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Conflito entre Carlos Bolsonaro e Mourão ameaça desempenho do governo

Conflito entre Carlos Bolsonaro e Mourão ameaça desempenho do governo

Para especialistas pode estar em jogo, por exemplo, a capacidade de governabilidade do presidente Jair Bolsonaro (PSL)

Publicado em 25 de abril de 2019 às 00:42

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Carlos Bolsonaro é vereador do Rio de Janeiro e filho do presidente Jair Bolsonaro. (Youtube)

O Twitter se transformou em instrumento de artilharia do vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC) contra um único alvo, o vice-presidente da República Hamilton Mourão (PRTB). A queda de braço entre o filho e o substituto de Jair Bolsonaro (PSL) no Palácio do Planalto anuncia a instalação de mais uma crise interna no recente governo, mexendo diretamente com o núcleo de militares que cercam o presidente. O custo do desentendimento pode chegar à gestão, resultando não só em uma crise de confiança como também na perda de governabilidade.

Até agora já foram oito ataques diretos a Mourão, nos quais o vereador acusa o vice-presidente de adotar posicionamentos diferentes dos da presidência. Um dos exemplos listados foi a renúncia do ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), quando Mourão defendeu a permanência do parlamentar no país.

Carlos é defensor das ideias do filósofo autodidata Olavo de Carvalho, que há tempos dispara críticas contra Mourão. Os ataques do filho continuaram mesmo após Jair Bolsonaro, através de seu porta-voz Otávio do Rêgo Barros, pedir um ponto final naquilo que considera uma “pretensa discussão”.

RISCOS

“O presidente não consegue colocar limites no filho”, observa o cientista político da Mackenzie Rodrigo Prando. Segundo ele, a briga puxada por Carlos cria um desconforto entre os integrantes da ala militar, núcleo que tem sido um ponto de equilíbrio dentro de uma gestão atravessada por crises. Por isso, todo o esforço para a construção de um diálogo com lideranças políticas pode ser ameaçado.

ATÉ QUANDO?

Até agora Mourão tem se mantido neutro. “Quando um não quer dois não brigam”, declarou ele por duas vezes. Mas para Prando não se sabe até que ponto os ataques serão tolerados.

“Mourão e outros membros da alta cúpula são generais. Para ele isso é inviável, é uma quebra de hierarquia. O filho é um vereador do Rio, não tem cargo no governo e ainda toma conta das redes sociais da presidência. Mourão já disse que poderia processar Olavo de Carvalho. Ele também poderia mover uma ação jurídica contra o filho do presidente”, analisa o professor.

Prando ainda reflete: “No confronto entre Gustavo Bebianno (ex-chefe da Secretaria Geral da presidência) e Carlos Bolsonaro, o filho saiu vitorioso. Mas agora há uma diferença evidente: Não se pode demitir o vice-presidente, que tem a mesma legitimidade do presidente”.

GOVERNABILIDADE EM JOGO

Ao permitir que Carlos Bolsonaro endosse o conflito, Bolsonaro arrisca sua própria governabilidade, conforme avalia o cientista político Fernando Pignaton.

Ele sustenta que o governo vem mantendo uma espécie de “guerrilha ideológica” iniciada na campanha eleitoral. Agora, o alvo tornou-se Mourão, que vem assumindo uma postura moderada importante para o diálogo com outras bases no Congresso.

“Em vez de gestor, Bolsonaro mantém uma postura ideológica, da qual ele mesmo reclamava. Ele se descuida muito da formação de uma maioria”, pontua.

Apesar das avaliações negativas, o secretário especial para a Câmara Federal, Carlos Manato garante que a briga entre Carlos e Mourão é “pessoal”, não afetando as atividades do governo, do Congresso ou mesmo a imagem de Bolsonaro. “Ninguém tem falado disso. É coisa deles, melhor a gente deixar pra lá”, informou.

O QUE DIZEM OS PARLAMENTARES?

A opinião de Manato é compartilhada, por exemplo, pela deputada Soraya Manato (PSL). Mas outros deputados avaliam de forma diferente. “A disputa de poder e as guerras ideológicas prejudicam a democracia", declarou Felipe Rigoni (PSB).

O coordenador da bancada federal capixaba, Josias da Vitória (PPS), afirmou em nota: "O mandato de deputado federal consome bastante energia em torno dos debates, das demandas, das agendas. Não consigo compreender como sobra tempo para eles fazerem tantas críticas que não somam em nada. Precisamos juntar todo mundo para colocar o Brasil em um rumo melhor e discutir as pautas importantes para o país". 

Helder Salomão (PT) afirma que a briga é o reflexo de um governo despreparado. Ele lança uma hipótese: “A impressão que temos é que o governo cria essas crises para ganhar tempo em meio a tantos problemas”. O senador Fabiano Contarato (Rede) concorda que a briga enfraquece politicamente o governo.

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Ted Conti (PSB) defende que a questão seja resolvida no âmbito presidencial, mas adianta que, até o momento, ela não tem afetado a agenda do Congresso. Amaro Neto (PRB), por sua vez, não quis comentar as atitudes de Carlos Bolsonaro.

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