jair Bolsonaro (PSL) – de ideologia mais do que à direita – ao maior posto da República, como será que as siglas do espectro à esquerda, que não restringem-se ao PT, vão se comportar em relação ao governo central? Como provam fatos recentes da política nacional, exercícios de futurologia estão praticamente fadados ao fracasso até quando se trata de previsões de um dia para o outro (que o digam os recuos do próprio governo).

Mas o que parece hoje é que a esquerda não tem unidade. Um bloco foi criado na Câmara entre PSB, PDT e PCdoB, excluindo, portanto o PT. O PSOL, para variar, não se entrosa. E a decisão do PDT de sinalizar apoio a Rodrigo Maia (DEM) à Presidência da Casa já enfraqueceu o bloco. Maia já é apoiado pelo PSL.

A ida da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, à posse do controverso presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também não ajudou em nada.

Na bancada capixaba, o deputado federal eleito Felipe Rigoni (PSB) reafirmou que não fará “oposição por oposição” e até considera que o bloco de três partidos deve seguir a mesma lógica: “Eu nem chamaria isso de oposição, chamaria de criticidade”. Rigoni não se considera um homem de esquerda. “Não me declaro nem de esquerda ou direita, sou um liberal progressista”, ressaltou.

Também futuro integrante da bancada do PSB, Ted Conti é outro que diz que não pretende fazer oposição sistemática.

O discurso pode não ser unânime na sigla do falecido Eduardo Campos, uma vez que o governador da Paraíba, João Azevêdo exortou, em entrevista à “Folha de S. Paulo”, oposição a Bolsonaro “desde o primeiro dia”.

Mas ele não está na Câmara ou no Senado, assim como Ciro Gomes, que disputou, sem sucesso, a Presidência da República pelo PDT. Ciro critica o governo e mais ainda o PT.

O presidente estadual dos pedetistas, o deputado federal reeleito Sérgio Vidigal, avalia que a oposição do PT ao Executivo “vai ser muito raivosa”.

“Não vamos nos unir ao modelo de oposição do PT. A oposição do PT vai ser muito raivosa. O PDT vai ter certa autonomia. Não seremos governo, mas o PDT não irá criar dificuldades naquilo que for bom para o país”, afirmou.

E o PT? A reportagem não conseguiu contato com Helder Salomão, único petista na bancada capixaba. Mas o presidente estadual do partido, João Coser, destacou: “Não sou a favor de oposição raivosa e sim firme”. “Mas divididos, nós (a esquerda) teremos pouca força e acabamos sem condições de fazer um bom enfrentamento”, alertou. Quanto à atitude de Gleisi, de comparecer à posse de Maduro, criticada por integrantes da própria esquerda, o petista exemplificou: “Se isso vira o debate na esquerda, não nos leva a nada”.

80 votos

Carlos Manato (PSL), alocado na Casa Civil do governo Bolsonaro, será responsável pela articulação do governo com a Câmara. Ele conta que “80 votos, esquece”. Tais votos seriam os do PT, PSOL e PCdoB, que não seriam, em nenhuma hipótese, favoráveis a projetos do Executivo. “Tem 60 votos que são do PSB e do PDT que nós temos possibilidade de diálogo”, frisou. Manato até já foi filiado ao PDT.

“Precisamos de 308 votos para a Reforma da Previdência na Câmara e 54 no Senado. Vamos chamar os líderes partidários e mostrar a reforma para eles. Já dá a primeira amaciada antes de ir para o Congresso (com mudanças sugeridas pelos parlamentares). Vamos trabalhar com diálogo.”

Força história do PT agora é posta em xeque

O desgaste de 13 anos no poder, os escândalos de corrupção e a falta de autocrítica têm provocado o afastamento de antigos aliados do PT, que pode ficar isolado na trincheira anti-Bolsonaro. Mas o partido ainda terá a maior bancada da Câmara, com 56 deputados, seguida pela do PSL , com 52.

“Está cedo para dizer se a esquerda vai se juntar ou se separar. Mas a evolução do antipetismo é um ponto importante. Isso pode fazer com que os demais partidos não se alinhem ao PT na oposição”, avalia o cientista político Francisco Albernaz. “E o PT já não tem a mesma capacidade de mobilização”, complementa.

A questão é a força que terão os demais partidos se não agirem articulados com os petistas. “Mas a ida da Gleisi (Hoffmann, presidente do PT) para a Venezuela é uma bomba, quem é contra Bolsonaro fica até constrangido de tratar disso levando em conta o forte antipetismo que já existe”, lembra Albernaz. Ele diz também que é preciso avaliar qual a capacidade de mobilização que teriam, principalmente, PDT e PSB.

 

Por enquanto, sem o funcionamento do Congresso, em recesso até fevereiro, as manifestações de petistas, como as de Fernando Haddad, que perdeu no segundo turno das eleições para Bolsonaro, têm se limitado, basicamente, às redes sociais.

Histórico

O PT ficou conhecido, ainda antes da vitória de Lula, em 2002, como o partido de uma oposição aguerrida, que se colocou contrário até mesmo a propostas como o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), capitaneadas pelo PSDB, sigla com a qual os petistas rivalizaram por anos.

Já no governo, a sigla contemporizou, não com os tucanos, que continuaram no polo oposto, mas conseguiu unir a esquerda até certo ponto – o PSOL surgiu como um desmembramento da legenda após o escândalo do mensalão. Os petistas no poder tiveram a seu lado, entre outros, PDT, PSB e PCdoB, que chegaram a integrar os governos Lula e Dilma.

“O PT trabalhou por políticas inclusivas, foi quase social-democrata, teve privatizações, concessões, não é um partido radical”, avalia João Coser, presidente estadual da legenda.

Um hiato que, ainda que recente, parece ser pouco lembrado, foi o governo Michel Temer (MDB), contra o qual esteve o PT, alijado do poder no impeachment de Dilma Rousseff com a coparticipação dos emedebistas.

Temer não conseguiu, por exemplo, colocar a Reforma da Previdência em votação, mas mais por erros dele mesmo do que por ação da oposição. Houve a conversa do então presidente com o empresário Joesley Batista e as denúncias feitas pelo Ministério Público. Bolsonaro, em início de governo, provavelmente, terá mais capital político para queimar.

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