Com menos de 100 dias de mandato, o desgaste entre o governo Bolsonaro e o Congresso Nacional foi intensificado esta semana, com a troca de farpas entre o presidente da República e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Houve ainda a falta de habilidade demonstrada pelos ministros do Executivo em suas idas ou ausências ao Legislativo.
As dificuldades de relacionamento têm levado a condução política a um caminho arriscado, correndo o risco de afetar as agendas que têm a votação aguardada para este ano, como a reforma da Previdência, por exemplo, na avaliação de analistas e parlamentares.
Manifestações do próprio Bolsonaro e de seus líderes atrelando a cobrança por diálogo, feita pelos parlamentares, à velha política, estão no centro das insatisfações.
O presidente começou com essas afirmações há duas semanas, após ter se reunido com Maia para tratar da Previdência, e no mesmo dia em que anunciou a liberação de R$ 1 bilhão em emendas parlamentares. O presidente da Câmara, por sua vez, alertou Bolsonaro da necessidade de melhorar a articulação com o Congresso Nacional, que vinha se sentindo desprestigiado.
Daí em diante, a corda só passou a ficar mais esticada, até que, na última quarta-feira, em tom de ironia, Bolsonaro afirmou que Maia estaria um pouco abalado com questões pessoais que vêm acontecendo. O parlamentar rebateu, dizendo que o capitão estava brincando de ser presidente.
Ontem, em uma tentativa de trégua, ambos abaixaram o tom. Para mim isso foi uma chuva de verão. O Brasil está acima de todos. Vamos em frente. Página virada, afirmou o presidente. Maia, após almoçar com o ministro da Economia, Paulo Guedes, também sinalizou. Vamos colocar esse trem nos trilhos para que a gente possa caminhar com velocidade, disse.
O fato de Guedes não ter comparecido à reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), nesta semana, na Câmara, foi inclusive um elemento que contribuiu para a exaltação dos ânimos. No entanto, há um compromisso de que o ministro cumpra esta agenda na próxima quarta-feira.
ESTACA ZERO
Daqui em diante, é importante que o Planalto se empenhe em reiniciar uma operação contra a crise política, com mais interlocutores e congressistas, na tentativa de viabilizar projetos estratégicos ao governo, na avaliação do cientista político Fernando Pignaton.
Bolsonaro, na viagem aos Estados Unidos, entrou em uma imersão ideológica que o fez tomar atitudes que o tiraram da articulação e o fez perder a hegemonia internamente. Setores mais moderados estão dando um passo atrás, afirma.
Para ele, está se manifestando um movimento novo no setor da direita. Este grupo, que estava tão à vontade no período eleitoral e escolheu Bolsonaro como ícone, ao chegar no governo se depara com outra realidade e vai se dividindo em correntes. Há os grupos dos liberais, dos militares e do guru Olavo de Carvalho, e ainda o de centro-direita, e do centrão, que estão se organizando em torno de Rodrigo Maia, comenta.
O cientista político Carlos Melo também destaca a inexperiência de Bolsonaro e das lideranças que o cercam. Estamos em uma longa transição, em que Bolsonaro e seu partido se organizaram no contexto da crise, sem experiência. Mas era preciso um crescimento rápido. Sair do campo das emoções e discutir projetos, disse, à rádio CBN.
O deputado federal Felipe Rigoni (PSB) também considera que a divisão interna é um dos fatores que agrava a interlocução.
O presidente se elegeu com as alas dos conservadores nos costumes, com os da pauta econômica e com os militares. Essa ala conservadora reforça a negação da política. O que percebemos é que como Bolsonaro não se preparou para ser presidente, está tudo desorganizado, o governo não senta para conversar. E isso não significa que é toma lá, dá cá.
Para Sérgio Vidigal (PDT), o trabalho de convencimento está falho. Há muitos fatores. Falta de experiência, renovação grande, ministérios com dificuldade de relacionamento. Vejo que o problema maior que ele está tendo é com aqueles que o apoiaram: o centrão, o próprio partido dele. Conversar é uma tarefa natural de um líder, afirma.
POLÊMICAS
20 de março
Maia x Moro
Uma declaração de Rodrigo Maia sobre Sérgio Moro foi o gatilho para desentendimentos entre os Poderes Executivo e Legislativo. Maia disse que o projeto anticrime do ministro é um copia e cola de uma proposta do antecessor na pasta, Alexandre de Moraes.
23 de março
Maia x Carlos Bolsonaro
Após ser criticado por Carlos Bolsonaro no Twitter, Maia disse ao ministro Paulo Guedes que, se é para ser atacado nas redes sociais por filhos e aliados de Bolsonaro, o governo não precisa de sua ajuda.
A reação
Bolsonaro afirmou que não entra em campo de batalha que não é o seu, que algumas pessoas não querem largar a velha política, e jogou a responsabilidade da reforma da Previdência sobre Maia e o Congresso, não sabendo porque ele anda tão agressivo.
27 de março
Novo embate
O presidente afirmou que Maia está abalado por problemas na vida pessoal. Para o líder do Executivo, parlamentares estão fazendo tempestade em copo dágua.
Réplica
Abalados estão os brasileiros que esperam desde janeiro que o Brasil comece a funcionar, afirmou Maia, rebatendo o presidente.
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