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PT, MDB e PSDB tentam se reerguer no ES

PT, MDB e PSDB tentam se reerguer no ES

Antes majoritários, partidos perderam espaço na última eleição

Publicado em 6 de março de 2019 às 00:43

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João Coser, à frente do PT; César Colnago, presidente estadual do PSDB; e Lelo Coimbra, do MDB: desafio é garantir relevância às siglas no cenário local . (Facebook/João Coser | Fred Loureiro/Secom | Gabriel Lordêllo/Arquivo)

Por três décadas PT, PSDB e MDB ditaram as regras da política nacional e, por tabela, exerceram grande influência nos Estados, incluindo o Espírito Santo. Mas o pleito de 2018 acenou definitivamente para mudanças. Imersos em um contexto de escândalos nacionais de corrupção, de rejeição da população diante de políticos tradicionais e de erros estratégicos de campanha, o trio reconhece que perdeu protagonismo no Estado e agora tenta retomar seu espaço.

Mas enquanto no PT as estratégias de recuperação para 2020 já começam a ser postas em prática, lideranças do PSDB e do MDB apontam para a necessidade prioritária de realinhamento interno, a fim de fortalecer e unir as siglas.

Líder do PT, João Coser tem como foco eleger vereadores em 2020. “Estamos identificando 30 municípios em que o PT pode ganhar. Em pelo menos metade deles há condições para prefeitos. Sabemos que não vamos conseguir ficar de pé nos 78, mas mesmo onde não tiver prefeito, queremos vereadores”, entrega.

Em 2014, o PT elegeu três deputados estaduais (mas Rodrigo Coelho passou para o PDT) e dois federais. Hoje, o partido possui uma deputada estadual (Iriny Lopes), um deputado federal (Helder Salomão) e apenas um prefeito (Alencar Marim, de Barra de São Francisco).

Coser atribui a redução local de espaço do partido às questões nacionais. “Há uma campanha nacional contra o PT, ameaças de acabar com o partido. O PT pagou um preço muito alto porque tentam atrelar a ele todas as denúncias de corrupção, além dos ataques ao Lula. Isso vem desde o impeachment da Dilma”, diz.

Mas Coser aposta em uma guinada até 2024. Figura importante nesse processo será o deputado federal reeleito Helder Salomão, que hoje detém grande parte do capital eleitoral do PT. Helder avisa que sairá em campanha pelo Estado para apoiar correligionários, mas não descarta a chance de ele mesmo disputar a Prefeitura de Cariacica. “Estamos conversando”, adianta.

A UNIÃO FAZ A FORÇA

Entre os tucanos a preocupação é com a união. Max Filho, prefeito de Vila Velha, aponta o desgaste do PSDB estadual iniciado em 2017, quando o comando do diretório regional foi disputado entre ele e o atual presidente César Colnago, provocando um racha internamente.

“Perdemos muitos quadros com isso, como Luiz Paulo Vellozo Lucas (hoje no PPS). Alguns deputados (que eram do partido) se elegeram por outras legendas, como Luciano Machado (PV), Carlos Von (Avante), Sergio Majeski (PSB).”

Às perdas soma-se ainda a derrota de Ricardo Ferraço no Senado. Colnago, então vice-governador, por sua vez, não conseguiu uma cadeira de deputado federal. Atualmente, o PSDB capixaba possui três representantes na Assembleia Legislativa, 14 em prefeituras e nenhum na Câmara dos Deputados.

“Aqui no Espírito Santo, conseguimos aumentar nossa representatividade, formando a segunda maior bancada na Assembleia. Mas é necessário retomar o protagonismo. Nos próximos meses vamos realizar as convenções municipais e a estadual com o objetivo de unir e fortalecer o PSDB”, diz o presidente, que defende a renovação de lideranças, mas com “qualidade”.

Max vai pelo mesmo caminho. “Eu tenho pregado um consenso nas convenções. É preciso ter uma liderança que dialogue, seja militante e não se reúna apenas às vésperas da eleição para formar chapa.”

