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Especialistas: vídeo obsceno tira foco de ações prioritárias ao país

Especialistas: vídeo obsceno tira foco de ações prioritárias ao país

Postagem do presidente em rede social criou nova crise ao governo

Publicado em 7 de março de 2019 às 12:25

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O presidente Jair Bolsonaro. (Alan Santos/PR)

A oposição fala em representar criminalmente contra o presidente, um aliado vem a público criticar a postura do chefe de Estado, e o jurista responsável por encaminhar a tese que culminou na queda de Dilma Rousseff (PT), Miguel Reale Jr, avalia que a publicação de um vídeo com ato obsceno, pelo presidente da República, pode ensejar a abertura de um processo de impeachment. Nova crise está instalada, é fato. O que causa espécie, porém, é a origem da nova tormenta sobre o governo Bolsonaro. Não veio a reboque de nenhuma grande operação da Polícia Federal ou por ação organizada dos antibolsonaristas, mas dos dedos “tuiteiros” do próprio presidente.

Nesta terça-feira (5), Bolsonaro compartilhou um vídeo que causou polêmica. Nas imagens, feitas no carnaval paulista, aparece um homem dançando após introduzir o dedo no próprio ânus. Um outro rapaz surge urinando na cabeça do que dançava. Nesta quarta-feira (6), o presidente publicou uma pergunta: “O que é golden shower?”. Este é o nome, em inglês, para o fetiche de urinar na frente de um parceiro ou sobre ele.

É fácil concluir que não é razoável usar o comportamento isolado de dois indivíduos para estigmatizar um evento tradicional que gera emprego, promove o turismo, movimenta quase R$ 7 bilhões e – por que não? – possibilita um pouco de diversão para um povo que faz por merecer, apesar de tudo.

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Essa tendência de se manifestar diuturnamente pelas redes sociais gera crises continuadas para seu governo. Esqueceu o ponto de vista econômico do carnaval, que movimenta a economia, que traz turistas. Gerou uma repercussão imediata e mundial, que pode trazer prejuízos

Rogério Baptistini, professor de Sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Outro indício do equívoco está no isolamento do ato polêmico. Governadores de Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e outros Estados com alguma tradição carnavalesca não reduziram os dias de festa aos imprevistos de sempre.

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O presidente fez acrescentar, nesses primeiros dias de governo, mais um episódio grotesco, típico de republiqueta, de país desinstitucionalizado. Isso vai corroendo a legitimidade que ganhou nas urnas e pode prejudicar a base para apoio a reformas. O presidente está alimentando crises

Rogério Baptistini, professor de Sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie
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No Twitter, Jair Bolsonaro tem 3,5 milhões de seguidores. Os três filhos dele têm cerca de 1 milhão, cada um. Para o professor de Ciência Política da PUC-Rio Ricardo Ismael, os canais seriam melhor utilizados se o clã focasse em questões importantes. Ismael critica não a queixa do presidente sobre excessos do carnaval, mas a maneira como ela foi feita.

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Certamente o país tem outros problemas, questões mais urgentes. Essa crítica que ele fez deve ter o apoio de algumas pessoas incomodadas com excessos no carnaval de rua, mas podia ser feita de uma forma. Cria-se uma discussão, enquanto o Brasil precisa debater problemas concretos, que estão todos aí

Ricardo Ismael, professor de Ciência Política da PUC-Rio
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Nos blocos de rua ou nos desfiles das grandes escolas de samba, Jair Bolsonaro e as ideias que ele defende foram amplamente criticados. O vídeo obsceno pode ter sido para atacar quem o ataca.

FUMAÇA

Há quem suspeite que publicações como essa sobre o carnaval são tática de Bolsonaro para lançar cortina de fumaça para outros problemas mais graves e desgastantes ao presidente e ao governo. Sergio Denicoli discorda.

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Não acredito que esse seja o objetivo, mesmo porque o presidente acredita nos projetos que tem enviado ao Congresso e precisa, inclusive, do apoio popular para pressionar os parlamentares a aprová-los. O que está claro é que Bolsonaro ouve o que as redes sociais dizem e acompanha todos os movimentos on-line que envolvem a ele e ao seu governo. Portanto, diante de ataques que sofreu, reagiu de forma a tentar descredibilizar e colocar no mesmo barco os que o criticaram nos dias de folia

Sergio Denicoli, diretor da AP/Exata e pós-doutor em comunicação digital
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ENTENDA O CASO

A publicação

Vídeo no Twitter

Ao criticar o “que tem virado muitos blocos de rua no carnaval”, Jair Bolsonaro divulgou um vídeo no Twitter, na última terça-feira.

O vídeo

Conteúdo

As imagens foram gravadas no carnaval paulistano. A cena tem um homem dançando após introduzir o dedo no próprio ânus e um outro rapaz surge urinando na cabeça do que dançava.

Golden shower

Nova polêmica

Nesta quarta, o presidente publicou uma pergunta: “O que é golden shower?” Golden shower é o nome, em inglês, para o fetiche de urinar na frente de um parceiro ou sobre ele.

OPINIÃO DA GAZETA

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Enquanto se preocupa com excessos de foliões no carnaval, Bolsonaro se cala sobre o que realmente importa. O principal projeto de seu governo, a reforma da Previdência, foi tema de apenas seis dos mais de 300 tuítes desde que assumiu o cargo, segundo levantamento do Poder360. Ironicamente, no tal tuíte polêmico, Bolsonaro sugeriu aos cidadãos que elenquem suas prioridades. Poderia seguir seu próprio conselho.

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