O próprio site francês Mediapart, onde foram publicadas declarações distorcidas da repórter do 'Estadão' Constança Rezende, desmentiu na tarde desta segunda-feira, 11, em português, as acusações repercutidas pelo site Terça Livre e pelo presidente Jair Bolsonaro neste domingo. No Twitter, o portal francês disse se solidarizar com Constança.
As informações publicadas no club de Mediapart, que serviram de base para o tweet de Jair Bolsonaro, são falsas. O artigo é de responsabilidade do autor e o blog é independente da redação do jornal, diz a publicação.
A publicação original que acusou a repórter do Estado de tentar arruinar o governo de Jair Bolsonaro foi feita em um blog produzido por leitores do Mediapart. O texto, intitulado Para onde vai a imprensa?, foi publicado em uma seção do site chamada Le Club, uma espécie de fórum online no qual internautas podem manter blogs próprios.
O texto original é assinado por Jawad Rhalib, que se apresenta como autor, cineasta, documentarista e jornalista profissional. O blog de Rhalib tem sete postagens, que começaram a ser publicadas em dezembro de 2018. Qualquer assinante do site Mediapart pode participar da seção Le Club. A assinatura custa dois euros por semana. O Estado procurou contato com Rhalib por email e por telefone. Não houve resposta.
A publicação do site francês foi citada pelo portal bolsonarista Terça Livre para dar tom de veracidade à informação falsa de que a repórter do Estado Constança Rezende teria declarado, em uma conversa gravada. ter a intenção de arruinar Bolsonaro. Os áudios divulgados no blog mostram que a repórter não falou isso.
No texto Para onde vai a imprensa?, Rhalib escreve que pediu a uma fonte, um estudante de uma famosa universidade britânica focada neste tema para entrevistar Constança. O blogueiro escreve que, na gravação, a repórter teria revelado que a verdadeira motivação por trás da cobertura negativa da mídia é a de arruinar o presidente Jair Bolsonaro e causar sua demissão. A transcrição da entrevista, no entanto, não corrobora essa versão.
Rhalib também erra ao dizer que a divulgação dos documentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) por jornalistas seria ilegal. O artigo 5º da Constituição Federal assegura o acesso à informação e resguarda o sigilo de fontes, quando necessário ao exercício profissional.
Outro site que espalhou a história foi o jornal americano Washington Times. Assim como a publicação no site francês, trata-se de um artigo de opinião, assinado por L. Todd Wood. No texto, o articulista repercute a entrevista como se a repórter estivesse falando algo conspiratório contra Bolsonaro. Wood também já escreveu artigos sobre uma suposta agenda globalista e sobre mudanças climáticas, que descreve como um golpe perpetrado por comunistas.
O jornal, que existe desde 1982, coleciona uma série de polêmicas em suas coberturas, com viés sensacionalista e acusações de ser um espaço aberto para ideias racistas, por exemplo.
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