O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mandou exonerar nesta terça-feira (23),o chefe do Parque Nacional Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, Fernando Weber, vinculado ao Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). O Estado apurou que a exoneração deve ser publicada na quarta ou quinta-feira.
O ministro confirmou a decisão à reportagem. Questionado sobre as razões que levaram à demissão de Fernando Weber, disse apenas que cargo desconfiança é prerrogativa do Executivo escolher. Salles disse que já escolheu um sucessor para o cargo, mas não mencionou seu nome.
A demissão ocorre dez dias depois de Salles fazer uma reunião com ruralistas e produtores para discutir as limitações do parque gaúcho. Trata-se do segundo servidor que deixa o ICMBio após o encontro polêmico, ocorrido no dia 13. Dois dias depois da reunião, o presidente do órgão, Adalberto Eberhard, pediu exoneração do cargo.
Salles e Eberhard visitavam a região do Parque Nacional Lagoa do Peixe. Após ouvir queixas de pescadores e produtores locais sobre o ICMBio, o ministro pediu para que os funcionários do órgão se juntassem a ele na mesa. Não tem nenhum funcionário?, perguntou na sequência. Vocês vejam a diferença de atitude: está aqui o presidente do ICMBio que, embora seja um ambientalista histórico, uma pessoa respeitada no setor, veio aqui ouvir a opinião de todos vocês. E na presença do ministro do Meio Ambiente e do presidente do ICMBio, não há nenhum funcionário aqui.
Salles, então, anunciou a abertura de processo administrativo disciplinar contra todos os funcionários. A plateia aplaudiu com entusiasmo. Eberhard manteve-se em silêncio. No dia 15, foi até seu gabinete em Brasília, limpou as gavetas, despediu-se dos funcionários e entregou a carta de demissão ao ministro.
Funcionários relataram ao Estado que não foram ao evento com o ministro e o presidente do ICMBio simplesmente porque não haviam sido convocados para a cerimônia, que foi acompanhada por políticos gaúchos, além de representantes do agronegócio. Alguns servidores chegaram a ir ao evento, ao saberem que o ministro havia ameaçado puni-los pela ausência. O chefe do parque, Fernando Weber, que será exonerado, juntou-se à mesa, ao lado do ministro, mas não teve a chance de responder às críticas.
Procurado pelo Estado, Weber disse apenas que estava reunindo a equipe da unidade de conservação para dar as informações sobre a exoneração.
Críticas. Na semana passada, servidores federais da área ambiental divulgaram uma carta aberta à sociedade de repúdio às declarações e posturas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O ministro vem, reiteradamente, atacando e difamando o corpo de servidores do ICMBio através de publicações em redes sociais e de declarações na imprensa baseadas em impressões superficiais após visitas fortuitas a unidades de conservação onde não se dignou a dialogar com os servidores para se informar sobre a situação e sobre eventuais problemas e dificuldades, escrevem os servidores em carta assinada pela Associação Nacional de Servidores da Carreira de Meio Ambiente (Ascema Nacional).
No documento, os servidores também destacam o funcionamento do ICMBio, e lembram que o órgão, que gere 334 unidades de conservação em todo o País, tem 1.593 servidores um para cada 100 mil hectares de área protegida, dizem. Eles comparam que o serviço de parques dos EUA tem 1 servidor para cada 2 mil hectares de área protegida cada profissional brasileiro precisa cuidar de uma área 50 vezes maior que o seu par americano.
Reportagem do Estado mostrou, no fim de semana, que a área ambiental do governo Bolsonaro passa por um processo de militarização. Do alto escalão do Ministério do Meio Ambiente até as diretorias do Ibama e do ICMBio, postos-chave estão agora sob a tutela de oficiais das Forças Armadas e da Polícia Militar. A orientação dada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro e levada a cabo pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é a de acabar com o arcabouço ideológico no setor. Já são pelo menos 12 militares.
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