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Disputa no governo Bolsonaro está longe do fim, avaliam especialistas

Disputa no governo Bolsonaro está longe do fim, avaliam especialistas

Último conflito ocorreu no Ministério da Educação entre militares e setor ligado ao escritor Olavo de Carvalho

Publicado em 12 de março de 2019 às 22:32

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O presidente Jair Bolsonaro, ao empossar o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez. (Valter Campanato | Agência Brasil)

A saída de quadros ligados ao escritor Olavo de Carvalho do Ministério da Educação (MEC) no últimos dias abriu um novo front de guerra dentro do governo, entre o "campo ideológico" do governo e os militares. Nesta segunda-feira (11), após pressão do escritor, três militares que ocupavam cargos estratégicos foram exonerados, por ordem do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Outros dois nomes ligados a Olavo de Carvalho e um diretor também foram demitidos. 

Entre eles, o coronel da Aeronáutica Ricardo Wagner Roquetti, diretor do ministério, que seria o responsável pela carta enviada a escolas do país com slogan de campanha do presidente Jair Bolsonaro e pedido para filmagem de alunos cantando o Hino Nacional.

Para especialistas, essa disputa interna entre as diferentes forças políticas, econômicas, militares e sociais que compõem o governo não começou agora - vem desde a transição, e ainda deve perdurar. A luta por protagonismo também coloca à prova a capacidade do presidente de arbitrar conflitos e definir prioridades da nova gestão.

"No Congresso, Bolsonaro era um nome do baixo clero, totalmente isolado. Com a campanha, foram se agregando diferentes grupos ao seu projeto, que hoje tentam se encaixar no governo. Há o setor da liberal da economia, o grupo ligado ao ex-juiz Sérgio Moro, a base religiosa, os militares, e a base ideológica. Mas ele não se mostra com habilidade para dirimir os conflitos que surgem entre eles, e junto com os filhos, os exacerba e cria novas polêmicas", avalia o professor da Ufes e especialista em políticas públicas, Roberto Simões.

Especificamente dentro do MEC, destaca Simões, há pelo menos quatro ou cinco grupos de influência: os "olavistas", ligados a Olavo de Carvalho; os ligados ao ministro, Ricardo Vélez; os militares; os grupos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Instituto Militar de Engenharia (IME) e os das escolas técnicas e faculdades de tecnologia de São Paulo. Esses últimos são apontados pelos "olavetes" como "tucanos" e "infiltrados" no MEC.

"Eles nunca se esbarraram na vida acadêmica ou política, e de repente estão juntos em um mesmo prédio, fazendo parte de um projeto de poder. Ficam várias disputas estabelecidas sem uma arbitragem", afirma.

OUTROS EXEMPLOS

A queda de braço entre os núcleos do governo também já ficou evidente em outras pastas. No Ministério das Relações Exteriores, por exemplo, o chanceler Ernesto Araújo, emplacado por Olavo, e o vice-presidente Hamilton Mourão, divergiram sobre a questão da Venezuela. Enquanto o chanceler estimulou o rompimento das relações diplomáticas e envio de ajuda humanitária, Mourão tentou restabelecer os canais de diálogo.

No Ministério da Justiça, por pressão do núcleo ideológico, Bolsonaro obrigou o ministro da Justiça, Sérgio Moro, a revogar a nomeação de Ilona Szabó de Carvalho como suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.

Quem vai se sobressair? "Tudo indica que serão os militares. A militarização no governo já é algo efetivo, é o grupo que mais cresce. Olavo está mais preocupado com os postos de poder, mas os militares estão com espaço em aspectos relevantes. Podem se destacar também no ministério da Economia", avalia Roberto Simões.

O doutor em Ciência Política e professor da UVV Paulo Edgar Resende acrescenta que não há previsão de diminuição dos conflitos. "Além de todos esses grupos em desarmonia, há o setor técnico, dos funcionários de carreira, e também o setor político que ainda não se eliminou totalmente. Para aprovar a reforma da Previdência, Bolsonaro já sinalizou que está mais disposto a ceder a esses interesses. Ficará cada um puxando a corda para um lado", disse.

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O professor também critica as nomeações por critérios ideológicos. "Não é eficaz. O Estado tem uma máquina moderna, com um orçamento grande, muitos funcionários e incubências, precisa de profissionalismo. É preciso observar os princípios da eficiência, da eficácia, trabalhando a partir de estudos, buscando mecanismos eficazes. O que vemos é uma falta de direcionamento", analisa.

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