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Ernesto Araújo relativiza caso da embaixada em Israel com Turquia

Ernesto Araújo relativiza caso da embaixada em Israel com Turquia

O Brasil quer explicar que a mudança se encaixa numa melhora da relação com os israelenses, sem detrimento do contato com países muçulmanos

Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 21:54

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Chanceler brasileiro relativiza caso da embaixada em Israel com Turquia. (Valter Campanato/Agência Brasil)

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, irá se encontrar nesta quarta (06) com o seu colega turco, Mevlüt Çavasoglu, para tentar relativizar a questão da mudança da embaixada brasileira em Israel.

O Brasil quer explicar que a mudança se encaixa numa melhora da relação com os israelenses, sem detrimento do contato com países muçulmanos. É uma inflexão na posição brasileira defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), por isso não será uma tarefa simples convencer o interlocutor.

O encontro ocorrerá em Washington, onde ambos os diplomatas estão em visitas distintas. Na semana passada, o governo turco havia solicitado o encontro, em nome do país e de outras nações de maioria islâmica: Malásia, Indonésia, Jordânia e Palestina.

Segundo a reportagem apurou, Araújo buscará dirimir o que o Itamaraty considera um excesso de ruídos na discussão sobre a mudança da representação brasileira de Jerusalém para Tel Aviv.

Tudo começou na campanha eleitoral, quando o então candidato Bolsonaro prometeu em algumas ocasiões que seguiria os EUA de Donald Trump e faria a mudança se eleito.

Seu alvo era o eleitorado evangélico, que o apoio de forma maciça. Líderes de diversas igrejas dessas denominações acreditam que o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel é uma obrigação bíblica.

Para alguns deles, o estabelecimento definitivo do Estado judeu é precondição para a volta de Jesus Cristo à Terra - o fato de que a Bíblia prevê a conversão ao cristianismo dos aderentes do judaísmo no fim dos tempos é questão à parte.

Com Bolsonaro eleito, gestos foram feitos ao governo de Binyamin Netanyahu em Israel. Enfrentando problemas internos e externos, o premiê Bibi, como é conhecido, abraçou a oferta de aproximação brasileira e foi a estrela internacional da posse do novo presidente em Brasília.

Bibi saiu do Brasil anunciando que a embaixada brasileira mudaria para Jerusalém. O problema é que o Brasil segue a orientação da ONU de manter sua representação em Tel Aviv enquanto o status do conflito entre israelenses e palestinos não se resolve - ambos os povos reivindicam a cidade como sua capital.

Além de EUA, que abriu a nova embaixada em 2018, apenas Guatemala promoveu a mudança.

A promessa bolsonarista foi vista com preocupação especial de exportadores de carne brasileiros. Como a Folha de S.Paulo revelou em outubro, a grande exportação de carne de ave e de boi com o selo de qualificação islâmica do país poderia enfrentar boicotes. A preocupação chegou ao Planalto, e foi reforçada por advertências da Liga Árabe após a vitória do candidato do PSL.

Após a visita de Bibi, o tema saiu dos discursos de Bolsonaro. Coube então ao general Hamilton Mourão, o vice-presidente, aproveitar sua interinidade de seis dias para chamar delegações árabes duas vezes e negar a transferência da embaixada neste momento.

Mourão é a linha de frente de um movimento da ala militar do governo contra o Itamaraty sob Araújo. Os fardados não gostaram de ver o Brasil anunciar a suspensão da cooperação militar com a Venezuela, em 4 de janeiro, sem serem consultados - elementos desse contato, como a presença de oficiais dos dois países em constante troca de informação, são vitais para que o governo tenha dados dos passos da ditadura de Nicolás Maduro.

Houve então uma intervenção branca no ministério de Araújo, que passou a consultar-se mais com generais no governo, como a Folha de S.Paulo noticiou no domingo (3). Seus aliados dizem que a coordenação entre o chanceler e a área de Defesa está ótima e negam tal tutela.

Desde então, contudo, movimentos em áreas sensíveis como a crise na Venezuela foram precedidos de manifestações de Mourão.

O mesmo ocorre agora em relação à embaixada. Em entrevista na sexta (1º), Araújo já indicou um arrefecimento da intenção do presidente. "A decisão seria parte de um processo de elevação do patamar da relação com Israel, isso sim uma determinação, independentemente da mudança ou não da embaixada", disse.

O encontro com o chanceler turco também indica uma mediação islâmica diferenciada. Apesar de ter idas e vindas, a relação do regime de Recep Tayyip Erdogan com Israel é pautado por uma agenda externa e de segurança comum, a começar pela vizinha Síria. A Turquia apoia os palestinos, mas é vista como uma interlocutora mais ponderada do que alguns países árabes.

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Além da reunião, o Itamaraty busca datas para que Araújo encontre os representantes de países árabes e de entidades de comércio bilateral nas próximas semanas.

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