RUMOS DO MDB

Para além da derrota de Lelo Coimbra, que não se reelegeu deputado federal, o MDB amargou em 2018 a perda de um forte cabeça de chapa, quando Hartung decidiu não disputar o Palácio Anchieta e deixar o partido. Mas esse não foi o único problema.

“O MDB é um partido excepcional, mas o que aconteceu no Estado foi lamentável. Disputamos uma eleição puro-sangue. Se tivéssemos coligado, teríamos feito quatro, cinco deputados. Só fizemos dois”, critica o deputado estadual José Esmeraldo.

A sigla já teve sete deputados estaduais na legislatura anterior, depois passou para três e agora tem dois. Em 2016, quando Hartung, ainda no MDB, comandava o governo, elegeu 16 prefeitos.

Nos bastidores, o descontentamento com a atual gestão, de Lelo Coimbra, é grande, o que vem ameaçando a continuidade de sua liderança. Em junho, nas convenções, ele terá ao menos um concorrente declarado. Trata-se de Marcelino Fraga, que já presidiu a sigla. “O partido está muito desorganizado. Em 50% das cidades não há mais diretórios. Precisamos resgatar antigas lideranças e formar novos líderes também”, analisa.

O deputado estadual Hércules Silveira, que ensaia candidatura à Prefeitura de Vila Velha, concorda: “Estou no quarto mandato. Se não houver renovação o partido não cresce”. Lelo e o secretário-geral do MDB, Chico Donato, foram procurados pela reportagem, mas não deram retorno.

Após a publicação deste texto, Chico Donato entrou em contato. Ele afirma que o partido teve dificuldades para fazer coligações em nível estadual no ano passado pelo fato de ter deputados candidatos à reeleição, o que teria dificultado a adesão de outras legendas. No entanto, avalia o resultado do pleito como positivo. "Se a eleição não fosse matemática e sim por número de votos teríamos feito mais deputados. André Garcia, Luzia Toledo e Lucas Scaramussa foram bem votados, mas não foram eleitos", argumenta.

Para o próximo ano, o MDB focará na reeleição dos prefeitos e vereadores que já possui, mas também quer novas lideranças, segundo Donato. Para isso, o partido tem oferecido, inclusive, cursos para seus jovens filiados.

Sobre os comentários de que haveria insatisfação entre membros do partido sobre a atual gestão, ele defende seu trabalho e o de Lelo à frente da sigla. "Os números da nossa gestão são positivos. É natural quando você tem candidaturas que o contraditório fale. Mas estou dando números. Somos hoje o maior número de prefeitos, de vice-prefeitos e de vereadores. Isso não foi por caso. Isso é gestão".

VIDA POLÍTICA PODE SER SAÍDA PARA SIGLAS

De um lado, obstáculos impostos no cenário nacional com a explosão de denúncias por corrupção e a desconfiança do eleitorado diante da política tradicional. Do outro, equívocos estratégicos em nível local dentro e fora do período eleitoral. Esta é, para especialistas, a combinação que levou à desidratação de partidos de longa trajetória no Estado, como PT, PSDB e MDB. O caminho para a recuperação é tão longo quanto incerto e, agora, eles terão que disputar espaço lado a lado com as novas lideranças.

Em nível nacional, o cientista político Fernando Pignaton destaca primeiramente a perda de espaço de partidos de centro – a exemplo de PSDB e MDB – em função da polarização do pleito de 2018 entre o PT de Lula e de Fernando Haddad e o PSL de Jair Bolsonaro.

Mas lembra também que, ao final, o próprio PT saiu prejudicado. “No primeiro turno o PT centrou o discurso em Geraldo Alckmin (PSDB), não em Bolsonaro. Achou que atacando o centro democrático e a centro-esquerda ele se imporia como um dos polos e venceria, mas isso custou caro no segundo turno”, explica.

Tudo isso se reverbera no Estado, afirma Pignaton, assim como as denúncias e as condenações por corrupção alavancadas pela Operação Lava Jato, que também atingem esses partidos, minando a imagem de caciques e figuras tradicionais.

Por outro lado, a realidade local também se impõe como fator decisivo para as urnas. Pignaton lembra, por exemplo, o desgaste interno do PSDB estadual gerado após a disputa de comando entre Max Filho e César Colnago. Já no MDB, a saída de Paulo Hartung, que se desligou do partido, deixou uma lacuna de capital político para a sigla preencher. O PT, por sua vez, tem grande rejeição no Estado e também colhe frutos de gestões no Executivo municipal mal sucedidas.

“Lideranças como João Coser (ex-prefeito de Vitória) e Carlos Casteglione (ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim) foram derrotadas pelo descontentamento da população. Uma prova disso é que Helder Salomão, que teve uma gestão bastante razoável como prefeito de Cariacica, conseguiu se reeleger como deputado federal”, argumenta Pignaton.

VIDA ORGÂNICA

Para o doutorando em História Política das Ideias e professor da Universidade de Vila Velha (UVV) Rafael Simões o grande problema que é comum aos três partidos é que eles deixaram de ter vida política ativa no Espírito Santo, reunindo esforços apenas em torno dos interesses eleitorais. A consequência disso é a perda de legitimidade e de representatividade.

“Esses partidos não têm praticamente nenhuma vida orgânica aqui no Estado. Todos são marcados por lideranças muito personalizadas, que instrumentalizavam os partidos para seus interesses eleitorais”, critica.

O professor continua: “Como eles viviam apenas de ocupar estruturas de poder e o resultado foi ruim na última eleição (o MDB acabou não tendo candidato com a saída de Hartung; o PSDB, que iria junto com MDB também ficou sem candidato ao governo e o PT lançou uma candidata sem expressividade), esses partidos acabaram ficando muito desconjuntados”.

MUDAR É A SAÍDA

“A situação para eles é bastante complicada. Não sei se terão a capacidade de se reinventar para poder ter reconhecida alguma legitimidade por parte dos eleitores. Para isso, é preciso que eles se desliguem dessa percepção de corrupção por parte da sociedade e que tenham uma proposição ativa de políticas”, aponta Simões.

Para o professor, a saída para o fortalecimento dos partidos tradicionais está em enxergar as necessidades e acompanhar os rumos do próprio eleitorado. “Os eleitores estão demandando políticos mais próximos das pessoas. Políticos só de arranjos de gabinete não são bem-vistos”, conclui.

MDB

MUDANÇAS

Como era antes

Na legislatura anterior, o MDB chegou a ter sete deputados estaduais, depois passou para três. Em 2014, elegeu Lelo Coimbra a deputado federal.

Como é agora

Em 2018, o MDB elegeu dois deputados estaduais e nenhum federal. Em 2016, quando Hartung, ainda estava no MDB e comandava o governo, a sigla elegeu 16 prefeitos.

RETOMADA

Reestruturação

Fontes do partido indicam que há um descontentamento com a atual gestão de Lelo Coimbra. Nas convenções, em junho, o posto poderá ser disputado entre ele e Marcelino Fraga.

PSDB

MUDANÇAS

Como era antes

Em 2014 o PSDB elegeu Max Filho a deputado federal (mas ele se tornou prefeito em 2016) e dois deputados estaduais.

Como é agora

Em 2018, o partido elegeu três deputados estaduais, mas nenhum federal. Também não reelegeu Ricardo Ferraço ao Senado. A sigla possui 14 prefeitos.

RETOMADA

Alinhamento interno

Para recuperar seu espaço no Estado, lideranças do PSDB aguardam o período de convenção partidária para definir suas lideranças. O objetivo é unir o partido, que foi abalado em 2017 após Max Filho e César Colnago disputarem a presidência do diretório e provocarem um racha.

PT

MUDANÇAS

Como era antes

Em 2014, o PT elegeu três deputados estaduais (mas depois Rodrigo Coelho desfiliou-se e foi para o PDT) e dois deputados federais.

COMO É AGORA

Em 2018, o PT elegeu uma deputada estadual e um deputado federal. Desde as eleições de 2016 o partido possui apenas um prefeito no Estado.

RETOMADA

Eleições 2020

Para se reerguer, o PT investirá, principalmente, na eleição de vereadores em pelo menos 30 cidades. A expectativa é eleger prefeitos em metade delas.

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